Cléris
O príncipe adentra pelo hall de entrada do palácio de Cléris. Em seguida pisa no tapete vermelho enfeitado nas suas laterais com vasos de rosas brancas e pretas. Pelo lado de fora, há um grande alvoroço em torno de uma invasão de suas tropas na noite anterior.
-Guntter- ele entra e logo chama pelo mordomo que está distraído trocando alguns ramalhetes de flores de um vasinho de cristal para outro.- Ordene aos cocheiros que preparem cinco dos meus melhores cavalos.
O idoso se vira, seus olhos atentos abrigam olheiras na parte inferior.
-Perdoe-me alteza, o que disse?
O rapaz já irritado, repete:
-Ordene ao cocheiro que prepare para mim cinco dos meus melhores cavalos.
- Algo de importante, alteza? – intrometido o mordomo questiona.
-Estamos a nos preparar para uma possível resposta de Montelite. Não somos ladrões de bebês. – bufa – Os atacamos ontem a noite que estariam mais vulneráveis. Victória Pietroni cometeu um tamanho erro em resgatar um pesadelo de 17 invernos atrás.
O que muitos naquelas regiões não sabiam, era que a rainha de Montelite, Victória Pietroni, estava esperando dar a luz à uma criança. O fato é que ao nascer,seu bebê foi roubado. A primeira decisão é de acusar seu inimigo, o pai de Nathan, rei Rick Velásquez. Foi então enviada por um mensageiro uma carta de acusação para Cléris. O rei em resposta sentindo-se ofendido declara guerra à Montelite como antes à anos atrás em outras gerações.
-Nathan!- Lorena V., a esposa do rei Rick entra no salão, exibindo suas luxuosas vestes douradas detalhadas por esmeraldas. – Filho onde está seu pai?
-Mãe...- príncipe Nathan a do abraça com ternura – Papai acompanhou os soldados para organizarem uma convocação de guerra contra Montelite. Quer tentar um reforço do rei de Estelar do Sul.
- Meu Deus – a rainha põe as mãos na cabeça- Achei que não seria preciso tanto, meu filho. Eu tentei acalmar teu pai.
- Ele está certo mãe- Nathan retruca- Este ataque ontem foi apenas um aviso.
Vendo o quão teimoso é o filho, Lorena V finge que concorda.
-Muitos mortos? – pergunta por fim
- Seis dos nossos soldados e trinta e dois de um vilarejo que atacamos. Algumas crianças também...
- Posso ver o sangue nas suas roupas – ela observa.
O príncipe deveria conduzir as tropas do pai rumo ao ponto em que iria acontecer a convocação. Boa parte dos soldados de Rick Velásquez ainda estava no palácio esperando as ordens de sua alteza. Ali tudo era muito parecido com Montelite, nublado e tristonho, com ausência de cantos de pássaros ou algo alegre do tipo. Exceto por corujas que pareciam não se cansar de emitir um som semelhante a um gorgolejo cada vez que um soldado passava rente ao galho da árvore em que estava.
O céu está escuro, contendo manchas como se algum pintor o tivesse aquarelado de cinzento e preto. Ainda amanhecendo, o sol parece preguiçoso. A neve encobre os campo e cumes, enfeitando de branco as copas das árvores. Duendes e fadas brigam pela posse de pequenos ramalhetes de flores do campo que o gelo ainda não destruíra. As criaturas mágicas das florestas de Cléris moram em buracos nos caules de árvores imensas. Muitas fadas noturnas dormiam enquanto o dia raiava, cobertas por seus leves mantos tecidos em poeira de estrela.
As nuvens de tempestade assustavam até mesmo esses pequenos seres, que há séculos conheciam bem o ambiente dos reinos, sabendo que a última vez que o tempo esteve assim foi à 45 anos atrás, quando Cléris e Montelite entraram em guerra.
Agora mais uma vez após quase cinquenta anos, o clima estava pesado mais uma vez. Uma tempestade se aproximava, intimidando até mesmo as bruxas dos bosques, que lançam benzeduras e rituais fantasmagóricos ao relento, a fim de mandar a tormenta embora. Nathan apeia do cavalo, seguindo a pé ao lado de seu mais fiel companheiro, Pablo Romeu. O grandioso portão de ferro que separava Cléris de Montelite estava lá, trancado.
-Parece que por enquanto está tudo tranquilo- Nathan murmura a si mesmo.
Ali há um muro de pedras lisas construído por escravos de fazendas próximas para dificultar possíveis invasões.
-Quais são as ordens de vossa alteza?- Pablo Romeu pergunta enquanto caminha apressado.
Nathan olha para o céu pela vigésima vez, preocupado com a escuridão das nuvens.
-Vou esperar as ordens de meu pai- conclui, indo na direção do rei, que está ocupado conduzindo seus homens para colocarem pedras em uma carroça.
-Pai?
Rick V vira-se parecendo irritado.
-Meu filho. Vejo que trouxe com competência meu exército.
- Nosso exército – o lembra – Mamãe está preocupada. Ficou com minha irmã.
-Deixou soldados na espreita do palácio?
O príncipe confirma, assentindo.
-Mamãe e Nathiely estão seguras. Para que é estas pedras? – muda de assunto.
O rei sorri de forma desdenhosa quase em uma malícia.
- Apedrejamento é uma boa forma de matar Montelianos, não concorda?
Nathan sorri em resposta, porém com o coração um tanto afetado.
-Claro. É certamente sem volta.
Pablo Romeu que havia se afastado, retorna.
-Majestade,- diz ao rei curvando-se, que o olha atento- Desde ontem estive preparando soldados. Alguns são inexperientes ainda. Jovens.
-Eles aprendem – afirma o rei – Todos são inseguros no começo.
- Um deles está chorando, majestade . Disse que foi obrigado a vir, que tem família, a esposa teve um filho. – Pablo R continua.
- Mate-o – diz Rick em total calmaria.
O soldado arregala os olhos diante daquilo, inclusive Nathan parece perturbado com a insignificância do pai. Rick larga um charuto no chão.
-O que estão me olhando?- pergunta- Mate-o. Quem não ajuda também não deve atrapalhar. É tão difícil para você matar um homem?
-Majestade..não seria o caso de mandá-lo embora para sua casa?
O rei o olha impaciente enquanto prepara-se para mastigar mais um charuto.
-Enfie a porcaria de uma espada nas entranhas dele! – grita.- Quer que eu faça isso? Se eu tiver que fazer isso, você será o próximo! De nada me serve um soldado que não é capaz de matar e rir disso depois!
- Acalme-se pai. – Nathan pede ao mesmo tempo que faz sinal para que o companheiro execute o mandado. Depois de alguns minutos que Pablo Romeu sai,se escuta o grito de um homem. Um grito de dor,em seguida outro e outro. O rei vidra os olhos.