Às 24h que precisei aguardar, foram as mais longas de toda a minha vida. Não conseguir dormir, comer ou descansar a minha mente. Às 6h30, Felipe saiu para ficar com Lourdes que, acordaria em breve, enquanto eu, decidi ficar "grudado" ao telefone. Ligava de hora em hora esperando alguma notícia, mas o quadro não havia mudado. Muitas coisas me preocupam, incluindo o fato de Levi mandar várias mensagens para voltar para casa como se ele soubesse de algo, mas sei que ele não sabe, pois a senhora Vera e seu esposo nunca contaria nada sem meu consentimento, e Maria preferiu voltar para casa, para que os filhos não a presenciasse tão abalada. Prometi a Levi que o buscaria à noite, mas precisava saber sobre a Ana Beatriz primeiro, pois independente da resposta do médico, eu teria que conversar com ele e contar tudo. O dia passou como um tormento. Tentei trabalhar no escritório de casa para ocupar minha mente, mas tudo que consegui foi ficar lamentando minha dor deitado no sofá da sala de

BEATRIZ Acordei sentindo um cheiro gostoso no ar, familiar que, de alguma forma, me fazia ter a sensação de estar em casa. Me espreguicei sonolenta e olhei ao redor. Ao ver onde eu estava, levantei apressadamente como o coração batendo forte, não sei se era medo ou alegria. Não, não pode ser! Pensei pressionando meus olhos para ver se era alguma miragem da minha cabeça. Amarrei meus cabelos que estavam soltos em um emaranhado de cachos e franzi minha fisionomia ao ver meus pés descalços e o vestido estranho na cor verde-claro que eu usava, que parecia muito aquelas camisolas hospitalares usadas em cirurgia. Passei a mão nas costas e suspirei aliviada quando sinto que ela é fechada atrás. Voltei a olhar ao redor. — Estou em casa? — Perguntei confusa. Tudo parecia igual a antes de Mainha falecer. As paredes verdes, seu guarda-roupa dos tempos das cavernas. Sorrir ao lembrar. Havia a penteadeira que Painho fez para ela no mesmo tom do guarda-roupa, uma madeira escura. Fitei a cama

— Sinto tanto as suas faltas. — Uma lágrima solitária escorreu por minha bochecha e Mainha limpou. — Estou sempre com você, eu e seu pai. Nos ensinamentos que te passamos, nas lembranças, em seu coração, minha preciosa Ana Beatriz. — O Edward também me chama assim. — Sussurrei. — A senhora iria gostar dele. — Eu já gosto. Ele cuida tão bem de você. — Eu sei! — Suspirei. — Às vezes sinto que ele é muito para mim. — Besteira. — Painho disse sentando no sofá e colocando minhas pernas em cima das suas. — Você que é muito para ele! — O senhor é meu pai, não conta muito. — Besteira. — Tornou a dizer. — Por eu ser seu pai, por isso mesmo deveria contar. — Assegurou com obstinação. — Não se diminua por ele e nem por ninguém. Você é maravilhosa, pretinha. Diga comigo: sou maravilhosa! — Mas... — Sem mais, repita comigo: sou maravilhosa! — Sou... Hum... Maravilhosa. — Murmurei. — Fale com mais firmeza, pretinha. — Sou maravilhosa. — Mais alto. — Ele pediu rindo, reprimir a vontade

— Como vai minha paciente? — Ouço alguém perguntar e olho para de onde vinha a voz, limpo meus olhos e respiro fundo. — Sou o Dr. Isaac. — Se apresentou com um amplo sorriso. — Fico feliz em vê-la bem. — Obrigada! — Falei envergonhada limpando as lágrimas. Eu queria sorrir, mas eu não conseguia, ainda me sentia triste. — Você sabe qual é seu nome? — Ele tornou a perguntar. — Ana Beatriz. — Quantos dedos tem aqui? — Levanta a sua mão para mim. — Quatro! — Lembra o que aconteceu? — Balancei a cabeça concordando. — Fui baleada. — Sinto meu corpo arrepiar ao lembrar sentindo as balas entrarem em meu corpo. — Você tomou três tiros, no ombro, tórax e abdome. Teve algumas paradas cardiorrespiratórias, mas conseguimos te reanimar. — Eu morri? — Algumas vezes, porém, conseguimos te trazer de volta graças a Deus! — Ele sorri outra vez e sua voz soa divertida. — Que bom! — Sussurrei sem saber o que dizer. — Sente-se bem? — Sinto dor em todo meu corpo e sede. — Bom... Muito bom! — D

— Você pode ajudar o garoto? — Tornei a perguntar. — Por quê? — Olhei para ele sem entender. — Por que você quer tanto ajudar ele? Tudo bem, não foi ele que atirou em você, mas ele também teve culpa. — Ele parecia furioso ao falar, mas eu sabia que não era direcionado a mim a sua raiva. Nunca o vi tão zangado. — Não quero que ele seja mais um nas estatísticas. — Respondi baixo, ele me encarou confuso. — Ele ainda tem a chance de ter um futuro melhor. Ele pode achar que não tem outra escolha a não ser recorrer a uma vida fácil através da violência, mas não é verdade. Ele precisa ver que há outras escolhas. — Suspirei. — Antes de te conhecer e Lourdes consegui o trabalho no hotel de Cláudia, pensei muito em vender meu corpo... — Mas, por que você pensaria algo assim? — Não havia crítica em sua voz ou fisionomia, mas sim curiosidade. — Quando Mainha morreu, fiquei desesperada, pois com o tempo, o dinheiro foi se tornando cada vez mais raro. Procurei durante meses um emprego, ma