HoopDois dias se passaram…Eu senti um arrepio estranho naquela manhã. Como se algo me puxasse para longe do que me fazia bem. Connor estava distante, ocupado demais com reuniões e estratégias. Blanca, como sempre, tentava ser útil demais. Amável demais. Mas seus olhos nunca me enganaram. Por trás da doçura fingida, havia algo sombrio. Algo que me dava nojo.— Você está pálida — ela comentou, me entregando um chá morno. — Deve descansar um pouco. Connor pediu para você esperá-lo no salão velho da estufa, daqui a trinta minutos. Disse querer te mostrar algo.Assenti com um nó na garganta. O vínculo ainda me parecia confuso, mas meu coração teimava em querer acreditar nele.Caminhei até o lugar indicado, com o coração descompassado. E foi ali… foi ali que tudo desabou.A cena diante de mim destruiu qualquer esperança.Connor estava… com Blanca. Os dois muito próximos. Ela segurava o rosto dele. E, então… ela o beijou.— Não… — sussurrei, sentindo minhas pernas fraquejarem. O mundo gira

BlancaO cômodo cheirava a madeira antiga e segredos velhos demais para serem confiáveis. As cortinas pesadas, sempre fechadas, deixavam o ambiente mergulhado em sombras, como se o próprio cômodo respirasse escuridão. Ninguém podia entrar ali, ninguém além de Morgana. Era o refúgio da bruxa, o santuário de tudo o que ela não queria que o mundo visse. Mas agora, ela estava distraída… Distraída com a sua nova bonequinha. Hoop.O nome dela era um soco na minha mente, uma lâmina que cortava por dentro. A “escolhida”, como todos cochichavam. A loba que virou a profecia, a amaldiçoada, a frágil e quebrada Hoop… mesmo assim, adorada.Connor não via ninguém além dela. Esse vínculo o cegou de tudo e todos. Seu mundo girava entorno dela. Tudo para ela.Meus dedos suavam quando abri a porta. Ela rangeu. Meu coração disparava, mas o medo não era nada comparado ao ódio fervente que eu sentia. Vasculhei as estantes como uma louca. Livros de capa dura, cheirando a podridão e mofo, repousavam ali

 HoopO sol estava baixo no horizonte, tingindo o céu com tons dourados e alaranjados. Aquele brilho suave parecia querer prolongar o momento, como se o próprio dia não quisesse acabar. Eu desejava o mesmo.Meu pai se levantou do banco da varanda, ajeitou a espada na cintura e respirou fundo. — Filha… eu preciso ir, o caminho é longo. — Sua voz era firme, mas os olhos diziam o contrário.Assenti, mesmo que cada parte de mim gritasse para que ele ficasse. Eu sabia que ele precisava voltar para a alcateia. A liderança exigia sua presença, e ele já havia estendido demais a estadia aqui na cidade humana. Mas saber disso não tornava a partida menos dolorosa.— Eu… — A garganta fechou antes que eu pudesse terminar a frase. Senti meus olhos arderem. — Pegou o lanche que eu e Meg preparamos para vocês? &mda

Alta Bruxa - GhiollO círculo de velas negras crepitava ao meu redor, cada chama azulada tremendo como se sentisse o peso das palavras que estavam para ser ditas. A fumaça se elevava em espirais preguiçosas, carregando o cheiro de ervas queimadas e sangue seco. No altar de pedra diante de mim, repousava o livro proibido, a capa feita de pele de dragão e as páginas de um pergaminho tão antigo que parecia respirar com a sala.Passei os dedos sobre as letras quase apagadas. Cada símbolo gravado ali era um lembrete da afronta da Deusa, o dia em que ela ousou plantar uma semente de esperança entre os mortais.— “Quando a Filha da Lua e o Lobo da Luz se unirem, o mundo renascerá…” — murmurei, sentindo o peso da frase escorrer pela minha língua como veneno. — “… e o equilíbrio retornará às raças.”O silêncio foi imediato. Eu podia sentir os olhos das outras sobre mim, inquietos, mas não havia nada que eu precisasse explicar. Todas sabiam. Todas odiavam. A deusa da lua não tinha o direito de

HoopDesde a oração no almoço, algo ficou martelando na minha cabeça.Marluce havia dito coisas bonitas, sobre união e corações alinhados, mas… eu ainda não sabia em que lado ela realmente estava. E, se aprendi alguma coisa nessa vida, é que palavras bonitas podem esconder intenções perigosas.Enquanto todos se dispersavam, eu fiquei na sala, fingindo arrumar a mesa. Connor trocou um olhar rápido comigo, mas não perguntou nada. Talvez tenha sentido que isso era algo que eu precisava fazer sozinha.Encontrei Marluce na cozinha, guardando ervas secas em potes de vidro. — Precisamos conversar.Ela me olhou por cima do ombro.— Sobre o quê?— Sobre você. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Sobre de que lado está.Ela parou o que estava fazendo e me encarou.— Hoop… eu estou do lado de vocês.— Isso é fácil de dizer — retruquei. — Mas não é isso que quero saber. Quero saber se, quando as coisas ficarem feias, você vai continuar do nosso lado… ou se vai desaparecer.Marluce e