Quando eu ia abrir a boca para retrucar toda aquela humilhação, Mariana se meteu no meio da confusão:— Chega, gente. Se a Srta. Valentina chamou atenção do Gabriel, é por mérito dela, não precisa desse festival de indireta.Uma das mulheres, nada satisfeita, retrucou de imediato, com o tom azedo transbordando:— Ah, a gente só fala porque pensa no Sr. George, né? Todos aqui sabem o que ela fez o Sr. George passar.— Isso aí! Essa mulher não devia mais nem circular no nosso meio! — Outra acrescentou, debochando.Clara não engoliu e rebateu:— Circulozinho ridículo, viu? Vocês falam como se fossem donos do lugar. Acho graça dessa pose toda, queria ver quem nunca errou feio aqui!Alguém respondeu de imediato, sem dó:— Está se achando, hein? Uma filha largada pela família, agora quer dar lição de moral? Presta atenção no seu lugar!Senti o sangue da Clara ferver, pelo aperto que ela deu na minha mão. Mesmo cansada, eu respirei fundo, mantive a educação e falei:— Olha, se a gente está in

Quando Gabriel me perguntou se eu queria verdade ou desafio, escolhi desafio quase sem pensar e me arrependi na mesma hora, porque o sorriso dele ficou ainda mais sacana.Ele ficou bem à vontade, reclinado e teatral, e anunciou devagar, fazendo questão de todos ouvirem: — Então é assim, Val. Escolhe um dos caras aqui e beija ele por um minuto.O pessoal explodiu em gritos e gargalhadas. O clima ficou animado, mas para mim foi constrangedor.Clara ficou indignada, subiu o tom: — Ah, Gabriel, você está zoando com a Val de propósito, né?Gabriel abriu as mãos, todo inocente.— Que nada, Clara! Foi a garrafa que caiu nela, não tive culpa. Se caísse em você, ia ser igual. Quem disse que é perseguição?— Você é muito safado! — Reclamou Clara, dizendo que aquela rodada não valia, mas ninguém dava bola, estavam todos só esperando para ver no que ia dar.De repente, parecia que a galera estava ainda mais empolgada, querendo ver até onde eu iria, quanto mais constrangedor, melhor.Olhei para G

George observava calmamente eu e Gabriel, como se se divertisse com a situação.— Você é louco, cara! — Murmurou Gabriel para ele, claramente irritado, e completou, — Fica aí olhando então, quero ver até onde você aguenta!Falando isso, Gabriel segurou firme meus ombros e foi se aproximando, devagar, dessa vez ainda mais próximo do que antes. Eu podia sentir sua respiração quente tocando meu rosto, e meu coração já batia acelerado, tomado por uma ansiedade difícil de explicar.Para piorar, George não desviava o olhar nem por um segundo, e aquela presença ao lado só aumentava a pressão sobre mim. O clima ficou tão tenso que me dava vontade de fugir dali.O rosto de Gabriel estava chegando cada vez mais perto, e eu já estava quase cedendo à tensão, pronta para empurrá-lo, mas, como se sentisse isso, foi ele quem se afastou primeiro. Irritado, ele se virou para George e disparou:— Pelo amor, cara! Você não tem jeito não, né? Fica me encarando desse jeito, como é que eu vou beijar a gata

No exato momento em que a voz de George ecoou atrás de mim, parei no meio do passo, incapaz de controlar o impulso. Quando me virei, tentei manter a voz estável, mesmo sentindo o coração apertar: — O que foi, George? Precisa de alguma coisa?Ele não me respondeu. Apenas ficou ali, tragando o cigarro com violência, seus olhos estavam tomados por uma irritação que quase dava para ver se acumulando na atmosfera. Impossível não notar que o clima estava pesado. Ele claramente tinha brigado feio com Mariana.Só que, junto daquela ansiedade, veio uma pontinha de revolta. Sempre que eles brigavam, ele descontava em mim. Isso nunca fazia sentido e, mesmo que eu o devesse dinheiro, eu também tinha orgulho. Não tinha sido feita para servir de saco de pancada de ninguém.Mas, mesmo sentindo isso, não tive coragem de falar. Afinal, o George não era mais o mesmo do passado. Fiquei ali, parada, resignada, esperando o que viesse, fosse uma palavra, um acesso de raiva ou apenas mais um silêncio car

Naquele momento, o mais estranho era perceber que, mesmo depois de tudo, eu não sentia medo de George. O que me consumia por dentro era um tipo de raiva sufocante, um ressentimento cuja origem eu mal sabia explicar.Odiava o jeito como ele me fazia sofrer, odiava ainda mais ter me apaixonado assim, sem perceber, depois de passar tanto tempo o desprezando. Era uma dor amarga, difícil de suportar.Meus olhos começaram a arder. Tive que fazer um esforço para segurar o choro, respirando fundo enquanto o embaraço tomava conta de mim. Não demorou muito até que George, depois de me encarar por longos segundos com aquele olhar sério, soltasse um suspiro cansado.Ele encostou os lábios nos meus com uma doçura misturada à resignação. Falando baixinho, deixou escapar um comentário que até soou gentil vindo dele: — Nunca pensei que você pudesse ser tão teimosa.Desviei o rosto, mas as lágrimas, que já vinham ameaçando cair, simplesmente fluíram. Era curioso. Enquanto ele foi duro e impiedoso,