Capítulo quatro

Chegamos ao assustador ensino médio, não foi fácil chegar até aqui, a luta com minha mãe sempre doente, os médicos dizendo que ela tinha um problema de imunidade baixa e falta de vitamina D, passavam vitaminas, mas ela estava sempre com algum problema, e cada vez mais fraca.

Eu ainda era a nerd inteligente da escola, era elogiada sempre, por colegas e professores, tinha uma turminha do fundão que não curtia e queria de todo jeito me detonar, mas como não me importava eles ficavam quietos, mas sempre inventavam algo a mando da Jaqueline, a "Jack" para eles. Menina fútil e "burra", na forma mais literal da palavra, tudo para ela era se aparecer e ter seguidores "acéfalos", assim como ela.

Infelizmente, no segundo ano tivemos uma notícia, não muito boa para nós, nossa querida amiga Dulce, teria que partir, seu pai conseguiu um novo emprego na grande Sobral, por isso a família toda se mudaria para lá.

Fizemos uma pequena despedida na última sexta—feira com Dulce, eu recortei uns papelões e colori, fiz um grande banner com a foto de nós três, as melhores amigas, e uma despedida discreta "Até logo Dulce" "nós te amamos". Colamos vários corações simbolizando nossa amizade.

Pedimos a autorização da diretora e professora para entrarmos mais cedo na classe e preparar tudo, sem que Dulce soubesse, quando ela chegou todos se emocionaram com a homenagem, menos a Jack e seu grupinho.

—Graças a Deus, menos uma otária no trio de estranhas. —Jack passa bufando, indo para o final da sala com seus súditos, e cada uma faz questão de bater no meu ombro.

Eu e a Carmen abraçamos fortemente a Dulce, beijando sem parar, revirando os olhos para as garotas insignificantes.

—Amiga, ainda bem que você vai se livrar dessa pessoa, vai nos deixar aqui, sozinhas para enfrentar essa topetuda. —Carmen fala, e caímos na gargalhada.

Olhando para o fundão, vejo Jack e seus súditos cochichando, mas ignorando-a, eu digo para minha amiga.

—Vamos sentir muito sua falta Dulce, te amamos demais, vê se não nos esquece está bem, dona.

—Claro meninas, vocês foram as pessoas mais importantes em minha vida, desde a primeira série, achei que jamais conversaria com alguém, e vocês me fizeram a melhor companhia, hoje estamos aqui, todas choronas, mas eu vou visitar vocês, sempre que puder, nem é tão longe assim, a pequena Forquilha do município Sobral, são só vinte minutos de carro, dá para vir de bicicleta.

Dulce falava e ria, tentando disfarçar sua tristeza e nó na garganta de deixar suas amigas e ir para um lugar onde não conhecia ninguém.

Mas alguma coisa em Dulce, não estava certo, mesmo com todas nós tristes por sua mudança, o semblante dela era diferente, seus olhos sempre abaixados, não olhava diretamente nos olhos, sempre que eu chamava para ir em casa ela arrumava uma desculpa desconcertante, ultimamente ela se mostrou muito estranha, isso estava me preocupando.

Terminamos nossa aula, tristes e chorosas, e suportando as provocações da mísera menina topetuda.

—E aí Dulce bizarra, porque não leva seu trio "alien" com você? Imagina como seria perfeito, se livrar das três estranhas da escola. —Jack falava e todas gargalhavam, como se isso tivesse graça. Quando ela levantava a mão, todas paravam de rir imediatamente, era como se ela fosse a deusa deles.

Cristian olhava tudo de longe com um semblante inconformado com o que Jaqueline fazia, ele era filho do fazendeiro mais rico de Forquilha, eram "poderosos". Até que ele não aguentou e veio até o grupinho.

—Jack, já chega, tenta respeitar pelo menos o momento triste das meninas poxa, se coloca em seu lugar garota. —Cristian falava e suas orelhas ficavam vermelhas, não sei se de raiva ou timidez. Isso me encantava nele, era tão fofo.

