04

Ao meio dia e meio, depois das aulas, Abel acompanha seus dois novos amigos para o andar de baixo e esperar sua carona na frente do portão da escola. Laura e Danilo estavam ao seu lado, conversando normalmente, falando sobre como a escola funcionava, como eram os alunos e professores, e o que podia ou não fazer. Afinal, sendo um novato, o jovem Gonçalves tinha que ficar ciente das regras para que não irritasse a direção ou seus colegas.

Seguir regras era essencial. E desde que se conhecia por gente, as regras foram feitas com um único propósito: garantir a ordem e controlar o caos, independentemente de qualquer coisa e sem exceção.

Já era uma da tarde, quando então, o adolescente lembrou-se de algo importante.

– Ah não!

– O que foi? – perguntou Laura, surpresa.

– Eu esqueci meu caderno na classe... Que merda cara...

– Vai lá buscar – disse Danilo – Agente guarda sua mochila enquanto isso.

– Valeu mesmo gente! Já volto!

Ele então se levanta do banco em que estava sentado e corre para dentro da escola de novo. Esperava que a moça da limpeza ainda não tenha limpado sua sala, ou seu caderno podia ir parar nos achados e perdido, e ele não tinha tempo para procurar lá. Precisava dele para aquela noite, já que tinha que fazer uma redação para o dia seguinte!

Subiu pela escada em uma velocidade sobre humana e entra em sua classe, olhou em volta e vê seu caderno em baixo da carteira onde havia se sentado.

Que sorte!

Ele pega o caderno e sai correndo até a saída da escola, mas não tão desesperado como antes. Sabia que não podia deixar seus amigos e nem sua prima esperando, então não perdeu tempo em se dirigir de volta ao portão da frente. Ele desce as escadas na pressa, quando, de repente, ao virar a esquina para o corredor que dava para a saída, ele dá de cara com ninguém menos que Dante.

– Ai! – disseram os dois rapazes, ao se chocarem e derrubarem suas coisas no chão.

– E-Eu sinto muito... – disse Abel envergonhado e com medo – E-e-eu não te vi... E...

– Deixa pra lá – cortou Dante, frustrado, esfregando o peito onde ambos haviam se chocado.

– Oh... Ok – ele se incomodou pela grosseria do outro, mas decidiu não alongar seu "dialogo" com ele.

Ele vê seu caderno jogado no chão e alguns papeis que não eram dele. Deviam ser de Dante. Em um ato de gentileza inocente, ele se abaixa e pega as folhas espalhadas, para entrega-las ao outro. Mas então:

– O que está fazendo? – perguntou Dante desconfiado, pegando seus papeis de volta.

– E-Eu só estou pegando suas coisas para você...

– E eu te pedi para fazer isso? – ele puxa as folhas da mão de Abel, não se importando com sua grosseria.

– Hey! – falou Abel indignado, em um tom de represália. Isso com certeza chamou a atenção do ruivo – Eu só estou sendo gentil, está bem? Não precisa ser estupido assim.

Dante o olhou surpreso. Não era qualquer um que tinha coragem de repreende-lo, muito menos em o chamar de estupido. E, mesmo o outro sendo novato, o ruivo não daria satisfações a ele, ou seria bonzinho. Por acaso, ele não sabe com quem está se metendo?

– Você tem coragem de falar assim comigo... Afinal, sabe quem eu sou?

– Sei. Você é Dante martinez, certo?

– Ahhh Então sabe meu nome – diz sarcástico, sorrido de canto – Mas sabe o que eu faço com moleques pentelhos como você?

– Não sei e tô pouco me fodendo pra isso. Agora, me dá licença – diz Abel saindo, mas Dante o bloqueia – Dá para sair, por favor? – disse o mais novo, firme e sério.

– E se eu não quiser?

– Você é sempre babaca assim?

O ruivo só riu. Aquela risada de deboche deixou Abel com muita raiva, e seu rosto ficou vermelho por causa disso. Ele vira o rosto, na tentativa de esconder o seu rubor. Quem esse tal de Dante pensa que é? Ele se acha o Rei da escola? Pois ele não se submeteria a essa brincadeira infantil dele. Tinha que se manter firme, pois não queria dar esse gostinho ao mais velho. O ruivo, ao ver o rubor no rosto do novato, mesmo que muito pouco, achou aquilo engraçado. E, de certo modo, acho até fofo. Abelardo podia tentar fingir que não ligava, mas era claro que as implicações de Dante o irritavam muito e, com isso, o ruivo podia se divertir um pouco.

– Eu preciso ir embora – disse Abel.

– Para que a pressa, cara de mocinha? – ele colocou a mão na parede, bloqueando a passagem do outro e os deixando próximos demais para o gosto de Abel.

– Minha prima está me esperando....

– Então você precisa estar sempre fazendo o que sua prima manda? Que bonitinho!

– Idiota, me deixe ir!

– O que está havendo aqui?! – ouve-se uma voz preocupada atrás dos dois. Nessa hora Dante e Abel se viram para olhar para trás e vêm Danilo ali parado, os olhando chocado.

– Danilo? – perguntou Abel, aliviado pelo outro estar ali.

– O que está havendo aqui Abel?

– N-nada eu....

– Dante deixa ele em paz! Vai procurar outro aluno para atormentar! – disse sem medo de enfrentar o outro, apesar da má reputação do jovem Martinez.

