Capítulo 3

ENZO

Corro pelo parque como faço quase todas as manhãs, acompanhado de dois soldados, Dante e Assis, os gêmeos. Correr e me manter em forma faz parte do meu treinamento. Muitas vezes enfrento homens tão fortes quanto eu, preciso sempre estar preparado. Aumento o ritmo da corrida, abandonando algumas pessoas e deixando meus homens para trás. Eles resmungam, e sorrio.

— Vocês parecem umas donzelas — digo. Os gêmeos fecham a cara, rio alto. No caminho de volta, uma mulher vem correndo em nossa direção. Ela corre como estivesse fugindo, a todo tempo olha para trás. Seu semblante parece o de uma pessoa atordoada. Propositalmente, não me afasto quando percebo que ela vai me atropelar. Seu corpo de curvas perfeitas vem de encontro ao meu.

— Olha por onde anda — digo. Seus olhos estão arregalados, sua mente trabalha por alguns segundos. Observa meu rosto atentamente, faço o mesmo com ela. Ela tenta se soltar, mas mantenho-a presa por mais um pouco.

— Por favor, não me machuque — ela pede com os olhos arregalados. A linda mulher de cabelos da cor do sol, que está preso em um rabo de cavalo, demostra medo, algo em sua mente a apavora. Para que ela saiba que não a machucarei, solto seu pulso. Ela se afasta com seus olhos sobre os meus e corre, retornando de onde veio. Fico alguns minutos parado, sem entender o que aconteceu.

— Que mulher gostosa! — os gêmeos dizem em uníssono. Não sei por que, mas não gosto; minha reação é grunhir para eles. Volto a me movimentar, mas dessa vez caminho em vez de correr. Meu cérebro trabalha naquela garota. Do que ela estava fugindo? 

Assis diz uma das suas bobagens e nós três rimos, por um breve momento me esqueço da bela garota assustada. Ouço uma voz bem distante pedindo socorro e acelero meus passos. A um metro de distância, vejo-a sendo arrasta por um homem negro de altura mediana. Corro em sua direção. Pego o homem pela camisa e o arremesso longe. Os gêmeos vão até ele, enquanto pego a linda mulher em meus braços; ela está praticamente desacordada. Dois tiros são disparados, seus olhos se fecham. Os gêmeos retornam.

— Tudo resolvido — dizem sorrindo. Logo depois, o riso dá lugar a preocupação quando eles notam a desconhecida desmaiada em meus braços.

— Ela morreu? — Dante pergunta, apreensivo. Digo que não, que ela está respirando. Ordeno que peça ao meu motorista para que venha ao meu encontro, não posso andar pelo parque com ela desacordada em meus braços. Em poucos minutos, meu motorista chega, e entro com a desconhecida no carro.

— Para o hospital mais próximo.

Os gêmeos retornam para a entrada do parque onde eles deixaram o carro. Entro com ela no hospital, e a recepcionista a reconhece.

— Doutora Vitalle? Dio mio, o que aconteceu? — rapidamente ela é colocada em uma maca e é levada para dentro do hospital. A enfermeira pergunta o que houve, digo que a encontrei desacordada no parque e a trouxe para o hospital. Não posso dizer o local exato antes que meus homens façam a limpeza, a morte desse maledetto não pode ser associada a mim.

— Qual é o nome dela? — pergunto curioso.

— Ela é a doutora Kiara Vitalle, trabalha nesse hospital. Estou grata pelo que fez por ela.

Sorrio. Kiara Vitalle, bom saber. Aceno com a cabeça e me retiro. Não tenho mais o que fazer nesse lugar. Do lado de fora, os gêmeos e meu motorista estão me aguardando. Sigo para casa com a imagem da Kiara em meus pensamentos.

**********

— Chefe?

Porra, não prestei atenção em nada que eles disseram. Não é uma boa hora para essa reunião, Kiara não sai dos meus pensamentos. Encerro a reunião, pego minha carteira, celular e minha chave, deixo meu escritório no clube e vou para o hospital.

