Meu General Possessivo
Meu General Possessivo
Por: Camila Nunes
Prólogo

Olhei em direção à mesa centímetros da minha, e me sentia devastada assistindo aquela cena. Fred estava bem à vontade com a garota ao seu lado, inclusive, levava a mão dela à sua boca e a tocava carinhosamente. Respirei fundo enquanto bebericava meu martini. 

Existia horas que eu gostaria de entender por que gostava tanto de sofrer assim, ou melhor, por que perdia meu tempo com um homem tão canalha quanto ele?! Talvez eu estivesse mentindo para mim, acreditando que ele pudesse mudar algum dia.

Meu coração quebrou em pedaços quando ele a beijou, sem ao menos se importar com a minha presença. Um punhal estava a ser empurrado no meu peito, e aquilo doeu muito, quanta decepção! 

Passei a mão nos meus cabelos e disfarcei ao levar o meu copo de bebida a boca novamente. Deveria ter pensado bem antes de vir para esta festa, contudo, seria egoísmo de minha parte com o meu amigo David. Ele estava tão feliz por terminar o seu doutorado em medicina e queria que os seus amigos se juntassem a sua comemoração.

Observei mais uma vez aquele infeliz torturando-me psicologicamente, que mal notei quando minha amiga sentou-se ao meu lado. Só percebi  a sua presença no momento em que ela se pronunciou, me olhando com um semblante triste.

— Esse cara é um filho da puta! Novamente ele não pensa antes de machucar você, e ainda insiste em esfregar isso na sua cara. — percebi o quanto ela compartilhava da minha dor. A sua expressão era de pura indignação.

Passei a mão nos meus cabelos disfarçando o meu incômodo e respondi:

— Não posso fazer nada! Sabe que eu e ele não temos nada sério. A minha única opção é olhar, ou ignorar esse cretino, mas não consigo.

— Então você já sabe que os dois estão juntos de verdade, não é? — olhei confusa para Cássia e perguntei sem entender.

— Como assim juntos? Sobre o que você está falando, Cássia?!

— Amiga... – ela mordeu os lábios, se sentindo culpada. - Ele não disse nada para você? Não acredito que esse cara pudesse ser tão safado. É mesmo um cachorro sem-vergonha! — ela olhou na direção em que Fred estava, com ódio e nojo.

 E curiosa, perguntei, tentando entender:

— Não sei. O que você quer dizer com isso? Fala logo, Cássia!

— Fred pediu essa mulher em namoro, mas pela reação na sua cara ele não foi nem homem o suficiente para te contar. Que filho da puta! 

Me senti instantaneamente destruída por dentro com esta notícia. Me levantei da mesa rapidamente para sair. 

Cássia disse enquanto andava ao meu lado:

— Espere, Helena! Não saia assim, você não está bem.

Ignorei o comentário de Cássia e continuei andado até a saída. Só desejava me retirar desse lugar maldito o quanto antes. Era humilhante demais vê-lo esfregando sua nova namorada na minha cara! 

David correu na minha direção ao notar que eu estava indo embora e perguntou, sem entender o motivo, enquanto me segurava pelo braço.

— Espere, Helena! Você já está indo embora? Ainda é cedo, agora que a festa começou. 

Eu estava com os olhos marejados a ponto de explodir em lágrimas. David olhou sem entender o motivo da minha tristeza, porém, logo percebeu quando viu meus olhos seguirem na direção do lugar onde estava Fred, e disse chateado:

— Ele não tem jeito! Nem teve a decência de te dizer nada? Venha, vou te levar para casa, ursinha!

— É muito gentil de sua parte. Eu te agradeço por isso.

Meus amigos acompanharam-me em silêncio até em casa. Cássia se ofereceu para ficar comigo, porém, recusei dizendo para ela ir se divertir por mim naquela festa. Precisava ficar sozinha e colocar toda dor que aquela notícia havia me causado para fora.

 Sentei na beirada da minha cama e as lágrimas caíram incontrolavelmente. Passei três anos da minha vida implorando pelo amor de um cara que nunca me quis além de sexo. No entanto, ele não pensou duas vezes em namorar uma garota que conheceu no mês passado.

Caminhei até meu espelho vendo meu reflexo. Minha maquiagem estava toda borrada, eu estava horrível! Peguei a tesoura em cima da estante e pensei: “se tenho que mudar tudo de uma vez, que seja para algo radical, certo?” 

Sempre deixei meu cabelo comprido porque ele gostava, porém, eu iria cortar. Aquela mulher ali não era eu. Então, comecei a cortar mecha por mecha e observei o novo corte, enquanto dizia para mim mesma na frente do espelho:

— Nunca mais, Fred Lourenço, você vai me fazer de boba ou me usar! 

Fui ao banheiro e tomei um banho. Quando voltei para o meu quarto, coloquei meu pijama e abri a gaveta da minha mesa pegando o formulário de inscrição. Resolvi preencher de uma vez, não havia razão para ficar nesta m*****a cidade. Já havia passado na primeira seleção, agora era só esperar o dia de sair desse inferno.

Uma semana depois 

Como era esperado, o colégio militar me ligou informando que na próxima segunda-feira eu viajaria para a base da escola militar. Minha mãe não gostou nada da ideia, entretanto, meu pai pulou de alegria por saber que sua filha do meio seguiria seus passos.

