Abri a porta do guarda-roupa frustrada. Não tinha nada ali que prestasse. Agora, com a barriga maior, eu tinha perdido quase todas as roupas, restavam apenas as mais largas. Tive que dar o braço a torcer e concordar que Aninha estava certa, eu precisava de um guarda-roupa novo. Eduardo havia me dado um cartão de crédito que eu ainda não tinha usado, por vergonha.Era estranho depender dele. Eu ainda não estava acostumada com essa nova vida. Sem saber muito bem o que fazer, decidi apelar para alguém com mais experiência no mundo dos ricos e liguei para Fernanda.— Preciso de uma ajudinha — falei, meio sem graça.— Claro! O que você precisa?— Preciso comprar umas roupas novas e… não sei muito bem como fazer isso. Quero dizer, roupas que vocês compram, que não façam as pessoas me olharem estranho.— Adoro compras! — ela respondeu animada. — Também preciso comprar umas coisas novas. Passo aí depois do trabalho e te levo para os melhores lugares.Avisei Eduardo que sairia com Fernanda. Co

Senti Eduardo me segurar com firmeza, guiando-me até o sofá para que eu me sentasse.— Sofia, olha para mim. Você precisa se acalmar. Vou chamar um médico — disse ele, já pegando o celular e fazendo uma ligação.— Aqui, toma um pouco de água — Aninha também tentava me ajudar. Ela correu até a cozinha, trouxe um copo e me ofereceu.Mas eu tremia inteira. Era como se minha mente tivesse travado, incapaz de raciocinar. Minha mãe havia morrido no hospital, sozinha. E aquela solidão dela me cortava por dentro, o mundo tivesse sido cruel demais com ela e tudo era culpa da mulher que poderia ser a minha avó. Não lembro como, mas logo o médico chegou. Mediu minha pressão, estava normal, mas como eu estava muito agitada, receitou um calmante natural. Eduardo me levou para o quarto e se deitou comigo, puxando-me com cuidado para o seu peito.— Dorme um pouco. Eu vou ficar aqui — murmurou ele, enquanto eu ainda sentia as lágrimas escorrendo pelo rosto.Não sei quanto tempo dormi. Quando acordei

— O quão grave é? — perguntou Fernanda. — Muito mais do que imaginávamos. — Respirei fundo antes de continuar. — Não é apenas um rombo financeiro. O dinheiro vinha sendo desviado há algum tempo e ainda nem conseguimos dimensionar o tamanho da fraude. Mas tem algo pior, Fernanda. Muito pior. Foi feita uma denúncia de que uma de nossas filiais estaria servindo para lavagem de dinheiro.Ela empalideceu.— Lavagem de dinheiro? Eduardo, isso pode destruir a reputação da empresa. — Eu sei. — Apertei as têmporas, sentindo uma dor de cabeça começando. — Nossos advogados e o pessoal da auditoria estão investigando, mas se isso se confirmar, eu não sei se a empresa vai resistir. Além do escandalo, vamos perder negócios e com o rombo financeiro não temos dinheiro para manter tudo funcionando. O silêncio dela dizia mais do que qualquer palavra. Eu sentia nos olhos de Fernanda o reflexo do que poderia acontecer comigo, manchetes, investigações, talvez até um afastamento forçado. Não podia aleg

— Vem, eu quero sorvete! — disse Alice, me puxando pela mão. Ela tinha acordado empolgada. Era o meu aniversário, eu havia acabado de completar 21 anos, e tudo o que ela queria era passar o dia no parque. À noite, o plano era jantar em um restaurante.Arthur brincava de bola com Davi, acompanhado pela babá. A alegria deles preenchia o ar. Eduardo havia saído antes de eu acordar. Ele ainda tentava me blindar de tudo o que vinha acontecendo na empresa, e eu me esforçava para não insistir no assunto, pelo menos em casa, perto das crianças.Podiam pensar que eu era muito jovem para já estar grávida e, ainda assim, assumir a responsabilidade de mais três crianças. Mas, olhando para eles e para minha barriga cada vez maior, eu tinha certeza de que estava no lugar certo. Claro que ainda tinha meus objetivos, mas também tinha convicção de que seria capaz de realizar tudo o que quisesse junto com meus filhos e meu futuro marido.— O papai falou que vai comprar um bolo enorme! — contou Alice, t

— O que você está fazendo aqui? — a voz de Sandra soou ríspida assim que me viu na sala. Eu havia entrado sem avisar, e pela primeira vez não me importei em ser indelicada. — Onde está a Beatriz? — perguntei sem rodeios.Sandra me encarou com expressão de incredulidade, como se eu tivesse perdido o juízo. — Do que você está falando?Eu não confiava nela. Conhecia Beatriz desde criança, sempre a tratou como filha. Para Sandra, Beatriz era uma santa incompreendida, incapaz de cometer um erro. Não duvidava que fosse capaz de escondê-la, só para protegê-la.— Eu quero saber se você sabe onde a Beatriz está. — insisti. — Claro que não! Ficou louca, menina? — rebateu, a voz carregada de ironia. — Não mente para mim. Você acredita na inocência dela, acha que foi apenas “influenciada” pelo tal namorado bandido. Eu conheço como você pensa. Os olhos dela se arregalaram, mas eu não recuei. Eu estava cansada, exausta, com a gravidez e com o Eduardo preso. O medo que ela sempre me causara não