Capítulo 1

Dias atuais...

Me sinto um estranho usando terno preto, gravata na mesma cor, camisa social branca e sapato social. 

Minha mãe quer que eu esteja todo elegante para conseguir hoje ser contratado no meu tão almejado trabalho dos sonhos. 

Faço uma careta ao me olhar no espelho, meu cabelo está bem arrumado, tem inclusive um topete ali, mas isso me deixa até bonito. 

Meus olhos azuis-escuros fitam o espelho nervoso e repito para mim mesmo. 

— Respira, tudo vai dar certo... 

Sempre fico nervoso em entrevistas, até pareço ainda ser um adolescente. 

Oras, sou um homem barbado e não preciso ficar com medo, afinal é só uma entrevista.

Me examino mais uma vez e saio do quarto.

Minha mãe me olha com um brilho no olhar, pois me acha lindo de terno. Já eu faço uma careta e ela diz se aproximando não ligando para minha cara: 

— Está lindo, meu GAROTO — diz toda empolgada, dizendo a palavra “garoto” mais alto do que o normal. 

— Obrigado, dona LÚCIA — digo no mesmo tom que ela. 

Minha mãe bate no meu ombro de leve e seguimos para a cozinha para tomarmos nosso café da manhã.

Sempre passo as sextas, sábados e domingos com meus pais. Eles moram em uma chácara, já eu moro na cidade. Adoro a movimentação que a cidade proporciona, mas estar perto da natureza é algo incrível e faço questão de passar esses dias com eles. 

Trabalhei com meu pai por um tempo e por isso tenho um bom dinheiro guardado, não que meu pai não me bancasse se fosse preciso, mas não aceito e quero crescer com minhas próprias conquistas. 

Meus pais não são ricos, mas tem dinheiro suficiente para me proporcionar uma boa vida. 

Depois de terminar de tomar meu café, me despeço da minha mãe e sigo para o meu Audi A4 preto. Entro nele, coloco meu cinto e dou partida.

Não demora muito e chego na editora “Enthan”. Estaciono meu carro, entro na editora e digo a recepcionista que tenho uma entrevista. Ela pega o telefone e após algumas palavras me pede para esperar um minuto que já irão me chamar. 

Olho para o relógio e percebo que falta exatamente dois minutos para minha entrevista começar.

Relaxo sentado na cadeira até que vejo uma porta se abrir e uma mulher de cabelo ruivo e ondulado sair. 

— Senhor Carl, por gentileza. 

Me levanto, seguindo em direção a mulher que abre mais a porta para que eu entre. Ao entrar na enorme sala percebo que ela está bem fresca e tocando uma música calma que não sei quem canta.

Observo a mulher se sentar na mesa ao lado e começar a mexer em um monte de papéis enquanto um homem de cabelo grisalho vem em minha direção. Ele estende a mão e diz: 

— Senhor Carl Done, seja bem-vindo, sente-se, sou o senhor Jones.

Me sento perto da enorme mesa na cadeira indicada quando o senhor diz:

— Bom, senhor Carl, vamos começar.

A entrevista começa, ele pergunta em que sou formado e respondo que sou formado em direito e letras, além de ser fluente em quatro idiomas e ter conhecimentos de informática. Ele fica impressionado e diz que irá me ligar em alguns dias.

— Sue, quer perguntar algo ao senhor Carl? 

A mulher me olha com seus olhos verdes intensos e diz com a voz baixa:

— Não, o senhor fez todas as perguntas necessárias. 

O homem sorri e diz: 

— Tudo bem, obrigado por vir, te ligamos em breve... Até mais. 

Sorrio e me levanto. 

A mulher me acompanha até a porta e a abre. Observo melhor a mulher que é baixa, muito linda e tem olhos que me encantam de certo modo. Ela parece ser uma mulher confiante e decidida. 

Agradeço a ela ao passar pela porta e saio da editora. 

******

Passam alguns dias e me encontro na chácara dos meus pais os ajudando. Estou alimentando as galinhas, jogo vários milho para elas no chão e todas se agitam vindo em minha direção para comerem. Depois de alimentar as galinhas, saio trancando o galinheiro.

