Lucas Park     Minha respiração se partiu no meio. O sangue subiu tão rápido que mal consegui ouvir quando a ligação foi cortada. Me vi encarando a tela do celular como se ela ainda estivesse acesa, como se ele ainda estivesse ali, me invadindo com aquele veneno. Por mais que eu tivesse provocado, por mais que quisesse vê-lo quebrar, não esperava por aquilo. Não esperava por tamanha frieza. Aquilo ultrapassava o jogo. Aquilo era guerra.     E mesmo tendo conseguido o que eu queria, mesmo tendo instigado a besta para tirá-lo do controle... eu não estava satisfeito. Não podia estar. Não enquanto ele estivesse perto dela. Não enquanto minha mente fosse infestada com as imagens que ele plantava com palavras.     — Que merda foi essa? — perguntou Castillo, me encarando como se estivesse diante de um fant

Gabrielle     Aquela maldita mensagem de aviso parecia mais uma sentença, e o que mais doía era saber que eu era a origem de tudo. Ele acreditava que eu não estava agindo por vontade própria. Acreditava que eu estava sendo manipulada, forçada, presa em um jogo que não compreendia. Talvez, no fundo, ele preferisse pensar isso a aceitar que eu estava ali por escolha. Fiquei surpresa por ele não ter vindo atrás de mim quando deixei a mesa de jantar. Não me ligou. Não mandou uma única mensagem. Nada. E eu não sabia o que me incomodava mais: o silêncio dele ou o fato de eu me importar com isso.     Antes mesmo que eu pudesse aprofundar os pensamentos, outra notificação surgiu na tela, como um estalo seco dentro do quarto.     MIA: Onde você está, Gadd? Quando posso voltar para casa?

Gabrielle     Aquela definitivamente não era a melhor hora para atacá-lo — eu sabia disso. Mas, ainda assim, meu instinto era sempre mais rápido do que minha lógica. Tudo em mim gritava por ação, por reação, como se o silêncio e o controle fossem inimigos do que eu carregava por dentro. Eu precisava me manter calma, por mais que tudo em meu corpo dissesse o contrário. Precisava respirar fundo e tentar organizar o caos da noite dentro da minha mente. No final das contas, meu verdadeiro desafio não era Matt, nem Lucas... Era o homem que ainda mantinha os braços ao meu redor. O verdadeiro problema era ele.     Eu não sabia como encará-lo. Não sabia como olhar nos olhos de Gadreel sem ser invadida pelas lembranças que ainda ardiam na minha pele como fogo lento. Seu toque me perseguia, e junto dele, vinha a culpa... e

Gabrielle     Lá dentro, tudo era minimalista. Uma cadeira reclinável, uma bandeja com instrumentos esterilizados, tintas, agulhas. O tatuador já estava à nossa espera. Um homem de aparência soturna, com olhos afiados e braços cobertos de símbolos que pareciam tribais, mas que pareciam vibrar sob a luz.     — É pra ela? — perguntou o homem, olhando para mim e depois para Gadreel, como se soubesse mais do que devia.     — Sim — respondeu Gadreel, sem hesitar. — Mas quem vai escolher é ela.     Ele se afastou, como se estivesse me entregando a um ritual. O tatuador me ofereceu um caderno de desenhos, mas eu não toquei. Olhei para Gadreel, que agora encostava na parede, braços cruzados, me observando como se esse momento dissesse mais sobre mim do que qualquer palavra. 

Gabrielle     Sempre enfrentei o que precisava ser enfrentado. Nunca hesitei em questionar, em provocar, em arrancar verdades. Mas com Gadreel… eu andava sobre cacos de vidro a cada respiração. Havia algo nele que me fazia recuar antes mesmo de avançar. Um misto de ansiedade, desejo e pavor. Porque, no fundo, eu sabia que se eu perguntasse, ele responderia. Sem rodeios, sem filtros.      E era isso que me aterrorizava. As respostas viriam nuas, cruas, impiedosas. E eu não estava pronta. Não depois do que aconteceu na casa de Matt. Não depois do que fizemos. Do que permiti que acontecesse.      A noite estava tão avançada que o mundo parecia ter sido esquecido pelas vozes. O silêncio tomava conta de todo o edifício quando cruzamos a entrada de seu apartamento. Meus saltos ecoavam no piso como marteladas em minha consciência, e