Ponto de Vista da KaiaEu tinha matado meu pai.Meu próprio pai, que significava tudo para mim.O que foi que eu fiz...O peso do que eu acabei de fazer me esmagava enquanto os ventos fortes giravam ao meu redor, na beira do penhasco.As ondas aumentavam de intensidade, quebrando com violência na praia que, até então, era tranquila. Ondas gigantes estavam atormentando as pedras já desgastadas sob meus pés.Minha mente estava em completo caos...Tudo o que eu achava saber era uma mentira.Descobrir que minha mãe morreu quando eu tinha dezoito meses, e não ao nascer... Eu nem conseguia me lembrar dela.Foi por aquilo que ele fez aquilo? Porque sabia que, se tivesse esperado mais um pouco, eu teria alguma lembrança dela?Minha própria mãe foi assassinada brutalmente porque descobriu as mentiras dele.Mentiras que haviam tecido sua teia maligna por toda a minha vida. Eu finalmente tinha despertado do meu próprio conto de fadas sobre quem eu achava que meu pai era, sobre quem ele realmente

Ponto de vista do HectorEu fiquei ali, em silêncio, assistindo de lado, completamente impotente enquanto a equipe médica tentava reanimar minha companheira. Eu não sabia como eles conseguiram, mas finalmente o pulso dela voltou, embora ela estivesse respirando só por máquinas... Aqueles tubos frios e inumanos saindo dela, como um pesadelo.Não podia acreditar que aquilo estava acontecendo tudo de novo.O corpo dela não estava mais azul, mas um cinza pálido e úmido tomava conta dela.Eu precisava de toda a minha força só para lembrar de respirar, para manter meu lado lobo calmo. Para confiar no médico, confiar no processo... Mesmo que fosse a coisa mais difícil que já tinha feito... Tudo que eu podia fazer era ficar ali, vendo a vida da minha companheira sendo por um fio.A gente só valoriza as coisas simples da vida, como respirar, até ter que lutar para conseguir fazer aquilo.Meus próprios pulmões pareciam querer me afogar, como se eu estivesse no meio de um mar revolto, as ondas te

Ponto de vista da KaiaForam os rosnados que me despertaram, algo animal neles, mas eu não senti medo.Não importava onde eu estivesse, eu não me preocupava com a minha segurança.Mas eu não sabia o que esperar quando abri os olhos. A luz forte que me recebeu enquanto eu começava a acordar quase me cegou e me deu dor de cabeça.A sensação que ardia no meu pescoço naquele momento, que me tirou daquele sono profundo, começou a esfriar. O que quer que fosse, era agradável, mesmo queimando.Algo também cheirava delicioso, um aroma que ficou bem perto do meu nariz.Enquanto meus olhos se adaptavam à claridade do quarto, um gemido escapou da minha garganta quando tentei falar, mas não saiu nenhuma palavra.— Kaia? — Um homem bonito pulou na minha frente, minha visão ainda meio embaçada, e demorou um pouco para eu focar nele.— Graças à deusa, você está bem. Tente não falar... — Uma mulher apareceu do outro lado, uma mulher que algo dentro de mim reconheceu, mas eu não sabia como.— Vá chamar

Ponto de Vista do Hector— O que você quer fazer? — Ezra perguntou no silêncio do escritório do alfa, no meio da noite.A única luz vinha do abajur sobre a mesa e do brilho da lua entrando pela janela do escritório de Beckett.Já tinham se passado alguns dias desde que Kaia despertara do coma, e o médico realizara todos os exames possíveis, até exagerados, na minha opinião. Mas ela não reclamara nenhuma vez. Na verdade, parecia entediada com toda a situação.— Eu preciso ir embora, preciso voltar para casa. Não consigo manter ela segura aqui... Não estando no território da minha própria matilha. Estou agindo às cegas.Tínhamos recebido uma convocação do conselho exigindo a presença de Kaia, para discutir o futuro da matilha, especialmente naquele momento que Beckett estava morto e ela ainda não havia assumido o título de alfa.Não havia a menor chance de eu deixar ela ir ao conselho, ainda mais sabendo que Alfa Marc provavelmente tinha insistido naquilo. A matilha não estava sob o cont

Ponto de vista da KaiaEu nem consegui ficar sozinha para arrumar as coisas para uma viagem que eu nem queria fazer.Se não era o Hector me pressionando, era a Alora.Eu fiz um tour sozinha pela casa do alfa, esperando que alguma coisa despertasse uma lembrança.Minha loba ainda estava se recuperando, o que significava que não tínhamos escolha a não ser obedecer a ordem dele de partir. E uma coisa que eu já percebia era que o lobo do Hector era mais forte do que ele deixava transparecer.O Hector me observava com atenção quando eu entrei no escritório dele, os olhos dele acompanhando cada movimento meu, com uma espécie de fome escondida no fundo deles.Aquele era o último cômodo que eu precisava explorar, mas, assim como o resto da casa... Vazio.Será que eu queria ir embora? Não.Mas eu também não queria ficar numa matilha que eu nem conhecia direito.Minha loba dizia que o melhor era seguir nosso companheiro, mas eu nem o conhecia direito.Mesmo assim, eu sentia algo dentro de mim ch