Na recepção do hospital, pergunto por Kiara. A recepcionista me reconhece e libera minha entrada, como se ela fosse conseguir me impedir. Com a informação do quarto em que está, pego o elevador e sigo para o segundo andar. Em seu quarto, tem mais dois leitos. Não gosto disso, ela teria que estar em um quarto particular. Aproximo-me de sua cama, ela está dormindo.

Observo-a dormir. Seu rosto está um pouco inchado, e a cabeça enfaixada. Apesar dos hematomas, consigo ver sua beleza. Sua pele clara é perfeita. Uma enfermeira entra no quarto e verifica os medicamentos que estão sendo administrados diretamente na sua corrente sanguínea.

— Como ela está? — pergunto.

— A doutora Vitalle está melhorando. Ela teve uma concussão cerebral, por isso ficou desacordada por algum tempo. Ela está sendo medicada com remédio para dor. Levou muitas pancadas, por isso o doutor achou melhor a induzir a um coma de um dia para que, quando ela acordar, a dor tenha amenizado.

A enfermeira se retira, e fico perto do seu leito. Por impulso, mexo nas mechas de cabelo espalhadas no travesseiro. Seu cabelo é macio e sedoso. Um casal na faixa dos cinquenta anos entra no quarto.

Dio mio, Kiara, minha filha. — A mulher, que agora sei ser sua mãe, diz e começa a chorar. Seu acompanhante a abraça, consolando-a.

— Ela vai ficar bem — ele diz e beija sua cabeça. Penso no que estou fazendo aqui, o que me trouxe aqui? Enquanto os dois observam Kiara, caminho para a porta. O senhor me chama.

Figlio, desculpe. Nós entramos e não o cumprimentamos. Perdoe-nos, é que ficamos assustados quando ficamos sabendo do que aconteceu com a nossa figlia. Nós estávamos em outra cidade, por isso que chegamos agora. Você é amigo da dela?

— Eu não…

Não consigo concluir, porque uma enfermeira que não lembro de ter visto antes entra no quarto e diz aos pais da Kiara que eu que a encontrei desacordada e a trouxe para o hospital.

— Muito obrigada, mio figlio, se não fosse você… Não quero nem pensar. — A madre da Kiara me abraça e chora com a cabeça em meu peito. O padre dela aperta minha mão e me dá um abraço assim que sua mulher me solta. O meu plano de entrar e sair sem que alguém da sua família me visse foi por água abaixo. Eles pedem que eu conte o que aconteceu. Fico na dúvida, não sei se Kiara me viu tirando o homem de cima dela. Acho melhor dizer a verdade, ocultando algumas partes, é claro.

— Estava caminhando com meus seguranças quando ouvi um pedido de socorro, corri e a vi no chão sendo arrastada por um homem. Tirei-o de cima dela, na mesma hora ela desmaiou. Meus seguranças foram atrás dele, mas não encontraram. Ele sumiu no meio da mata.

Dio mio, Guido, se não fosse esse rapaz nossa filha estaria morta — a mãe dela choraminga.

— Não sei como te agradecer, figlio.

— Não precisa, o importante é que ela fique bem — declaro.

— Me perdoe a falta de educação, qual é o seu nome?

— Enzo, Enzo Mancinni.

Observo Kiara mais uma vez antes de ir embora. No caminho, tento entender por que vim vê-la. Por que não consigo parar de me preocupar?

Sobre o corpo inerte da minha esposa, prometi não mais me envolver emocionalmente com mais ninguém. Desde seu falecimento, venho fodendo mulheres sem compromisso, nossos encontros são apenas para nosso prazer. Tenho evitado foder diversas vezes a mesma mulher para não me apegar e ter minha vida virada de cabeça para baixo outra vez. Tenho que me afastar da Kiara, nunca mais vou deixar uma mulher foder de novo com minha vida. 

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