Sei que não preciso ficar procurando emprego, afinal tenho dinheiro para me sustentar e posso ficar ajudando meus pais nos cuidados com os nossos negócios, mas confesso que sonho desde meus 15 anos de idade em trabalhar em uma editora. 

Meu pai é corretor de imóveis e ganha um bom dinheiro nas comissões, já minha mãe vende queijo, bolo, requeijão dentre outras coisas e mesmo tendo um bom status social, eles são pessoas muito simples. 

Tenho 28 anos e sempre ajudei meu pai na chácara e na rede social tanto da sua imobiliária como dos negócios da minha mãe e graças a Deus, muita gente tem os procurado.

Como ainda não atingi meu objetivo de trabalhar em uma editora, ajudo nos cuidados com os animais e plantações que tem aqui quando venho nos finais de semana e tudo o que eles precisam.

Depois de tomar um banho morno, coloco calça jeans, camiseta de manga preta, arrumo meu cabelo e respiro fundo. Essa é maneira que adoro me vestir. 

Sigo até meu carro para ir até a cidade e antes de dar partida meu celular toca. Pego o aparelho, vejo que é um número desconhecido e atendo rapidamente. 

Uma voz grossa e conhecida diz do outro lado.

— Carl, tudo bem? É o senhor Jones da editora Enthan lembra-se? 

Agora sei perfeitamente quem é. 

Antes de respondê-lo, ele prossegue. 

— Bom, analisamos seu perfil e queremos que comece na segunda-feira às sete em ponto. Sue te mostrará onde irá trabalhar, seja bem-vindo, Carl. 

Respondo todo contente, pois aquela notícia é maravilhosa. 

— Obrigado, senhor, até segunda.

Escuto uma risada pelo telefone e em seguida ele desliga.

Decido não ir mais para a cidade e logo volto para a casa dos meus pais. Conto a novidade a eles sorriem contentes, minha mãe me abraça e meu pai aperta meu ombro. 

Lúcia e Walter são pais maravilhosos, mesmo não sendo meus pais biológicos.

Quando tive idade para entender as coisas, eles me contaram a maneira inusitada que entrei na vida deles. Uma nave de médio porte atingiu a horta deles e por muita sorte não me machuquei. Meu pai correu assustado e foi até a nave com uma lanterna, pois era noite. 

Quando chegou próximo a nave, abriu a porta e viu uma criança de cabelo escuro e liso dormindo. Ele achou tal coisa estranha e olhou para o céu assustado à procura de alguma explicação. Sem respostas, me pegou em seu colo e percebeu que tinha uma bolsa dentro da nave. Ele a pegou e seguiu comigo em seu colo para dentro de casa.

Minha mãe me aceitou na hora, me pegou e me ninou enquanto meu pai abria a bolsa, lá havia uma carta e um papel com meus dados, onde tinha escrito em letras maiúsculas o nome de uma pedra que poderia me destruir e por isso não deveria ter contato com ela em hipóteses alguma. 

Lúcia e Walter não podiam ter filhos infelizmente, mamãe não conseguia manter uma gravidez mais do que algumas semanas e depois de diversas perdas eles decidiram desistir do sonho de ter um filho. Quando cheguei eles falaram que fui enviado por Deus para completar a felicidades deles e me acolheram com todo amor e carinho. Eles conseguiram obter uma certidão de nascimento, dizendo que havia nascido na Califórnia, com a ajuda de um amigo do meu pai e passei a ser filho legítimo deles naquele dia.

Na carta encontrada dentro da nave havia apenas poucas palavras.

“Voltaremos para você, Carl, e explicaremos tudo.

Mamãe Elis e papai Raymond, te amam muito, meu garoto.”

Confesso que ao ouvir a história pela primeira vez, questionei e muito porque parecia ser algo fora do comum, mas após ver a carta e parte da nave acreditei em tudo que haviam me contado. 

Desde meus 15 anos tenho sonhos estranhos contendo algumas mensagens e sinto que são mensagens dos meus pais biológicos. No sonho, eles sempre se referem a uma coisa ruim que está por vir e que tenho que estar preparado para enfrentá-lo.


Após pensar nisso tudo decido ir para meu quarto. 

“Se algo ruim acontecer, tenho que estar preparado...”

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