VII - Gênios que não batem

Ângela Sant’Anna Del’Aventura. Quando ouvira o nome pela primeira vez, Sky precisara se controlar para não rir. De alguma forma, para a escritora, aquele parecia o nome de alguma protagonista de novela mexicana.

Contudo, a verdade era um pouco mais complicada e séria.

Agente Del’Aventura. O título não fazia o nome parecer menos engraçado.

Ângela, como pedira para ser chamada, era uma agente do FBI e segundo explicara brevemente, estava à frente de uma operação para capturar o homem com quem a ruiva havia passado a noite.

Quando ouvira que o advogado com quem transara era procurado pelo FBI em três estados, acusado de oito homicídios, Sky começara a ponderar se havia tomado a decisão certa na noite anterior, pouco antes de aquele belo espécime de homem bater à sua porta.

Entretanto, não conseguia se concentrar com quinze homens vestindo trajes negros andando dentro de sua casa sem terem sido convidados menos de vinte e quatro horas desde que chegara. Aquilo não parecia um bom sinal, tudo que desejava era tranquilidade, mas o que via era exatamente o contrário.

Para acabar de vez com a paz e harmonia do lugar, os anjos de Sky e Ângela pareciam não ter se dado bem – como costumava dizer a mãe da escritora.

—Então… – indagara a ruiva, falando com a agente – Ricardo já está detido e já disse tudo que sei. Quanto tempo mais precisam ficar por aqui?

Sky não era o tipo de pessoa que apreciava visitadas não agendadas, quanto mais estranhos dentro de sua residência. Após o sujeito ter sido detido, Ângela ordenara que seus homens fizessem uma busca rápida pela casa. Sky sentira o desejo de se opor à ordem, mas não queria problemas com uma agente federal.

A inspeção fora rápida, considerando o tamanho do lugar, com mais de vinte cômodos. Logo os homens estavam em seus veículos, se preparando para sair. Ângela ainda não parecia satisfeita, mesmo com a prisão do criminoso.

—Poderia me ligar, caso lembre de mais alguma coisa? – indagara a mulher apontando um cartão para a ruiva.

Não conte com isso – pensara a ruiva com um sorriso nos lábios.

—Acredito que já disse tudo de que me lembrava – respondera a escritora – Como conferiu pelas filmagens das câmeras de segurança, não faz muito tempo que Ricardo apareceu aqui. Não há nada que não tenha dito.

Os olhares diretos e desafiadores entre Sky e a investigadora faiscavam. As indiferenças haviam começado quando Ângela soubera que Sky se mudara para aquela residência na noite anterior. Houvera uma chuva de perguntas das quais a garota se esquivara habilmente nas respostas.

Umas das inúmeras vantagens em ser uma escritora experiente era ser boa com as palavras, não apenas quando estava escrevendo seus livros. Sky sempre tivera desenvoltura para se expressar e dizer apenas o que desejava.

A ruiva tinha mais talento que políticos para dar respostas longas, complexas e elaboradas, prendendo a atenção do ouvinte, sem dizer nada do que realmente havia sido perguntado. E Sky estava ali para se desprender de seu passado, não para sair o compartilhando logo nas primeiras horas.

—Notei que… – começara a agente, se virando para o lado e apontando com o indicador para o alto, sem olhar diretamente para a ruiva – Quando disse que Ricardo era um assassino em série, ficou extremamente assustada, uma reação normal diante desse tipo de revelação. Não ficou em choque porque não estava na posição de uma nova vítima e também entendo isso. O que surpreende nesse caso é que diante de tais informações, você não perguntou nenhuma vez o que ele fez com as vítimas. Nem nada sobre elas.

Observe. Absorva.

Sky se lembrara das palavras que haviam sido um mantra para si própria na grande Nova York após seu conturbado término com Robert. Aquela mulher era como ela, sempre observando, atenta, absorvendo informações que as pessoas deixavam escapar sem perceber.

—Já é de manhã, estou cansada e creio que verei sobre a prisão na TV… – era mentira, Sky não gostava de jornais televisivos e o sensacionalismo forçado apresentado neles – Tudo o que quero agora é cair na minha cama e descansar. Agradeço por terem vindo, nem quero pensar no que poderia ter acontecido caso não tivessem aparecido – essa parte era sincera.

Os olhos de Ângela brilharam.

—Vou lhe dizer o que teria acontecido – claro, Sky não estava nem um pouco interessada em ouvir o que a mulher tinha a dizer, mas ao que parecia, bastava essa razão para Ângela insistir em continuar falando – O homem que conheceu é chamado de Dom Juan da Morte, um assassino frio e sem pudores, tão sedutor quanto metódico e cruel. Nos últimos dois anos Ricardo Gomes sedou e removeu cirurgicamente os corações de oito mulheres enquanto elas dormiam. Isso após as seduzir e ter relações sexuais com elas. Me entende?

