Capítulo 2 Hidromel

Hades assumiu um lugar ao lado de Poseidon, Zeus deu continuidade a cerimônia, toda a névoa gelada se dissipou e o salão voltou ao seu brilho do ouro e das flores.

— Ele não deveria estar aqui! — murmurou minha mãe ao meu lado.

— Ele é um deus como todos nós, tem o direito de estar aqui mãe. — retruquei.

Ela me encarou com seus olhos castanhos como se eu fosse uma tola por dizer tais coisas.

— Seu coração é negro como o céu noturno Perséfone, não se engane! — exclamou para mim.

Dei de ombros, e não retruquei porque não queria continuar aquela conversa.

— Então Afrodite cedeu as ordens de Zeus.—  pronunciou Hermes para nós, nos desviando do assunto de Hades.

Zeus proferia suas palavras selando o casamento de Afrodite e Hefestos.

—  Ela não tinha escolha alguma. —  Ressaltou Apolo se juntando a nós.

Meu coração acelerou de novo.

—  Uma pena, uma jóia com tanta beleza dada assim a ele. — se lamentou Dioniso, com seu odre de vinho em mãos.

Zeus terminou suas palavras e selou o casamento dando início a festa.

—  Que comece a festa! Vamos beber! —  Dioniso comemorou e seguiu atrás de um grupo de ninfas que soltavam risinhos para ele.

Minha mãe seguiu comigo para o meio da festa e no caminho paramos para conversar com Athena e Hestia, eu as ouvia conversar sobre a presença indesejável de Hades, este permanecia isolado apreciando as danças das ninfas em um canto ao lado de uma coluna.

Observei aquele homem cuja presença incomodava tanto os deuses, não olhavam diretamente para ele e nem se quer falavam com ele, sua aparência sombria o destacava dos demais deuses, seu olhar cinza percorreu todo o salão novamente como fizeram em sua entrada, repousaram em mim uma segunda vez.

Um cinza tão profundo como as estrelas sobre o monte Olimpo pensei, não consegui desviar os olhos daquele cinza tão poderoso.

—  Ele não é tão ruim quanto pensam.—  Hermes afirmou ao meu lado, sem perceber eu havia me afastado de Deméter e parado a uma curta distância de Hermes, alguma coisa naqueles olhos havia me distraído completamente, eu havia ficado submersa enquanto o olhava.

—  O que está bebendo? — perguntei diante da taça dele.

—  Experimente. —  ele sugeriu erguendo a taça em minha direção.

Aceitei a taça e bebi o líquido, era doce, mas não um doce enjoativo era suave, e acabei por tomar tudo.

—  É Bom . O que é? —  perguntei.

—  Hidromel. — Ares respondeu me entregando outra taça cheia.

Aceitei um pouco surpresa com sua presença repentina.

—  Não o vi se aproximar. —  comentei.

Ele sorriu me fitando da cabeça aos pés e seu olhar se fixou em meu decote por um longo momento, eu começava a me arrepender de ter escolhido tal roupa para a ocasião.

— Melhor eu levar você para sua mãe Perséfone. — Hermes sugeriu segurando meu braço delicadamente mas o modo como se posicionou entre mim e o outro deus era claramente protetor, a mão de Ares o interrompeu em seu ombro, e mesmo que não fosse o meu ombro que ele tocava eu pude ver a pressão que fez no ombro de Hermes, seus músculos rapidamente se retesaram em reação a Ares.

Eu também fiquei tensa prevendo o que poderia vir a seguir.

—  Deixe sua mãe se divertir Perséfone, vamos beber, hoje é um dia de comemoração, afinal o casamento de sua amiga.— anunciou Ares com naturalidade apesar de ainda pressionar o ombro de Hermes, seu olhar era soberbo.

—  Vou beber com Hermes. — respondi do modo mais definitivo que pude.

Ares me encarou por um breve momento até retirar sua mão do ombro de Hermes.

—  Você parece mais uma mortal tímida do que uma deusa.— retrucou com rispidez, o que eu já esperava.

—  E você parece uma cadela no cio meu irmão. — rebateu Hermes intrépido.

Os olhos do deus da guerra antes claros se tornaram vermelhos como um incêndio, e eu não duvidava que dentro dele algo estava em chamas, seu temperamento explosivo estava prestes a vir á tona, porque com o deus da guerra não existia discussões, só guerra.

—  O que disse?! — esbravejou Ares pegando em sua espada, Hermes mostrou os punhos mas antes que fizessem algo me coloquei entre os  dois deuses que estavam prestes a romper a paz do casamento, e eu sabia que para Ares isso não significava nada, porque ele parecia só entender a guerra.

Então algo me ocorreu para apartar aquele embate quase inevitável.

—  Parem você tem razão Ares hoje é uma comemoração, vamos beber! —  anunciei virando a taça de hidromel de uma só vez.

A falsidade em minha voz era nítida mas ele não pareceu se importar com isso.

Segui para o salão sentindo a música que tocava, minha mente girava junto com as musas de Apolo que dançavam e vi que era muito fraca para bebidas.

Senti uma enorme vontade de dançar com elas e me juntei as mesmas na dança envolvente.

Olhei ao redor e vi Afrodite dançar quase nua, bebia de uma taça e era admirada por Hefestos que permanecia ao seu lado, bom pensei, ele cuidaria bem dela.

uma doce voz embalou minha mente me fazendo girar no salão com as musas uma voz iluminada, suave e melodiosa.

