110. O retorno ao caos
O barulho da cidade foi o primeiro a me receber. Buzinas, vozes, o som metálico de um portão enferrujado sendo aberto. Tudo me pareceu absurdamente vivo — e, ao mesmo tempo, fora de ritmo. Meu apartamento estava do mesmo jeito que deixei há mais de um mês: meias esquecidas no sofá, taças de vinho manchadas, uma revista caída no chão. O tipo de bagunça que só eu entendia. Joguei a mala no tapete, tirei os sapatos e fiquei ali, parada, respirando aquele ar de liberdade com cheiro de poeira e desordem. — Bem-vinda de volta ao seu caos, Ágatha. — murmurei para mim mesma, abrindo as cortinas. A luz da manhã atravessou o vidro e revelou o pó dançando no ar. Pensei em quantas vezes ele me mandou “organizar-me”, “agir com profissionalismo”, “ter foco”. E sorri. Ali, cercada pela minha própria desordem, era o primeiro instante em semanas que eu realmente respirava
Ler mais