Alguns dias se passaram desde o dia que Abigail começou a se lembrar das coisas com mais clareza.O quarto do hospital, antes carregado de tensão e medo, agora parecia irradiar um misto de tranquilidade e expectativa. Abigail ainda tinha momentos de fragilidade, mas cada sorriso, cada palavra dita com mais firmeza, era uma vitória silenciosa.Matheus vinha visitá-la todos os dias. Sentado ao lado da cama, conversavam sobre aulas, projetos da faculdade e memórias que faziam Abigail rir. A presença dele era constante, um apoio que ia além das palavras, uma âncora para a recuperação emocional dela.Marcos e Luiza permaneciam próximos, alternando-se em horários para não sobrecarregar Abigail, mas garantindo que ela nunca ficasse sozinha. Cada toque, cada gesto de cuidado era uma lembrança de que ela não estava apenas sendo cuidada fisicamente — estava sendo protegida e amada.Sérgio, no entanto, se recusava a sair do hospital. A cada dia, ele permanecia ao lado de Abigail, sentado discret

O carro entrou na garagem da casa com suavidade, e a porta se fechou atrás deles com um leve estalo. Por fora, Sérgio parecia finalmente relaxar, os ombros menos tensos, o semblante mais contido. Mas por dentro, cada músculo ainda vibrava com a raiva contida, o ódio que a pergunta do repórter havia despertado não desaparecera; apenas se recolhera, como uma serpente prestes a atacar de novo.Abigail, por sua vez, respirou fundo. O coração ainda palpitava, mas a sensação de estar finalmente em casa trouxe um alívio imediato. O peso da tensão do estacionamento começava a se dissipar, substituído por uma calma delicada, quase tímida. Ela se apoiou em Luiza enquanto caminhavam pelo corredor, observando os detalhes familiares que antes passavam despercebidos: o aroma suave da casa, o som distante do jardim sendo cuidado, o conforto silencioso de um espaço que lhe pertencia.— Chegamos! — disse Luiza, sorrindo para Abigail. — Finalmente, você está segura.— É… — murmurou Abigail, ainda tenta

Sérgio permaneceu ajoelhado ao lado de Abigail, sentindo o corpo dela tremer com cada soluço. Não disse nada. Apenas envolveu-a com os braços, apertando-a contra si de maneira protetora, como se pudesse, naquele gesto silencioso, afastar todo o medo e a dor que ela carregava. O choro dela ecoava pelo quarto, preenchendo o ar com uma melodia amarga que lhe perfurava o peito. Ele se sentia impotente, e essa sensação o esmagava mais do que qualquer outra.Ele não tentou consolá-la com palavras. Não havia consolo que chegasse a tempo. Apenas ficou ali, imóvel, respirando o mesmo ar que ela respirava, sentindo cada soluço vibrar através de sua própria pele. O mundo lá fora desapareceu. A única coisa que importava era aquele instante, aquele momento frágil em que Abigail se despia das máscaras e medos, entregando-se ao choro que guardara dentro de si por tanto tempo.Os minutos se arrastaram, e pouco a pouco o ritmo dos soluços diminuiu. O corpo dela relaxou nos braços dele, os tremores se

A manhã na casa de praia começou preguiçosa, com o som das ondas batendo de forma constante, como se marcassem o ritmo de um novo recomeço. O cheiro de café fresco se espalhava pela cozinha, misturado ao aroma de pão torrado que vinha da torradeira. Do lado de fora, o céu ainda apresentava tons suaves de azul e dourado, como se o dia tivesse acabado de nascer apenas para eles. O ar salgado e fresco entrava pelas janelas abertas, trazendo consigo a promessa de tranquilidade.Abigail desceu as escadas devagar, ainda com os cabelos soltos e úmidos do banho. O vestido leve de algodão se moldava de forma delicada ao corpo, acompanhando seus passos lentos. Havia um ar diferente nela — mais sereno, mais solto, como se a proximidade do mar tivesse dissolvido parte dos pesos que costumava carregar.Na cozinha, encontrou Luíza já sentada à mesa, rindo de alguma história exagerada que Marcos contava. Ele falava com as mãos, gesticulando com intensidade, tornando a narrativa ainda mais cômica. Sé

Dois dias se passaram desde a noite em que Olivia atravessou o caminho deles como uma sombra afiada. O episódio na loja ainda pairava no ar como uma nuvem carregada que não se dissipava. Sérgio e Abigail tentavam seguir uma rotina quase normal, mas a tensão entre os dois era perceptível em cada gesto. As conversas, antes leves, agora eram interrompidas por silêncios desconfortáveis, e os olhares trocados carregavam mais perguntas do que respostas.Marcos observava tudo de longe, atento, mas sem intervir de imediato. Conhecia bem demais o padrão: Sérgio se fechava em si mesmo, tentando manter Abigail distante da verdade, e a jovem sentia cada lacuna como uma ferida aberta. Ele sabia que essa estratégia não se sustentaria por muito tempo.Naquela manhã, o sol nasceu intenso sobre a praia, dourando as ondas que se quebravam com força contra as pedras. A brisa quente contrastava com o clima carregado dentro da casa. Marcos estava sentado na varanda, uma xícara de café forte nas mãos, quan