UM ANO DEPOIS A cafeteria estava lotada, era um lugar cheio e vibrante, de risadas, vozes misturadas, crianças correndo, o aroma do café fresco e das sobremesas recém-saídas do forno. A terceira unidade da rede de cafeterias finalmente estava aberta, e o brilho nos olhos de Eduardo denunciava o orgulho que sentia. Ele olhava em volta como quem ainda não acreditava que aquela ideia tinha ganhado corpo e crescido tão rápido. Ao seu lado, Jinx cumprimentava clientes, posava para fotos com amigos e conhecidos, e ainda encontrava tempo para ajeitar o cabelo de Noah, que se encolhia um pouco envergonhado com tanta movimentação. — Vocês dois serão donos de uma multinacional — Phillip brincou, erguendo a taça de espumante para brindar com o irmão enquanto abraçava Katherine pela cintura. — Daqui a pouco vão dominar o mundo. — Um passo de cada vez — Eduardo respondeu, com um sorriso calmo, mas orgulhoso. — Três já está de bom tamanho. — Até o próximo ano — Phillip completou, piscando. — E

Eloise respirou fundo assim que deixou a cafeteria para trás. O ar da rua era menos carregado do que o ambiente que acabara de abandonar, mas a sensação de algo inacabado ainda latejava dentro dela. Jason havia ficado com um olhar que ela preferiu não decifrar. Não queria. Havia trabalho demais, compromissos demais, para permitir que seus pensamentos se embaralhassem com algo que não podia controlar. Já tinha deixado essa ideia de lado e decidido que eles dois não serviam um para o outro, esse trabalho seria uma boa oportunidade para esquecer aquela paixão.Sacudiu a cabeça, afastando qualquer sombra de emoção, e seguiu em frente. Logo encontrou Walter estacionado na esquina, dentro do carro prateado que brilhava sob o sol do meio-dia.Ele abriu a janela, com o mesmo sorriso radiante de sempre.— Demorou, hein?— Atraso de gravação. — Eloise deu de ombros, abrindo a porta do passageiro.Walter inclinou-se para destravar, e ela entrou, acomodando-se no banco. Assim que colocou o cinto,

O aeroporto estava tomado por vozes apressadas, malas rodando pelo chão e anúncios mecânicos ecoando pelos alto-falantes. Eloise segurava sua passagem com força, como se o papel fosse capaz de ancorá-la diante da sensação de estar prestes a deixar para trás não apenas um país, mas um pedaço da vida que conhecia. Estava acostumada a viagens, mas era a primeira vez que moraria fora. Katherine estava ao seu lado, com os olhos marejados, tentando sorrir apesar do nó na garganta. Walter e Lucas também haviam vindo se despedir. Jinx não pôde aparecer, estava em lua de mel com Eduardo, mas Eloise entendia e se despediram antes dela viajar.— Você tem certeza que não quer desistir de última hora? — Katherine perguntou, meio séria, meio em tom de brincadeira.Eloise riu baixo, apertando as mãos dela.— Se eu desistisse agora, você ficaria brava comigo.— Ficaria mesmo. — Katherine a abraçou forte, o perfume doce grudando em suas roupas. — Mas eu também ficaria feliz.Eloise fechou os olhos por

O dia seguinte amanheceu frio e cinzento em Vancouver. Eloise acordou com o barulho do trânsito abafado pelas janelas do apartamento moderno que a produção havia alugado para ela. O encontro com Jonas na noite anterior parecia um pesadelo mal resolvido, mas as marcas no braço, onde ele a segurara com força, eram prova de que tinha sido real.Respirou fundo diante do espelho, repetindo para si mesma que aquilo não mudaria nada. O passado não teria o poder de sabotar o seu presente.Horas depois, o táxi a deixou na frente do enorme estúdio onde a maior parte da série seria filmada. O letreiro prateado refletia o céu nublado e os portões se abriam para dar passagem a vans e caminhões carregados de equipamentos. Eloise ajeitou o casaco, passou a bolsa no ombro e entrou com o crachá provisório que havia recebido.Não havia câmeras gravando ainda, apenas cenários sendo montados. O cheiro de madeira recém-cortada e tinta fresca se misturava ao café que circulava em copos de papel. Técnicos,

A manhã estava pesada em Vancouver, com nuvens cinzentas cobrindo o céu e uma garoa fina que parecia insistir em cair mesmo quando ninguém esperava. Eloise acordou cedo, mas o sono não lhe dera descanso. O celular vibrou com a notificação de uma mensagem de um número oficial avisando que Jonas havia sido solto.Ela leu e releu aquelas palavras, com as mãos tremendo. Apesar da ordem de restrição, sentiu como se as paredes ao redor estivessem encolhendo.— Ele vai voltar... — murmurou para si mesma, o coração acelerado.Tentou acalmar-se. Tomou café, revisou falas, ensaiou mentalmente. Mas a inquietação não a largava.Depois de se preparar seguiu para o estúdio, as gravações começaram de fato naquela manhã. As câmeras ligadas, a equipe animada, diretores dando instruções. Eloise vestiu o figurino e se concentrou na cena, mergulhando na personagem como sempre fazia. Era seu porto seguro.Interpretar era como colocar uma máscara protetora e enquanto atuava, Jonas não existia, nem o medo,