—Ui... ui... ui..., temos aqui um defensor dos indigentes, o que foi Cristian, é sua namoradinha? —Jack falava e olhava para seu grupo, esperando alguma aprovação de todos que, apenas meneavam a cabeça positivamente.

—Vamos meninas, ignorem essas desfavorecidas de inteligência. —Cristian nos guiou até a saída da escola. Seguimos para minha casa, a despedida continuaria lá. Fomos até em casa comentando a atitude de Cristian.

—Ah, além de lindo e fofo, ele ainda é rico né meninas. —Carmen dizia e seus olhos brilhavam.

—Não importa riqueza Carmen, você viu como ele foi fofo, acho que estou apaixonada. —Eu disse e fiz um coração com as mãos. E você Dulce, o que achou?

Dulce estava quieta, não parecia muito feliz, sabíamos que a mudança mexeu com ela, mas na minha opinião tinha algo a mais que ela não queria nos dizer.

—O que interessa agora né meninas, eu vou embora para bem longe, sabe—la Deus se eu vou encontrar amigas tão especiais como vocês, e um Cristian para eu paquerar. —Dulce falava com a voz embargada, e seus olhos marejavam, olhando em algum lugar inespecífico.

—Oh amiga, não fique assim. —Eu e Carmen a abraçamos com carinho e chegamos em casa, agarradinhas como uma corrente.

Mamãe como sempre, já estava com o almoço pronto sobre o fogão a lenha e aquele cheiro delicioso de comidinha caseira, ela sabia que minhas amigas viriam, eu a tinha avisado, então comprou meio quilo de carne e batatas, fez uma carne de panela que dava para sentir o cheiro desde a entrada da casa.

—Hummm, sua mãe parece ser uma ótima cozinheira. —Dizia Dulce enquanto farejava o cheiro.

—Sim, minha mãe é uma super chefe de cozinha, vamos logo almoçar que estou "varada" de fome?

Jogamos as mochilas na minha cama e fomos correndo para a cozinha, mamãe recebeu minhas amigas com muito carinho, como sempre, ela é uma mulher doce, simpática e muito carinhosa, só que quando foi abraçar Dulce, minha amiga se retraiu, parecia muito tensa, eu não entendi nada, talvez fosse porque ela não conhecia muito bem a minha mãe.

Almoçamos como "dragas", e minha mãe disse:

—A comida está uma delícia, mas a cozinha é por conta de vocês, aproveitem que a união faz a força, arrumem a cozinha e depois fiquem à vontade para fofocar coisas de meninas, sem papinho de namorado ouviu, dona Suzan.

Soltamos uma deliciosa gargalhada e concordamos com senhora Débora, ela que mandava.

Terminamos tudo, nos enfiamos dentro do quarto e fofocamos até tarde, até que a mãe de Carmen, a super protetora, ligou e pediu para filha ir para casa porque já estava tarde. Aí foi nosso pior momento, última vez que abraçaríamos nossa amiga Dulce, choramos para valer.

Minha mãe tentou nos acalmar, dizendo que não era um adeus e sim, um até logo.

—Você não entenderia essa dor mãe, é como levar um pedaço de nós. —Eu disse com a voz embargada e lágrimas escorrendo desenfreadamente dos meus olhos.

—Eu já senti dores piores minha filha. —Minha mãe murmurou baixinho e entrou para dentro da casa nos deixando no portão, agarradas e choronas feito três bebezinhas.

Minhas amigas se foram, agora era eu e minha mãe, e meu pai que mal aparecia nas conversas de mulheres. Entrei e encontrei minha mãe com os cotovelos na mesa e as mãos no queixo e lágrimas caíam desenfreadas. Procurei o meu pai e não encontrava em lugar nenhum.

Fiquei sem saber o que fazer, simplesmente abracei minha mãe e fiquei ali, deixei que nossos corações se conectassem.

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