Avisei que precisava me arrumar, pois estava toda amassada por causa da viagem. Corri para o banheiro para tomar um banho, arrumar o cabelo e passar alguma coisa no rosto para parecer mais apresentável. Claro que era apenas um jantar comum em casa, mas a verdade é que eu estava sendo movida pelos olhos julgadores da minha sogra.Quando abri o guarda-roupa para vestir alguma coisa, percebi que Aninha tinha razão: eu precisava de roupas novas. Em seguida, me dei conta do quanto estava sendo boba e escolhi um vestido preto simples, de mangas e até os joelhos. Notei que tinha muitos vestidos pretos, quase todos básicos, com exceção de uns três que havia comprado em um brechó e que eram de marca.Quando desci, Eduardo e a mãe conversavam sobre a empresa. Apesar de Sandra nunca ter trabalhado, ela entendia de tudo. Pelo que percebi, sua opinião era considerada. Como eu fazia faculdade de Letras, não havia muito o que opinar naquele assunto, então fui até a cozinha, onde os gêmeos comiam um

— Você agora é minha mãe? Um dia, Alice me fez essa pergunta enquanto eu a ajudava a se vestir para ir à escola. Fiquei sem saber o que responder. Era uma questão delicada e complexa. Aos poucos, no dia a dia, eu estava assumindo o papel de madrasta das crianças. Eduardo tinha me dado autorização para comparecer às reuniões escolares, buscá-los e levá-los, e eu também estava sempre presente. Matilde, a babá que me substituiu quando fui embora, continuava trabalhando normalmente. Ainda assim, a presença constante fazia com que os dois entendessem qual era o meu papel na vida deles. Eu, porém, não tinha a pretensão de ser chamada de mãe, tinha medo de apagar a memória da mãe verdadeira.— Bem, meu amor… você teve uma mãe, e ela sempre será a sua mãe, que está no céu. Eu sou a madrasta, a sua mãe de coração. Aqui dentro, vocês são meus novos filhos — expliquei, acariciando o rosto de Alice.— Posso te chamar de mamãe? — perguntou Arthur, com os olhos empolgados. Naquele instante, pens

Quando abri os olhos, não entendi onde estava. Minha boca seca parecia colada. Fiquei olhando o teto, tentando situar minha mente. Meus braços pareciam pesados, e eu não conseguia me mexer direito.— Sofia, tudo bem. Você está no hospital, vou chamar a enfermeira — uma voz falou perto de mim. Eu não conseguia entender direito, minha cabeça parecia muito pesada.Ouvi barulho de portas e passos. Uma mulher entrou, mexendo em algo próximo, e se aproximou para falar comigo.— Tudo bem? Sente alguma dor? — perguntou.Balancei a cabeça, dizendo que não, mas sentia um desconforto do lado direito do corpo. Ainda assim, não consegui falar direito.— Vou te dar um pouco de água, só um golinho para molhar a boca. Pode ir bebendo aos poucos. Daqui a pouco sua mente vai ficar mais clara, não se preocupe — disse ela me dando água em um canundinho. Senti alguém pegar na minha mão. Era Eduardo, com o rosto cansado e o olhar de preocupação. Ele me ajudou a dar mais água e ficou ao meu lado. Aos pouco

— Eu já pensei em contratar um detetive, mas desisti — confessei a Eduardo, sentindo que estava na hora de revelar meus piores medos. — Depois que descobri onde minha mãe trabalhou e que ninguém sabia quem era meu pai, perdi a coragem. Conheci muitas crianças com histórias de famílias horríveis. No fundo, tenho medo de descobrir que ela veio parar nesta cidade porque algo ruim aconteceu… ou que ninguém sabe quem é meu pai por algum motivo desgraçado. Claro, também pode ter sido só um caso com um homem casado ou um namorado que não quis assumir responsabilidade.Eduardo me abraçou, tentando me confortar. A cada dia ficávamos mais próximos, mais íntimos, e eu sentia que nosso relacionamento amadurecia dia após dia. — Tudo bem, eu entendo. Mas, se você quiser, podemos contratar o melhor detetive. E, se não quiser, tudo bem também.— Vou pensar. Preciso me preparar melhor para o que vier a descobrir. Eu tenho uma foto dela aqui. A dona Maria a convidou para o casamento da filha e elas ti

Meu diretor financeiro havia me apresentado um relatório preocupante. Ele tinha percebido algumas discrepâncias sutis no faturamento. Poderia ser apenas um erro, mas havia uma forte suspeita de que alguém estava desviando dinheiro da empresa. Nos últimos tempos, parecia que uma maré de azar tinha se instalado: primeiro, o ataque à Sofia; depois, a saúde do José… e agora isso.— Me chamou? — perguntou minha irmã, colocando a cabeça para dentro da sala.Fiz um gesto para que entrasse.— Que cara é essa? Aconteceu alguma coisa? — Fernanda se sentou à minha frente.— O que vou dizer tem que ficar entre nós. Você não pode falar para ninguém, entendeu?— Entendi. O que está acontecendo, Eduardo?— O Samuel encontrou algumas discrepâncias nos números. Coisas sutis, mas suspeitas. Ele fez um relatório, não descartou a possibilidade de ser um erro, e está investigando. Achamos melhor manter isso em sigilo. Vou contratar uma empresa externa para fazer a auditoria, e tudo será feito em segredo.