Meus amigos fizeram uma pequena festa de despedida. Cássia não passou na seleção, mas disse que tentaria novamente no ano seguinte. 

Suspirei pesadamente pensando no meu novo recomeço, tomei um gole de suco deixando meus pensamentos vagarem. De repente senti aquele forte perfume masculino atrás de mim que eu conhecia muito bem. 

— Então é isso? Você realmente vai embora?— Fred perguntou me olhando sério.

 Tomei mais um gole do meu suco e respondi friamente, desviando os olhos:

— Sim! Não vejo a hora de sair logo desse inferno de cidade e esquecer essa vida que tenho aqui.

— Esse inferno que você está se referindo seria eu? — ele me olhou com um sorriso zombeteiro e respondi friamente jogando meu cabelo para trás. 

— Seu problema, Fred, é acreditar que o mundo gira aos seus pés, mas simplesmente não funciona assim. Não tenho que justificar minha razão de partir para você.

 — O problema não será resolvido com você fugindo dele, Helena! Você vai continuar a me amar mesmo estando longe. 

Soltei uma risada sarcástica e disse, rindo friamente:

— Não se considere insubstituível, você pode quebrar a cara. E outra, não se atreva a bater na minha janela como fez ontem à noite,  porque vou chamar a polícia. 

— Você só fala isso porque ainda está magoada comigo pelo meu namoro com a Laís. Não posso fazer nada se ela conseguiu me dar um chá, sendo que você não foi boa o suficiente para me prender. 

Nem sei quando decidir dar um tapa na cara dele. Agir apenas no automático pela raiva e comentei ríspida, enquanto ele esfregava seu rosto:

— Isso aqui é para você aprender a me respeitar, porque a cada momento que convivo com você, mais nojo eu tenho. Quero que você saiba de uma coisa; vá para o inferno com todas essas suas putas e vadias com quem você anda.

Tomei distância do mesmo e fui até meus amigos. 

Quando pensei que ele evoluiu, conseguia mostrar o quão babaca era. Acontece que agora ele era página virada na minha vida. Meu coração ainda estava muito machucado, contudo, seguirei em frente, minha vida não podia parar por uma ilusão amorosa. 

Completei finalmente a fase final da carreira militar. Foram necessários anos de treinamento e muita força de vontade para me tornar uma oficial do exército. Meu supervisor comunicou que eu iria para o quartel de Goiânia por ser a cidade mais próxima de onde me formei, organizei tudo, pois viajaria no dia seguinte.

Quando cheguei ao quartel, outros como eu foram enviados para seus alojamentos. Meu quarto seria 323, minha colega de quarto se chamava Luísa Spark, descendente de indígenas. Ela tinha cabelos compridos e negros e uma beleza exuberante, me disse que sempre morou na cidade apesar de seus pais terem um laço muito forte com seus descentes. 

Depois de estarmos instaladas, fomos para a sala de seleção onde seriam divididas as equipes e uma trabalharia ao lado do General Cortez. 

Escutei no corredor que todos temiam esse homem por ser um grosso e arrogante, soube que ele aplicava punições severas aos seus subordinados que não cumpriam suas tarefas direito. Luísa foi uma das selecionadas para sua equipe, além de uma loira chamada Brenda que fazia parte do dormitório. 

Após a seleção, caminhamos para a sala onde conheceríamos nosso futuro superior e Luísa disse, meio tenebrosa:

— Poxa, Helena, não tivemos sorte! Caímos logo com o carrasco desse homem, ouvi dizer que ele é um ogro ignorante e muito nojento. 

Respondi, lhe observando calmamente:

— Nem me fale. Contudo, será pior reclamar! Talvez se realizarmos as tarefas direito, ele não pegue muito no nosso pé. 

— Sim, rezaremos para isso acontecer. Agora é melhor andarmos, o pessoal já está quase lá na frente da sala dele. 

Apressamos o passo para chegar até os nossos colegas de trabalho.  

Assim que entramos, o general estava de pé olhando pela janela. Ao notar nossa presença, virou-se nos olhando sério. 

Nossa, que homem bonito, não tinha como não reparar em sua beleza. O que ele tinha de arrogante, tinha de lindo. Porte físico musculoso e grande, barba em forma de cavanhaque e olhos azuis, tão azuis quanto o céu, além de ser ruivo. 

Ele então se pronunciou:

— Vocês estão dois minutos atrasados! Da próxima vez, faço vocês pagarem por isso, entenderam? 

Nosso grupo respondeu em uníssono:

— Sim, senhor General.

— Ótimo! Em cima desta mesa está a pasta com as tarefas da semana de cada um, têm seus nomes nelas. Após pegarem, podem se retirar. 

Peguei minha pasta e olhei rapidamente as tarefas. Caminhei com os outros para fora. Quando de repente o general me chama.

— Soldada Hernandes, espere, você fica! 

O olhei sem entender. Por que eu ficaria, enquanto o resto poderia ir embora? O que será que fiz? 

O general Cortez me observou misteriosamente e de maneira penetrante, como se eu estivesse nua. Engoli em seco. Não gostava da forma que aquele homem estava me olhando, isso me deixou muito desconfortável.

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