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Hook abriu os olhos e gemeu de dor, sua cabeça latejou onde estava encostada no meio do mato. Sentiu o cheiro do próprio sangue escorrendo em sua testa e aos poucos foi se lembrando do que aconteceu. Seu pulso também doía por ter forçado a quebra das algemas que o prendiam.

Além do seu, ele também sentia o cheiro do sangue dos quatro homens que o prenderam. A imagem dele numa operação e de repente quatro dardos de tranquilizantes atingindo-o em suas costas antes de apagar foram claras o suficiente para ele rugir de raiva.

Havia um traidor no meio da força tarefa humana e nem que fosse sua última missão na terra, ele descobriria quem era e acabaria com a vida do maldito.

O macho se levantou cambaleando e o fedor de gasolina preencheu suas narinas, olhou adiante e encontrando os corpos dos homens caídos, todos com as gargantas quebradas. Eles até tentaram fazê-lo apagar, mas só o atingiram um vez antes dele conseguir alcançar os quatro.

Seus anos de tortura na Mercille o fizeram mais resistente a drogas e ele não apagava imediatamente com apenas um ou dois tiros.

Seu ouvido captou um barulho de gás vazando do carro, soube então que precisava correr antes que explodisse e o fogo pudesse antingí-lo. O carro não havia capotado muito para longe da estrada depois que ele agarrou a garganta do motorista.

Seus ouvidos conseguiram ouvir também o barulho de um motor de carro se aproximando. Um plano se formou em sua mente, ele iria tomar o carro ou matar o humano que tivesse dirigindo se este não aceitasse dar o carro para ele de boa e espontânea vontade.

Abigail dirigiu como se não houvesse amanhã. Sua sorte era que a via estava deserta e não tinha risco de bater em nenhum outro carro. Seu coração batia muito forte, adrenalina pura corria em suas veias até que ela notou que já havia dirigido assim por pouco mais de meia hora.

Aos poucos foi desacelerando para prestar mais atenção em algum atalho. Ela precisava achar um esconderijo e abandonar o carro que com certeza havia um rastreador.

Seu corpo deu um salto no banco e um grito escapou de sua garganta quando um corpo enorme foi jogado contra o parabrisa do carro. A freada brusca lançou seu corpo para bater no volante enviando uma onda de dor diretamente em suas costelas.

Demorou alguns segundos para sua cabeça voltar a funcionar e sua ficha cair de que alguém tinha se jogado na frente do carro, não era Markus ou Adam no entanto. Tremendo, ela saiu do veículo e caminhou hesitando até o grande corpo.

Seu queixo caiu de surpresa e choque no momento em que ela registrou os traços do grande homem esparramado ali. Não dava para ver muita coisa com o cabelo cumprido dele cobrindo parte do seu rosto, mas aquele corpo, aquele tamanho ela reconheceria em qualquer lugar já que era uma grande admiradora dos novas espécies.

Lentamente ergueu a mão para levá-la até o pescoço do homem e sentir sua pulsação, mas seu pulso foi agarrado fortemente no caminho pelo macho espécie. Ele segurou forte o suficiente para machucar, abriu os olhos e fitou Abbie com profundos olhos azuis de gato.

— Está me machucando. — a pobre garota gemeu de dor.

— Não toque em mim. — Abbie estremeceu ao ouvir o som da voz animalesca.

Hook a soltou e saiu de cima do capô ficando em pé.

— Desculpa. — murmurou alisando seu pulso vermelho e dolorido — Mas você quase quebrou meu pulso. Não precisava disso, eu só queria ver se estava respirando.

Ela era uma fêmea pequena, Hook reconheceu que poderia mesmo ter quebrado o osso dela. Culpa o atravessou. Ele não machucava fêmeas mesmo aquela sendo uma humana, e o fato dela ser miúda em comparação a ele, o fez se sentir covarde, um sentimento que detestou.

— Deixe-me ver. — o tom bruto dele a fez se encolher um pouco quando ele pegou seu braço.

Examinou o local e a pele sensível estava vermelha, a marca de seus dedos bem visível. Ele passou o dedo polegar em cima, Abbie gemeu, havia mesmo machucado.

— Você vai ficar bem. — a voz dele não estava mais tão rude agora. 

