LucasA escolha do restaurante foi estratégica. Discreta o suficiente para manter os olhos curiosos afastados, mas sofisticada o bastante para impressionar os coreanos. Era um lugar onde nada podia dar errado. Até que deu.Entramos e o maître nos reconheceu de imediato. Mesa reservada. Área privativa. Vista elegante.Mas antes de chegarmos ao espaço reservado, algo me paralisou. Ou melhor, alguém.Ela. Angel.Sentada em uma das mesas centrais, como se pertencesse àquele lugar. Como se pertencesse a qualquer lugar, menos ao meu controle.Rindo. Com ele. Tony.O publicitário despretensioso, de camisa dobrada até o antebraço e sorriso fácil. Um cara que ela conhece há anos, estudaram juntos, mas que é daqueles que vivem em roda de bar, com a autoconfiança dos que nunca tiveram que se provar pra ninguém. E agora ele estava ali, ocupando um espaço que nunca deveria ter sido dele.Meu maxilar travou. O sangue subiu quente.Angel girou o rosto e me viu. Sorriso congelado. Olhar fixo. Mas não

Lucas Minha mão queimava onde tocava a cintura dela, o tecido fino do vestido quase inexistente sob meus dedos. Angel não recuou - pelo contrário, arqueou as costas levemente, pressionando-se contra minha palma.— Então é assim que você pega a chave? — provocou, o hálito quente no meu queixo.Meus dedos se apertaram involuntariamente no tecido.— Você sabe exatamente o que está fazendo — acusei, a voz mais rouca do que eu gostaria.— E você sabe que não vai resistir.Ela estava certa. Maldição, ela sempre esteve certa. E a audácia dela me desmontava. Me incendiava.

Angel O motor do Audi roncou quando dei a partida, minhas mãos apertando o volante com mais força do que o necessário. Pela janela, ainda conseguia ver a silhueta de Lucas parada na calçada do café, observando nossa partida.— Que cara de bunda — Joana comentou no banco do passageiro, mascando chiclete. — Parece que eu estou vendo o Batman sem capa.— O Batman pelo menos tem personalidade — resmunguei, acelerando bruscamente.Marcela, no banco de trás, inclinou-se para frente.— Você tá mesmo brava porque ele veio te buscar ou porque ele não confia em você?Meus de

AngelSubi o elevador com o crachá novo pendurado no pescoço e o coração batendo forte como se fosse o primeiro dia de aula — e de certa forma, era.Não havia mais Carolina me esperando com planilhas maquiadas e sorriso falso. Agora era outro andar, outra área, outro universo.Marketing.Pela primeira vez desde que tudo desabou, a carta, os gritos, a confusão da identidade, eu sentia algo diferente no peito. Era curiosidade.A porta do elevador deslizou para o lado e, no instante em que eu pisei no carpete cinza-ardósia, fui envolvida por uma atmosfera totalmente diferente: paredes cruas de cimento queimado pontilhadas por quadros de arte contemporânea, luminárias que pingavam luz amarelada e uma playlist de jazz suave que pairava no ar. O clique dos meus sapatos ecoou pelo corredor até que três pares de olhos se fixaram em mim, quase em sincronia.O primeiro que se aproximou foi um homem alto, com ombros largos que preenchiam perfeitamente o terno azul-marinho. Seu sorriso era fácil

LucasFazia dias que Angel não cruzava meu caminho como antes. Não aparecia no corredor bufando, não me desafiava no elevador, não me testava com frases afiadas enquanto tomava café.Ela estava ocupada demais. No Marketing. No mundo novo dela. Com ele.Igor.Ela estava diferente. Mais centrada. Mais viva. E isso me corroía por dentro, porque eu devia estar feliz. Mas não conseguia. Porque parte de mim não confiava em Igor. E a outra parte… não confiava em mim mesmo quando o assunto era Angel.Esses pensamentos me atormentavam enquanto a reunião com Leonardo e Iolanda seguia no mesmo tom de sempre: números, expansão, relatórios. Eu mantinha minha postura, meus comentários pontuais, o rosto neutro.Até que Iolanda se inclinou para trás na cadeira e, com a voz mais baixa do que o normal, perguntou:— E Angel? — O que tem ela? — Leonardo respondeu, sem disfarçar a impaciência.— Não arrumou confusão ainda?O silêncio que se seguiu foi mais alto que qualquer briga. Leonardo largou a canet