A musa mais velha das nove musas de Apolo cantava nesse momento, ele tocava.

Me deixei levar por aquela voz.

Caliope era conhecida por ter a mais bela voz das musas e seu título era mais que merecido, fiquei profundamente embalada naquela voz.

—  Venha Perséfone vamos dançar mais! — me chamou Talia, a musa das festividades, como sempre animada.

E logo me senti embriagada com a voz, com as danças das musas e com o Hidromel que não paravam de me oferecer.

— Aqui Perséfone! — Dioniso me ofereceu outra taça de Hidromel e mais uma vez tomei em um só gole.

Era delicioso demais.

Talia subiu em cima da mesa e dançou, Afrodite se juntou a ela.

Fiquei no chão observando as duas dançarem eu sentia muita alegria naquele momento e de repente minha mente viajou para aqueles olhos cinza profundos.

Onde estaria ele?

Olhei ao redor o procurando sem sucesso.

Não estava em lugar algum talvez tenha se cansado de ser encarado, continuei a dançar me perguntando como eu não havia provado Hidromel antes?

Era incrível.

Senti mãos me puxarem pela cintura e meu coração se aliviou quando virei e reconheci Hermes.

Sorri para ele, um sorriso embriagado com certeza.

—  Hermes vamos dançar e beber! —  gritei para ele em meio a música alta.

Me senti tonta e desequilibrada, Hermes me segurou em seus braços me erguendo do chão.

—  Você já bebeu demais. — o ouvi dizer e andar comigo para longe.

Fechei meus olhos enquanto era carregada por ele e senti uma brisa suave em meu rosto.

Os abri e vi um bosque repleto de flores azuis.

Hermes me colocou deitada sobre flores recostada a uma árvore, olhei para ele e fiquei assombrada com sua metamorfose.

Aos poucos o rosto que eu conhecia e confiava se deu lugar a um rosto conhecido, porém não confiável.

—  Dioniso! — exclamei em choque.

—  Sim, vamos beber em um lugar reservado Perséfone longe dos deuses. — anunciou ele malicioso.

—  Você realmente a trouxe Dioniso. — uma voz tremendamente assustadora surgiu por entre as árvores e quando olhei na sua direção o deus da guerra saiu da penumbra, a luz da lua o iluminou e eu estremeci.

—  Não! —  esbravejei e tentei me levantar mas me sentia tonta e cai novamente sentada na árvore, eu me sentia frágil e desamparada, se eu gritasse alguém ouviria? Duvidava disso.

Talvez eu devesse lutar, refleti mas logo Isso pareceu idiota só Zeus poderia parar Ares agora.

Era um pesadelo estar sozinha com esses deuses pervertidos, não podia acreditar no que estava acontecendo comigo.

—  Pare de agir como uma criança Perséfone, só vamos beber, nós três. —  exclamou Dioniso.

Há sei! Nem ele mesmo acreditava nisso porque logo caiu na gargalhada.

—  Não ousem se aproximar de mim nenhum dos dois! — os adverti.

—  O que tem de bela, tem de chata. —  exclamou Ares. Que audácia a dele, mas não tive chance de retrucar porque ele

em seguida avançou contra mim.

Rasgou minhas vestes com violência enquanto eu me debatia e gritava, tentei empurra-lo em vão, era extremamente forte para mim, era como empurrar uma rocha!

Não!

Não poderia acontecer assim, não..

Era tudo que eu pensava naquele momento e me perguntei se Hermes se estivesse aqui me protegeria, senti as lágrimas descerem quentes e salgadas, então resolvi lutar com mais afinco, lutei em vão porque ele era forte demais e quando eu estava completamente dominada por ele, sem nenhuma resistência olhei para o bosque, para as árvores, se aquilo tinha que acontecer eu não guardaria nenhuma lembrança de seu rosto, foi nesse momento que  vi o bosque ser coberto por uma névoa negra e densa.

O frio se instalou e eu senti uma inexplicável esperança.

Em um segundo Ares foi arremessado para longe batendo de encontro a uma enorme árvore, o tronco se quebrou quando ele se chocou com ela, coitada da pobre árvore foi o que eu pensei.

Dioniso desapareceu pela floresta antes mesmo de Ares se chocar contra a árvore.

Quanta bravura!

Então virei minha atenção para a figura  sombria diante de mim,  Hades me fitava com seus olhos cinzas com ódio, mas o ódio não era dirigido a mim, e sim a Ares, ele pecorreu rapidamente o olhar por minhas vestes destruídas e eu me encolhi tentando me preservar de algum jeito.

Ele se virou para Ares que se levantou após se recuperar do choque inicial.

—  Volte para o seu inferno Hades, isso não tem a ver com você, este não é seu reino! — vociferou Ares.

Hades permaneceu com sua expressão impassível.

Com seu garfo tocou o solo duas vezes, de repente o chão embaixo de mim se desfez..literalmente ele se desfez!

Eu fui caindo no vazio, sendo totalmente tragada para a escuridão.

Nota da autora.

Dioniso é o deus do vinho, das festas, das loucuras, filho de Sêmele e Zeus viveu por anos como um semideus até se tornar um deus vivendo no Olimpo.

Hidromel é conhecida como a bebida dos deuses.

Se gostou por favor comente que me incentiva a continuar.

Lembrando que é baseada no mito, mas com minha visão sobre ele, então irei acrescentar ou retirar coisas.

Obrigada por ler.

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