Ele aproximou o rosto do pulso dela e lambeu em cima da contusão, surpresa atingiu Abbie ao sentir a textura áspera em sua pele e instintivamente puxou seu braço.

— O que é isso? — ela tinha uma expressão de choque na face.

— Meu DNA felino permite que minha saliva tenha propriedades semelhantes a um analgésico. — Hook puxou o braço dela e lambeu novamente sem esperar por aprovação.

Ela quase engasgou quando um choque prazeroso de repente percorreu seu corpo, suas bochechas esquentaram quando algo dentro de sua calcinha pulsou ao sentir aquela língua lambendo sua pele.

Era a primeira vez que sentia essa sensação. Ela apertou os lábios segurando-se para não gemer. Estava chocada por se sentir quente enquanto o nova espécie fazia aquilo, ele era um completo estranho.

Tentou mudar o foco de sua atenção para os detalhes daquele rosto incrível e estranhamente atraente. As maçãs do rosto eram salientes, o nariz mais plano do que o normal e seus lábios eram um conjunto cheio.

Ele era muito mais alto do que seus um metro e sessenta e seu cabelo ondulado preto caia sobre seus ombros, era simplesmente sexy, selvagem, juntamente com tudo nele. Sua pele era de um tom bronzeado que contrastava na camiseta preta que ele usava esticada ao longo do peito largo e braços grossos e musculosos eram exibidos através do pano.

— Pronto. — disse ele.

Ela mexeu o pulso e realmente não doía mais como segundos atrás, ficou fascinada que ele pudesse ter isso.

— Funciona mesmo. Não vou agradecer porque foi você quem me machucou, mas isso é muito interessante.

Ele a ignorou.

— Agora preciso do seu carro, dê-me as chaves. — a voz dele estava rouca.

— Estou fugindo de alguém, eu preciso dele. Você também está fugindo?

— Só me dê! — ele grunhiu, o tom autoritário a fez se encolher de novo.

— Está bem, eu te dou, mas você tem que me levar com você.

Ela adorava os novas espécies e os admirava por sua força e história de vida, os humanos tinham uma dívida eterna com eles por todo mal causado e tudo que ela pudesse fazer para ajudar um, ela faria sem pensar duas vezes.

Hook não iria deixá-la sozinha numa estrada deserta mesmo que isso implicasse viajar com um ser humano, ele os odiava mas sua natureza não seria capaz de permitir que fizesse isso.

— De acordo. Vamos.

Apressadamente entraram no carro, Hook foi para o banco do motorista enquanto Abbie se sentou no carona. O espécie parou um segundo olhando em volta dentro do veículo.

— Você tem uma corda ou um pano? — ele perguntou.

— Eu tenho um cachecol na minha bolsa. — inocentemente respondeu.

— Me dê. — Abbie assentiu, feliz em poder ajudá-lo.

Buscou o cachecol na bolsa e entregou a ele. Seus olhos se arregalaram de surpresa quando ele segurou seus pulsos juntos e amarrou-os. Seu toque foi suave apesar de suas mãos calejadas.

— O que? Por que fez isso? Me solta! — tentou se soltar.

— Não confio em seres humanos, você pode ter uma arma escondida e tentar me atacar enquanto dirijo.

— Está de brincadeira? Você é quantas vezes mais forte do que eu? Dez?

— Não haverá discussão sobre isso. — ele decretou e deu partida no carro em alta velocidade.

— Não acredito. Eu estou ajudando você! — lágrimas quentes ameaçaram cair de seus olhos mas ela se recusou a chorar.

— Fique calada agora. — ordenou.

— Filho da mãe. — Abbie xingou.

Estava furiosa com o nova espécie, queria socar o idiota mas estava contida e seu pulso ainda doía um pouco. Se afundou no banco em forma de bola e um soluço abafado escapou de seus lábios, finalmente deixou que lágrimas quentes rolassem por seu rosto. O peso de tudo desabando sobre seus ombros.

Hook ouviu o soluço de Abbie e olhou para o lado encontrando a cena da fêmea encolhida, tão vulnerável. Culpa veio a tona de repente, acabou se esquecendo que ela disse que também estava fugindo de alguém e não parecia nada bem. Mas ele não podia confiar em nenhum ser humano nunca mais, até os de aparência mais frágeis. Por experiência própria.

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