EgohenA fogueira iluminava o rosto de todos com um tom alaranjado, quase mágico. O cheiro de madeira queimada, Connor sempre gostou de fazer fogueiras em nossa alcateia, e achei muito fofo trazer para a nova alcateia dele, mesmo aqui, no meio das tecnologias e humanos, ele quer algo nosso. O riso de Meg e Hoop enchiam o ar, era bonito ver a união delas. Mas, para mim, tudo parecia distante. Eu só conseguia pensar em Erik.Ele estava sentado perto de mim, os olhos fixos no fogo, mas eu sabia que estava tão inquieto quanto eu. O vínculo que nos unia era novo, mas já tão forte que doía guardá-lo em silêncio. Meu coração batia acelerado, como se pressentisse o que estava por vir.De repente, ele se virou para mim. O brilho em seus olhos me fez prender a respiração.— Acho que já passou da hora de dizer isso… — ele murmur

HoopChegamos à casa de Marluce quase arrastados. Eu Connor apoiava como podia, com a ajuda de Hand, sentindo o peso do corpo dele cada vez mais frágil contra o meu. Erick se ofereceu várias vezes para me ajudar e carregar Connor com Hand, mas não permiti.Connor estava cada vez mais pálido, os olhos semicerrados, e mesmo assim ainda tentava me proteger, como se fosse eu a ferida.— Aguenta só mais um pouco… — murmurei, ofegante, apertando sua mão.Assim que cruzamos a porta de Marluce, o cheiro de ervas queimadas e resinas doces tomou meus pulmões. Marluce apareceu correndo, e seus olhos se arregalaram ao ver o estado dele.— Coloquem-no aqui! — ordenou, indicando a mesa da cozinha, como da última vez.Connor não resistiu mais. Assim que seu corpo tocou a madeira fria, ele desabou, inconsciente. O pânico me tomou inteira.— Não! — agarrei sua camisa, sacudindo-o, mas ele não reagiu.Marluce se pôs ao meu lado, já examinando o ferimento. Retirou as ataduras improvisadas e suspirou, gr

HoopConnor já estava melhor, mas ainda não podia participar dos treinamentos. Hoje amanheceu mais frio que os outros dias, o sol mal passava pelas árvores da floresta sombria, projetando sombras leves no quintal de Marluce. Nossa, às vezes paro para pensar em como minha vida mudou drasticamente em poucos meses… De uma vida feliz, passei para um pesadelo, mas que aos poucos vai melhorando com a ajuda de meus amigos e meu novo parceiro. Outro ponto surreal, meu novo parceiro e amor da minha vida, é simplesmente o filho do maior inimigo do meu pai.Para Hand, o ar frio da manhã parecia bom demais para se desperdiçar, e insisti que preciso treinar. Ele diz que, mesmo sem minha loba, meu corpo ainda pode ser forte, rápido e preparado para qualquer batalha. Quero acreditar nisso, então me obrigo a desgrudar de Connor e vou treinar.E aqui estou eu, segurando firme no bastão de madeira que ele improvisou. Respiro fundo. Hand assumia uma postura firme, como um verdadeiro mestre.— Vamos, Ho

HandO gosto de sangue já estava na minha boca antes mesmo de o primeiro golpe cair. O rugido dos guerreiros atrás de mim era como um trovão, e eu sabia que, se eu fraquejasse, todos ruiriam comigo. Não havia espaço para o medo e o erro.‘Foco que vamos ganhar essa. Mantenham a linha de frente.’ meu lobo diz pelo elo mental.— Segurem a linha! — gritei, avançando com a espada erguida. O impacto foi imediato: lobos negros se chocaram contra nós com a fúria de uma tempestade.Cada golpe que eu dava era certeiro, não porque eu fosse perfeito, mas porque sabia que atrás de mim havia pessoas que viraram minha família, que contavam com minha força. Eu não podia vacilar. Cortei o flanco de um lobo, desviei de outro, e quando um terceiro tentou me derrubar, cravei-lhe a lâmina até o fim.Senti o ardor de garras rasgando meu braço, mas não parei. Sangue escorria, quente, mas era insignificante diante do que estava em jogo.— Mantenham-se firmes! Eles querem nos dispersar! — rugi, erguendo a es

HoopFoi então que vi. A faca, caída no chão ao lado, brilha entre os cacos de vidro e sangue.Em um impulso desesperado, minha mão se estendeu, os dedos cortados pelos cacos, mas não soltei. Segurei a lâmina com força e, quando Blanca se moveu para o ataque, cravei a faca em seu peito.O grito que ela deu não era humano, nem animal. Era o som de uma alma se partindo.O peso dela caiu sobre mim, quente, sufocante. O sangue escorria pela minha pele, queimando como fogo. Por um instante, vi os olhos dela perderem a fúria e se encherem de um vazio silencioso.— Connor… — ela sussurrou, antes de tombar sem vida.Empurrei seu corpo com esforço, arfando, minhas mãos sujas de sangue, o coração disparado. Minhas pernas e mãos tremiam, mas me forcei a ficar de pé.Olhei para o corpo imóvel de Blanca, voltando a ser a mulher que me perseguiu, que tentou roubar o homem que eu amava, mas agora jazia derrotada. Eu deveria sentir vitória, alívio. Mas tudo o que senti foi um vazio amargo.Lágrimas e