E como não entender? A pedido da agente, Sky revelara as gravações em suas câmeras de vigilância desde o momento em que o assassino batera à sua porta. Fora impossível esconder a foda entre ambos na pequena biblioteca, cada detalhe sendo assistido por diversos homens e outras mulheres da equipe.

Felizmente Sky já havia transado na presença de outras pessoas inúmeras vezes em suas noites na metrópole após seu primeiro e último romance. Festas com orgias não eram novidade para a jovem, que não sentia vergonha de seu corpo, bem como apreciava ser admirada enquanto fodia.

—Eu… – começara a ruiva, chocada com a informação – Sinceramente não sei o que dizer. Apenas queria o ajudar… não irei abrir mais a porta para qualquer um a partir de hoje. Eu poderia estar…

—Não se lamente – rebatera a morena antes mesmo que Sky terminasse a frase – Chegamos a tempo. Tem sua vida pela frente e lhe garanto que Ricardo passará o resto de seus dias em um cubículo, de onde não poderá ferir ninguém até que chegue o momento de responder por seus crimes.

Apesar do risco que havia corrido, os orgasmos haviam feito a noite valer a pena. Além disso, em seu íntimo, a garota sentia que tivera algo mais a ver com tudo aquilo, algo que sentia, mas ainda não podia explicar. Obviamente, ter um assassino em série em sua porta não fazia parte de seus planos, mas estivera no controle de parte daquela noite, tinha certeza disso.

Agora só precisava que Ângela e seus homens fossem embora para checar a outra face da verdade sobre os acontecimentos recentes. Ainda assim, algo a fizera refletir sobre a presença do FBI em sua porta. Teria que suportar Ângela por mais alguns minutos se quisesse a resposta para a nova pergunta.

—Como sabiam que Ricardo estava aqui? Ele disse que seu carro quebrou na estrada, isso é mesmo verdade? – indagara.

A resposta para aquela pergunta definiria muito mais que uma mera dúvida sendo esclarecida para a escritora, seria a prova de que não estava louca, como parecia ao se lembrar de detalhes não esclarecidos.

—Ironicamente? – respondera a agente se virando para a anfitriã – Verdade seja dita, você é uma garota de muita sorte.

—O que quer dizer?

Maldição! – pensara Sky em silêncio. Aquela mulher era tão boa quanto ela em omitir detalhes da verdade. O que mais estava acontecendo ali?

—Vou resumir, ok? Tente me acompanhar – Sky sentira um impulso em dizer que não era uma retardada qualquer, mas mantivera a calma, apenas ouvindo – Após as primeiras vítimas surgirem com o mesmo modus operandi de um serial killer, traçamos seus perfis a fim de encontrar as similaridades que o assassino buscava. Reescrevemos seus passos e registramos os potenciais suspeitos com quem haviam se relacionado antes de suas mortes. Vinte homens se encaixaram no perfil do assassino, embora todos tivessem álibis impecáveis. Ricardo, para nossa surpresa, era um dos menos cotados, tendo menos de cinquenta por cento de chances de ser nosso criminoso – sinal de que seus especialistas deveriam ser demitidos, pensara Sky – Mesmo assim, passamos a rastrear e os seguir por toda parte. Novas vítimas apareceram próximas a quase todos, exceto por ele.

Com um certo prazer na voz, Sky cortara a explicação de Ângela.

—Porque ele estava manipulando sua investigação. Enquanto realizava os crimes, deixava pistas que os levavam para alvos errados – dissera secamente.

O olhar de Ângela agora era de ódio e o de Sky de pura satisfação.

—Eu não usaria tais palavras – claro que não usaria, pensara a ruiva – Não há como adivinhar o que se passa na mente de um psicopata facilmente. Quando entendemos o que acontecia, colocamos todas as possíveis futuras vítimas sob proteção com vigilância vinte e quatro horas por dia – as usando como iscas – E quando uma delas desapareceu, imediatamente reescrevemos seus passos nas últimas vinte e quatro horas, identificando o carro de Ricardo próximo à sua casa. Ele esperou que ela saísse e a encontrou em um mercado próximo. Depois se encontraram em uma lanchonete e por fim, ela sumiu – onde estavam os agentes responsáveis pela segurança da moça? – Passamos a procurar pelo carro de Ricardo em câmeras de segurança de trânsito e descobrimos que ele vinha para cá. Acionamos a polícia local e passamos a procurar, encontrando o veículo à margem da estrada, realmente com uma falha elétrica no motor.

—Então foi sorte que tenham chegado aqui antes que me tornasse uma nova vítima… – emendara a garota em um suspiro.

Ângela torcera os lábios. Aquela era uma garota difícil de dialogar.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo