Passaram duas semanas desde o dia em que o Theo me levou à cachoeira. Está tudo... ótimo. Aquela sensação estranha que eu sempre sentia quando ia ao jardim simplesmente desapareceu. Às vezes eu ia até lá só para ter certeza e realmente não sentia nada — nem um nó no estômago, nem aquele arrepio que me avisava que algo estava errado. Até mesmo a Rania está mais calma desde que o Theo me marcou; ela anda mais serena, como se uma parte de sua inquietação tivesse se dissolvido. Ela não para de dizer que mal vê a hora de correr com o Ryle, livres, pela floresta. Hoje é o dia da coroação. O dia em que eu e o Theo vamos nos tornar Alfa e Luna. Está tudo lindo; minha mãe e a Luna cuidaram de tudo com um cuidado que me deixou sem palavras. Sento-me aqui, esperando apenas a hora de ir para o salão me arrumar. Quero que tudo fique perfeito — cada fio de cabelo, cada dobra do vestido, cada batida do meu coração. Estou ansiosa para ver o olhar do Theo quando me vir entrando no salão. Nossa coroaçã

Entramos em casa e, antes mesmo que eu pudesse respirar, sou agarrado pelos braços da minha mãe. Ela está desesperada, os olhos vermelhos de tanto chorar, as mãos trêmulas como se a qualquer momento fossem se desfazer no ar. Eu não tenho reação para abraçá-la de volta. O que posso fazer? Minha alma está em frangalhos. Sinto como se o chão tivesse desaparecido sob meus pés. Jurei a mim mesmo que, quando entrasse por esta porta hoje, seria com minha mulher no meu colo, com o coração cheio de orgulho e amor, pronto para fazê-la minha mais uma vez — eu, seu marido, ela, minha mulher. Mas, agora, o que posso fazer além de me desesperar? A única coisa que resta de mim é a casca de um homem que perdeu tudo, pois é assim que me sinto sem ela ao meu lado: vazio, sem direção, sem vida. — Meu filho… — a voz de minha mãe falha, um sussurro entrecortado de soluços — eu sinto tanto, sinto tudo com você. Mas tudo vai dar certo. Nós vamos conseguir trazê-las de volta. Eu prometo. Apenas aceno com a

Eles realmente acreditaram que eu iria embora da minha casa por causa de uma ômega inútil. Uma ômega que se julga dona do pedaço só porque se tornou companheira do Alfa. Ridículo. Nunca fui de abandonar o meu lugar por fraqueza, e não vou desaparecer só para que aquela patética possa viver feliz. Eu não sairei até vê-la morta. A ideia de deixá-la respirar tranquila me dá náusea. No dia em que fui “expulsa” — palavra que eles usaram como se fosse uma sentença imutável — combinei com meus pais um plano simples: sumir por dois dias e, no terceiro, voltar pela passagem secreta que poucos conhecem. O esconderijo é tão discreto que aposto que nem o próprio Alfa sabe dele; fica entre as cavernas, um corredor estreito feito para gente pequena ou para quem sabe se mover nas sombras. Quando você passa por ali, se não prestar atenção, nem percebe que existe. Foi o local perfeito para a minha “fuga”, e eu pensei em tudo com frieza. Cada movimento foi calculado. Eu não retornaria de mãos vazias.

Não sei como ainda estou em pé, pois parece que em mim não há mais vida. Esses últimos dias têm sido um tormento constante, como se eu estivesse preso em um pesadelo do qual não consigo acordar. Deito para dormir e, no instante em que fecho os olhos, sonho com a minha oncinha. Sonho com seu sorriso, com a forma como ela se esparramava na cama, ocupando todo o espaço como se fosse dona do mundo. Nos sonhos, consigo sentir até mesmo o calor da sua pele, o ritmo tranquilo da sua respiração. É tão real que, quando desperto, meu peito implora para continuar dormindo. Mas a realidade me arranca desse refúgio cruelmente. Abro os olhos e o vazio ao meu lado me engole. Não sinto mais o seu cheiro no quarto, por mais que eu borrife o perfume dela nos lençóis, nas cortinas, em tudo que me cerca. Não é a mesma coisa. Não tem a mesma alma, a mesma vida. Tenho medo do que podem estar fazendo com ela. Será que está se alimentando? Será que consegue dormir? Será que alguém a machuca? Só de pensar ne

No quarto dia desde que levaram Helena, decidimos que não podíamos esperar mais. Iríamos atrás delas. Encontraríamos parte dos soldados no caminho, e outros já nos esperavam perto da alcateia do norte. Alguns foram de carro, outros de moto. Eu, no entanto, escolhi ir na minha forma de lobo. Era mais rápido, mais instintivo, e o tempo era algo que não podíamos desperdiçar. Assim, chegaríamos em apenas um dia e meio de corrida, com paradas mínimas apenas para beber água e comer algo. Não haveria acampamento, não haveria descanso — só a pressa impiedosa que me queimava por dentro. A pressa de resgatar minha mulher e minha sogra. Comigo seguiam Henry, meu pai, meu sogro, e Tony — de quem descobri recentemente algo que me surpreendeu: ele sempre treinou com meu sogro e era excelente na luta, tanto em sua forma humana quanto como lobo. Além deles, tínhamos mais dez lobos ao nosso lado. Os outros, cerca de vinte, foram em veículos. E quando chegássemos lá, mais vinte já estariam à nossa espe