A dor se intensificou novamente, e eu senti uma pressão tão forte que pensei que fosse me despedaçar. Meu corpo estava lutando contra a natureza daquilo, tentando empurrar algo que eu não sabia como suportar. Max estava ao meu lado, segurando minha mão com tanta força que senti os ossos doerem, mas não importava. Eu precisava disso. Eu precisava dele aqui.— Char… — Max sussurrou, com a voz carregada de uma mistura de medo e esperança. Ele estava olhando para mim com tanto cuidado, com tanto cuidado que me fazia querer acreditar que eu realmente podia fazer isso. — Você consegue. Eu sei que você consegue. Você é mais forte do que imagina.Eu queria gritar de frustração, mas tudo o que consegui foi mais um gemido de dor. Eu sabia que ele estava tentando me confortar, mas eu estava tão longe de mim mesma, tão perdida na dor, que eu mal consegui escutar suas palavras. As únicas coisas que eu podia ouvir eram as instruções da doula e os meus próprios gritos.— Mais uma, Charlotte! — a dou

O sol atravessava as cortinas do quarto, espalhando um brilho suave que aquecia a madeira clara do chão. Giovanni estava aninhado no meu colo, os olhinhos semicerrados depois da mamada da manhã, e eu sentia aquele misto de exaustão e plenitude que só a maternidade traz. O quarto ainda tinha vestígios do caos da primeira semana — uma mamadeira esquecida na cômoda, uma pilha de fraldas limpinhas esperando serem organizadas, e um ursinho azul que Max comprou e insistiu em colocar bem ao lado do berço.Max estava no chão, deitado de barriga pra cima, fazendo caretas exageradas para Giovanni, mesmo com ele praticamente dormindo.— Isso aí é charme, né? Fingindo que vai dormir pra não rir da minha cara. Igualzinho à mãe — murmurou, sorrindo com aquele carinho que fazia meu peito doer de um jeito diferente agora.— Ele tá é cansado — respondi baixinho, ajeitando o bebê com cuidado. — Mamou como se fosse a última refeição da vida dele.Max riu, apoiando a cabeça no braço.— Filho de peixe, né

— Tem mais no freezer, separados por saquinhos e datas. Você só precisa aquecer em banho-maria, nunca no micro-ondas. E testa no pulso antes! Se ele fizer careta, troca. E se ele chorar depois de mamar, tenta de novo… pode ser cólica, ou pode ser só manha, mas você tenta arrotar primeiro. Se nada der certo, me liga. Mesmo que seja só por susto. Me liga.Eu já tinha repetido essas instruções pelo menos sete vezes nos últimos quarenta minutos. Max estava sentado no sofá com Giovanni no colo, prestando atenção como se estivesse recebendo um treinamento da NASA. Maya, que veio ajudar “só por garantia”, estava encostada na bancada da cozinha, rindo abertamente da minha aflição.— Charlotte, você vai ficar fora por no máximo algumas horas — ela disse, abrindo uma barrinha de cereal. — A gente vai sobreviver.— Vocês vão, mas e ele? — falei, apontando para Giovanni, que dormia tranquilamente, alheio ao meu pânico. — Ele nunca ficou sem mim. Nunca. Nem por dez minutos. Eu vou sair e ele vai p

A xícara de chá repousava ao lado do notebook, já fria, ignorada havia horas. Eu estava sentada no tapete da sala, com Giovanni no moisés a poucos centímetros de mim, resmungando em seus próprios barulhinhos de bebê. O sol da manhã entrava pelas janelas da casa e Matteo digitava concentrado no notebook à minha frente, com os óculos escorregando levemente pelo nariz.— O plugin novo da dashboard está instável — ele comentou, sem tirar os olhos da tela. — Acho melhor a gente travar a atualização até entender esse erro.— Trava tudo. — Suspirei, estalando os dedos. — Essa semana foi louca. O algoritmo do rastreio de produtividade ainda não reconhece as interrupções com precisão, e o pessoal do suporte não entende que mães não vivem em horário comercial.Matteo riu, a risada grave ecoando gostosa no ambiente tranquilo.— É por isso que a startup existe, não? Pra fazer o mundo entender isso.— E pra me dar dor de cabeça todo dia às sete da manhã.Ele fechou o notebook, apoiando os cotovelo

Era domingo. O sol filtrava pela cortina da sala, riscando o chão com listras douradas que dançavam conforme o vento agitava levemente o tecido. Giovanni dormia no moisés portátil, logo ao lado do sofá, com uma mãozinha para fora da coberta azul-clara. Max estava na cozinha, de camiseta branca e calça de moletom cinza, preparando café da manhã — o que, para ele, significava uma guerra de panelas e muita tentativa.Eu estava na mesa, terminando de responder e-mails da EaseUp enquanto o cheiro de café recém-passado invadia o apartamento.— Tá quase pronto — ele disse, surgindo na porta da cozinha com duas xícaras nas mãos. — E olha... nenhuma fumaça dessa vez.— Uau — falei, rindo, pegando minha xícara. — Isso significa que estamos evoluindo?— No mínimo, queimar ovos mexidos não é mais um talento meu. — Ele sentou à minha frente, me observando com aquele olhar. — Dormiu bem?— O suficiente. Giovanni acordou só duas vezes. Já considero uma vitória.— E você?— Eu também acordei só duas