Dante não gostava de receber ordens, e, com certeza queria ter dado um soco nesse tal de Danilo. Mas, apesar de irritado por ser mandado embora, ele libera a passagem para Abel e se afasta sem dizer nada, apenas dando uma risada entredentes e indo embora. Quando ele finalmente some no corredor, subindo as escadas, é que os dois amigos puderam conversar direito.

– Obrigado Danilo – disse Abel.

– De nada. Ele te machucou? Fez alguma coisa?

– N-não... Ele só ficou me irritando mesmo. Mas estou bem.

– Serio? Mas o que você fez para ele te encher o saco?

– Eu o chamei de estupido. E de babaca também...

– Você é louco. Sabe o que ele poderia ter feito por causa disso? Sorte que eu cheguei aqui a tempo, ou sabe sei lá o que ele poderia ter feito.

– Cara, relaxa! – disse na tentativa de acalmar o amigo super-protetor – Ele não me fez nada. Eu estou bem... E afinal, não creio que ele seja tão ruim assim a ponto de me machucar por causa de uma coisinha tão insignificante, não é? Já vi esse tipo de gente antes, só tem cara de durão, mas é só isso. Eu não vou levar desaforo de um idiota desses.

Danilo ainda tentou dizer mais alguma coisa, mas, ao olhar nos olhos de Abel, decidiu manter a boca fechada.

– Tem bastante garra, tenho que reconhecer isso – disse sorrindo – Mas toma cuidado viu? É seu primeiro dia ainda, melhor não causar animosidades com os coleguinhas – ele dá risada, vendo o menor revirar os olhos. Mesmo tendo o conhecido hoje, podia ver que Abelardo era um garoto doce e inocente, do tipo que conseguia ver bondade nas pessoas, mesmo aquelas bem problemáticas. Mas que também sabia se defender sozinho, e não tinha medo de enfrentar quem fosse maior e mais forte que ele. Essa atitude, por mais que pudesse ser adorável, era um problema muito delicado.

Talvez fosse um exagero do rapaz achar Dante tão louco ou mal dessa maneira, mas, ainda assim, ele se preocupava que a má influência de Dante acabasse com essa pureza do amigo.

– Bem, de todo jeito... Vamos antes que sua prima chegue.

– Sim.

Os dois então caminham até a saída, deixando para trás os últimos acontecimentos daquele corredor. Não valia a pena ficarem se chateando pela imaturidade de um garoto qualquer, afinal, Dante era um idiota e pronto.

Não tinha motivos para criar mais rivalidade com ele. Era perda de tempo.

Mas, mesmo querendo esquecer o ocorrido, Abel sentia seu coração bater rápido ao lembrar-se de Dante tão perto de si, sorrindo daquela forma para si. Aquilo foi estranho, mas, vendo o comportamento do ruivo, presumiu que aquilo foi só mais uma forma de provocá-lo. Tinha que deixar aquilo de lado, ou sua paranoia começaria a afeta-lo seriamente. O que mais incomodava o jovem de cabelos bicolores era o fato de Dante ser absurdamente atraente!

Aquele cabelo ruivo rebelde, o corpo forte e bem trabalhado, os olhos castanhos bem intensos e aquele sorriso bonito...

Ah! Porque ele tinha que ser um babaca bonito?

A vida era mesmo injusta.

***

Horário de almoço.

Em um café local perto do Shopping Morumbi, Simon finalmente pode sair de seu escritório para almoçar com o irmão, antes de deixa-lo em casa. Não pode busca-lo na escola, pois teve de resolver alguns assuntos urgentes na agencia de advocacia, então pediu para que o irmão pegasse um ônibus que parava em frente à escola e passava perto do café. Desse jeito, economizariam tempo, já que o mais velho não tinha muito tempo de almoço. Simon esperou, até avistar Dante entrar no recinto com a mochila. Ele acena para o ruivinho, indicando onde estava, e jovem anda até ele e se senta à sua frente.

– E ae? – perguntou Dante com um sorriso terno.

– Tudo bem. Como foi a escola?

– O mesmo de sempre: uma chatice sem fim. O que tem para o almoço?

– Você devia dar mais importância para os estudos Dante – disse num tom preocupado, apesar de estar sorrindo – Papai ia querer que você fosse um homem de sucesso.

– Sei. Vou tentar, te juro. Olha! Aqui tem pudim de chocolate! – disse no intuito de fugir de tal assunto que o incomodava, principalmente quando seu falecido pai era envolvido no meio disso.

Simon suspirou. Sabia que não podia forçar seu irmão a se dedicar a escola, mas queria incentiva-lo mesmo assim. Não queria que o futuro brilhante, que o mais velho sabia que Dante merecia, fosse deixado de lado. O ruivo era inteligente, esperto e com muita ambição, disso o advogado sabia muito bem. Sabia que precisava de alguém para ajudá-lo em casa, já que o mesmo não tinha condições. Alguém que pudesse dar atenção a ele e ajuda-lo nos estudos, tanto dentro como fora da escola. Alguém que o mantivesse longe de confusões, pois sabia que o irmão caçula era rebelde e não era de medir suas ações.

O que ele poderia fazer? Sua única opção, era continuar a encontrar um tutor para Dante, mas ele já tentou achar em várias agencias e até com amigos da família. Nenhum deu certo com o adolescente, todos desistiram dele logo na primeira semana! Só lhe restava procurar e ver todas as opções disponíveis.

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