Os dias que se seguiram ao convite de Miguel passaram mais rápidos do que Eloise gostaria. Entre gravações, revisões de roteiro e pequenos momentos, ela quase conseguiu esquecer o modo estranho como o pai entregara aquele cartão preto. Quase. De vez em quando, ela se perguntava o que estava acontecendo e se deveria ter esperança.Na tarde da festa, Jason fechou o laptop e foi até o quarto, onde Eloise experimentava pela terceira vez o vestido escolhido para a ocasião. Ele parou à porta, cruzando os braços, com um meio sorriso nos lábios.— Se a ideia era eu esquecer como se respira, está funcionando — comentou, fazendo-a rir.— Bobo — disse ela, ajeitando o tecido preto no espelho. — Está muito chamativo?— Está perfeito — respondeu ele, aproximando-se para arrumar a faixa na cintura dela. — E combina com o que eu vou usar.Jason tinha optado por um terno preto também e camisa branca aberta no colarinho. Atingindo a impressionante façanha de parecer elegante e despojado ao mesmo tempo

— Acho que vi Jason indo para a entrada da casa — disse, modulando a voz para parecer casual. — Camila estava com ele… talvez tenha pedido que ele a acompanhasse até o carro. Sabe como é, às vezes essas modelos bebem demais nas festas, podem ter medo de atravessar o jardim sozinhas.Eloise agradeceu, mesmo com o estômago revirando. Ajeitou a bolsa no ombro e caminhou até a porta de vidro que dava para o pátio externo. O ar da noite bateu em seu rosto, frio o suficiente para fazê-la estremecer. Varreu o jardim com os olhos: nada. Nem Jason, nem Camila.Pegou o celular para ligar para ele e percebeu que o aparelho dele estava no fundo de sua própria bolsa, ele o deixara com ela antes de entrarem na festa.Suspirou, tentando afastar o desconforto. Talvez tivesse havido algum mal-entendido, talvez Jason apenas estivesse ajudando Camila a encontrar um carro de aplicativo. Ainda assim, ficou parada perto da entrada lateral, observando cada carro que passava pela rua silenciosa. O vento fazi

O relógio marcava pouco depois das onze da manhã quando Jason serviu mais um dedo de uísque no copo baixo. A luz que entrava pelas cortinas semiabertas denunciava um dia bonito lá fora, mas nada no apartamento parecia acompanhar aquela atmosfera. A mesa estava coberta de papéis, um laptop aberto com várias abas sobrepostas e um celular que não parava de vibrar com notificações que ele ignorava.Dois dias haviam se passado desde que Eloise lhe pedira para sair. Jason ainda sentia o frio na barriga que viera quando ela lhe mostrara as fotos que o pintavam como um homem infiel. Por mais que tivesse repetido para si mesmo que aquilo era uma armação, era impossível não se sentir esmagado pelo fato de que Eloise as tinha visto primeiro, antes de ouvir qualquer explicação.Ele bebericou o uísque, fechou os olhos por um instante e tentou pensar com clareza. Phillip tentava ajudar nos Estados Unidos, e o segurança que ele contratara para proteger Eloise enviava pequenos relatórios diários: os

O estacionamento do estúdio estava quase vazio quando Jason chegou. O calor do meio-dia cintilava no asfalto, mas ele mal notou. O que importava era o estojo preso entre os dedos, como se fosse uma peça de cristal que pudesse se despedaçar com um gesto em falso. Cada passo que dava o aproximava do que mais temia e mais desejava: encarar Eloise com a verdade.Dentro do prédio, o corredor estava silencioso. Pelos vidros, ele viu parte do set: câmeras montadas, refletores desligados, alguns técnicos conversando baixo enquanto mexiam em cabos. Uma assistente passou apressada, cumprimentou-o com um aceno automático e seguiu. Jason perguntou onde Eloise estava e ela respondeu que ela tinha saído para almoçar no jardim lateral.Jason atravessou as portas duplas. O ar fresco o atingiu de imediato, junto ao cheiro de grama recém-cortada. À sombra de uma árvore, Eloise estava sentada diante de uma pequena mesa branca, mexendo no celular. À frente dela havia uma garrafa d’água e um sanduíche int

O escritório improvisado de Miguel estava mergulhado em meia-luz quando a mensagem chegou. Ele estava recostado na poltrona, os dedos tamborilando no braço de couro, enquanto Jonas examinava alguns papéis sobre a mesa. O celular vibrou, exibindo uma notificação do vigia que ficava de olho no prédio de Eloise.Miguel franziu o cenho antes de abrir a mensagem. Bastou ler a primeira linha para sentir um arrepio de irritação percorrer-lhe a nuca.— O que foi? — perguntou Jonas, notando o olhar sombrio do cúmplice.Miguel girou o celular para ele, mostrando a tela.“Esta tarde vi Jason Kingsley entrando no prédio com malas. Parece que voltou para ficar.”Jonas arregalou os olhos, o rosto se contraindo de raiva. Ele pegou uma caneca que estava sobre a mesa e a arremessou contra a parede. O barulho seco ecoou pela sala, seguido pelo estilhaço de porcelana.— Maldito seja esse cara! — rugiu, com os punhos fechados. — O que foi que ele fez para convencê-la?Miguel permaneceu sentado, embora o