Capítulo 3 - Carolina

            Estou a meia hora sentada na mesa em que fazemos nossas refeições pensando na minha vida e relembrando o que consigo, quando ouço o barulho do portão sendo aberto, o carro sendo estacionado, a porta batendo e os paços já conhecidos do Daniel.

            Olho para o relógio no meu pulso e vejo que se passaram 3 horas que presenciei aquela sena grotesca e desde que cheguei em casa, apenas troquei as roupas do trabalho por umas um pouco mais confortáveis e me sentei aqui para esperar sua boa vontade em aparecer.

            Assim que ele abre a porta ele me avista e me analisa da cabeça aos pés. Não diz nada e vem se sentar ao meu lado, mas eu o paro apontando a cadeira na minha frente para ele. Estou com uma xícara de chá calmante na minha frente, da qual não resta muito mais.

- Olha Carolina, eu... – começa a dizer.

            Mas, eu o interrompo e digo:

- Daniel, você vai me ouvir e depois vamos ter um diálogo importante onde eu possa te escutar, antes disso não quero ouvir sua voz. Entendeu?

            Entendendo a minha seriedade ele apenas balança a cabeça uma vez e me olha de forma curiosa. Então eu começo:

- Eu me encantei por um homem doce e maduro para a sua idade quando eu tinha 16 anos e ele 21, mas que neste momento me faz questionar se não era uma fachada para me levar para a cama. E ao descobrir que não seria tão fácil, tomou gosto pela sedução. – Deixo minha mágoa e frustração finalmente aparecer em minha voz – E ainda penso que suas constantes crises de ciúmes e sua necessidade por marcar território foram uma forma de esconder que sempre foi você quem me traiu e me enganou – ele me olha de olhos arregalados.

            Sem conseguir prosseguir, deixo o silêncio dar ênfase para as minhas palavras e continuo olhando em seus olhos até que ele quebre nosso contato visual, abaixando a cabeça de forma envergonhada e eu sei nesse momento que meu pensamento não está errado. Reunindo forças de não sei de onde, continuo com meu monólogo:

- Eu merecia mais por esses 16 anos ao seu lado, seus filhos mereciam mais. Porém, não vamos enveredar por esse caminho. A verdade é que eu sei que seus sentimentos e você mudaram já a quase 2 anos ou mais. Você é outra pessoa, age de forma diferente e eu não seria quem sou, se não percebesse sua mudança. Nunca procurei nada no seu celular, mas tenho certeza de que tem senha onde antes não tinha. Além de que tenho pagado praticamente todas as contas de casa nos últimos 14 meses, - falo com mais amargura na voz, de forma mais pausada – para que você pudesse custear um matadouro.

- Não Carol ... – tenta me interromper e eu o fuzilo com o olhar e ele novamente se cala.

            Continuo:

- Me poupe das frases clichês do tipo: - falo fazendo aspas com os dedos das duas mãos – “ela me seduziu”, “você não prestava mais atenção em mim”, “me deixou de lado” e blá blá blá. – Olho fixamente em seus olhos agora assustados – apenas a falta de caráter faz com que alguém desrespeite outra de forma tão vil. – Respiro fundo e falo fechando meu discurso – Você hoje provou que isso você não tem, não digo isso em relação aos seus filhos, pois este papel você sempre desempenhou com maestria, até fotos deles você levou para o matadouro, não é? Mas, como marido você se provou mesquinho e a partir de hoje não temos mais nada – falo já retirando minha aliança e colocando na frente dele.

            Ficamos os dois quietos por um bom tempo, cada um em seus próprios pensamentos. Acredito que ele não esperava essa calma da minha parte e muito menos que eu não lhe desse nem chance de tentar se explicar. Mas, precisa explicação? Ver não é suficiente? Porque eu tenho dado sinais de que queria apimentar nossa relação sexual, a muito tempo, e com fantasias muito mais interessantes e maduras que aquela imitação de filme pornô adolescente.

            Finalmente eu descido acabar com o silêncio e começar a segunda parte da nossa conversa, agora com um diálogo entre duas pessoas.

- Eu não vou te tirar o direito de pai nunca e você pelo que me conhece deve saber disso, – falo o olhando e esperando ele confirmar ou não, ao que ele mais uma vez balança a cabeça uma única vez para baixo e eu continuo – dessa forma, você pode ver e buscá-los quando quiser, mas não renuncio aos meus filhos e eles vão morar comigo.

            Ele ainda me deixa em um monólogo apenas afirmando com a cabeça. Passo mais um tempo discutindo sobre os gastos com nossos filhos e ele continua concordando com a cabeça sem emitir nenhum som. Depois passo para discutir sobre os bens que construímos e a divisão deles exatamente na metade, mesmo que ache que como ele não tem me ajudado nos últimos tempos, ele deveria renunciar a algumas coisas. Por fim, o aconselho a conseguir um advogado em quem ele confie para que na próxima semana já entremos com o processo de divórcio e lhe informo o nome do meu advogado, um amigo que ele demonstrou sempre muito ciúmes, Carlos Manoel, um amigo de longa data.

            Com o nome do Carlos ele parece sair do transe em que se encontrava e me olha de forma furiosa quando diz:

- Você vai jogar 16 anos fora por causa de um deslize? Você não vai me dar a chance nem de me explicar? QUE MERDA VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – Faz a última pergunta gritando e batendo a mão na mesa, fazendo com que minha xícara e a aliança tremam, me olhando de forma ameaçadora.

            O olho de maneira impassível e não respondo nada, fico um bom tempo o encarando e demonstrando que essa demonstração de macho alfa não me afeta de forma nenhuma, mesmo que por dentro me sinta assustada, já que ele nunca gritou comigo.

            Me levanto e apenas digo:

- Você pode pegar o necessário para essa semana, nesse primeiro momento quem sai é você. – Falo não dando brecha para nenhuma discussão. – Os meninos estão na casa dos meus pais, vão dormir lá e amanhã eu gostaria que estivesse aqui após o trabalho para que possamos conversar com eles juntos, se você não vier, falarei sozinha.

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