Dilan Ricci Seu cheiro era doce e selvagem ao mesmo tempo. Um perfume que misturava luxúria com um perigo silencioso, como se me avisasse, sem palavras , que aquilo tudo não deveria estar acontecendo. Mas aconteceu. E agora eu estava preso. Não só à mentira. Não só à identidade que não era minha. Mas a ela, a Jullia. Abri os olhos novamente, tentando manter os pensamentos em ordem. Mas nada ali fazia sentido. Ela se mexeu, virando-se de lado, puxando o lençol para cobrir o corpo nu. Um gesto quase inocente, depois de tudo que fizemos naquela cama. Sorri com amargura. Meu coração batia forte, como se tivesse pulado de um precipício e ainda estivesse caindo. Eu queria me levantar. Vestir minha máscara de novo. Ser Diogo. Fingir que nada tinha acontecido. Mas não conseguia. Porque com ela, eu tinha sido Dilan. Eu tinha sido eu. Mas a pergunta que latejava como um punhal no fundo da minha mente era simples e cruel: E quando ela souber? Quando ela descobrir que o homem

JulliaHoras depois... A tarde estava fria, o céu parecia pesar sobre os telhados como uma cortina de chumbo. Eu havia pedido que ele me encontrasse em um café discreto no centro da cidade, um lugar onde turistas raramente passavam e onde os olhares não ficavam por muito tempo sobre ninguém. Escolhi a mesa mais afastada. A que dava visão completa da porta e das janelas. Velhos hábitos. Desconfiar de tudo. Antecipar riscos. É isso que nos mantém vivos quando estamos cercados de inimigos. Ele chegou cinco minutos depois, com o mesmo ar contido de sempre. A barba por fazer, o casaco surrado, a aparência de alguém comum demais para levantar suspeitas. Mas por trás daquele olhar tranquilo, havia a mesma sede de justiça que queimava em mim. — Você está linda — ele disse, puxando a cadeira à minha frente. — E com esse olhar mais perigosa do que nunca. Sorri de leve. — E você está atrasado. — Cinco minutos. Achei que me perdoaria por isso. — Ainda não decidi quem merece perdão nest

Bella RicciEle estava vestido de forma impecável, como sempre fazia questão de manter enquanto fingia ser o irmão. Blazer escuro, camisa branca, sem gravata. A postura dele era quase perfeita, mas só eu sabia notar os pequenos detalhes. A forma como ele passava a mão pelos cabelos com mais frequência quando estava nervoso, o jeito que os olhos dele perdiam o foco por um segundo quando minha mãe fazia perguntas demais.Me sentei ao lado dele, como se fosse a coisa mais natural do mundo.— Que bom que chegou, Bella! — Minha mãe disse, com aquele entusiasmo típico. — A confeiteira trouxe sete tipos diferentes de bolos! Precisamos escolher o melhor para o grande dia!Grande dia, pensei, tentando não rir da ironia. Se ela soubesse o tamanho da confusão que a gente estava vivendo, e eu como sentia meu coração apertar por não estar do lado do Diogo, eu estava com saudades dele e precisava urgentemente vê-lo.Dilan virou o rosto para mim, sorrindo de canto. Um sorriso cúmplice. O tipo de sor

Diogo Ricci Meu telefone vibrou. Uma mensagem de Jack. “Quinze minutos e eu estou de volta." Devolvi o celular à mesa ao lado da cama e me ajeitei, tentando me levantar com cuidado. O corte recente na lateral da barriga ainda latejava, mas a dor era um lembrete de que eu estava vivo e de que tinha muita coisa pendente para resolver. Escutei a maçaneta girando. Sorri de canto. — Você foi rápido, Jack… — comecei a dizer, ainda olhando para o chão enquanto calçava os chinelos. Mas quando ergui o olha, eu congelei. Não era o Jack. Era ela, a Bella. Ela entrou com aquele jeito determinado, o queixo erguido, os olhos me encarando como se soubesse exatamente o quanto me desconcertava, mesmo que eu nunca dissesse isso em voz alta. — Eu não fui tão rápida assim.— ela disse, fechando a porta atrás de si. — Mas hoje você sai desse hospital. Já ficou tempo demais deitado e no Brasil. Ela vestia um vestido simples, verde-escuro, que realçava o tom da pele dela. Os cabelos est

Diogo Ricci O caminho até o galpão que o Jack alugou, no Brasil, parecia ser mais longo do que deveria. Ou talvez fosse só a raiva latejando em cada célula do meu corpo, distorcendo minha percepção de tempo e espaço. A cada esquina que o carro virava, eu sentia meus punhos se fecharem mais. Jack dirigia em silêncio, como sempre fazia quando me via assim, prestes a explodir. Não precisava de palavras. Ele sabia que, naquele momento, qualquer tentativa de conversa seria inútil. Meu olhar permanecia fixo na janela, mas minha mente estava a quilômetros dali. Presa nas imagens que me atormentavam desde o momento em que descobri a verdade.Passei anos acreditando que meu irmão estava morto. longos anos, vendo o olhar vazio da minha mãe, o silêncio sufocante do meu pai, o peso insuportável de um luto que nos destruiu por dentro.E tudo por culpa dela. Clara. Fechei os olhos por um segundo, respirando fundo, tentando controlar o impulso de descer do carro ainda em movimento e chega