DOCE ENCANTO

Sou tímida e muitas vezes isso me atrapalha, não sei lidar quando tem olhares em minha direção e não gosto de ficar em público. Talvez seja uma maneira de não me envolver com ninguém, de não me apaixonar e sofrer. Acredito em contos de fadas, mesmo sabendo que não existem. Assim como acredito que a primeira vez tem que ser especial. Se ainda sou virgem ? Sim e não me envergonho. Gosto de me reservar e quero entregar me àquele que será meu primeiro e único amor. Todos os dias espero a oportunidade de estar com quem gosto e amanhã será o dia que tanto desejei, mesmo que de forma insignificante.

 Acordo cedo e vou para a escola, é um dia tenso porque farei prova em dupla com o Matt. Ele é um dos alunos mais bonitos da escola e mais cobiçado. Claro que não sou o tipo de garota que ele gosta, mas tenho muito carinho por ele, já faz um bom tempo. Mas não posso deixar ele perceber, caso contrário serei uma piada á ser contada por anos, e para o azar dele a escolha da dupla na prova foi feita pelo professor.  A aula se inicia, sentamos lado a lado e nos preparamos para fazer os exercícios. Ele me olha e disfarça, olha para o lado e sorri, me deixando constrangida. 

- Oi Matt, você está bem?

-Hã? O que você disse?

- Nada. Quem começa a responder?

-Pode ser você garota.

Ele nem se dá ao trabalho de dizer meu nome. Não sei se, por que não sabe ou se por sua arrogância ser maior que sua educação.

- Agora  é sua vez de responder, Matt. 

Faço questão de falar seu nome, mas não faz diferença.

Vez ou outra ele olha para a Sophia, a garota popular da escola, que além de ser bonita, dizem que sabem agradar um homem. 

 Matt encosta na minha mão e sorri. Tive a impressão que ele queria fazer ciúmes nela. Eu puxo e fecho a cara para ele. 

-Seu você não parar, eu vou pedir para trocar de dupla. 

- Não seja rebelde garota. Não vou te morder. 

-Apenas limite se ao seu espaço.

-Afff, que frescura. Garota chata.

Terminamos a prova com um clima desagradável. Ele por sua vez tentando chamar a atenção da Sophia, que adorava o showzinho particular e eu, sendo a garota que esconde uma quedinha por ele.

Na saída, eu estava organizando as coisas no meu armário, que por coincidência fica ao lado do dele. Eu sempre estava por perto de forma aleatória,  sentindo seu perfume, ouvindo sua voz, suas piadas engraçadas e suas lamentações. Muitas vezes eu desejei abraça lo quando estava triste e já pensei até em deixar um bilhete para dizer o que sinto, mas o medo de ser rejeitada era maior. O receio de ser chacota da escola por gostar dele superava qualquer possibilidade de eu me declarar.

 Enquando estou fechando meu armário, o vejo em minha frente, com um semblante triste olhando fixamente a Sophia beijar o ex namorado. Matt fica tão sem graça e desorientado quando ela percebe que ele estava olhando, que no impulso se vira e me beija.  Fiquei sem ação, paralisada. Eu queria aquele beijo, o imaginei tantas vezes que não quis nega lo, então fechei meus olhos e senti seus lábios molhados nos meus, a ternura de um garoto que ele não mostrava e a gentileza de um cavalheiro ao me segurar durante o beijo. Eu não ouvi nada em minha volta, o silêncio em minha cabeça era maior que qualquer grito ou comentário que pudesse nos interromper. Era um beijo roubado, provavelmente não era o que ele queria e nem eu merecia um beijo inesperado. Mas nada me importava enquanto eu estava em seus braços. Meu primeiro beijo estava acontecendo, e com o garoto que eu gosto. Estava tudo perfeito, exceto pelo fato de eu não ser a garota que ele queria beijar, por  ser apenas alguém que estava na hora certa e no lugar certo. O objeto do seu ciúmes através de sua vingança. Eu era a oportunidade que Matt precisava para manter se como indiferente e ele o garoto dos meus sonhos. Então, eu toquei seu rosto e prolonguei o beijo, o máximo que pude. Por um instante eu senti algo diferente. Como se ele correspondesse ao meu beijo com carinho.  Sinto meus pés flutuarem e uma euforia toma conta de mim.  O tempo parou, eu senti que ele queria me beijar , que não era mais um beijo qualquer na garota chata, como havia dito. De repente alguém o puxa de mim. Sophia não gostou de perder a atenção e nos separou.

 Ela o tomou de meus braços,  como se fosse uma menina minada que não gosta de dividir o brinquedo. Dessa vez ele que não teve tempo de agir. Saiu pelo corredor segurando a mão dela e olhando para trás, deixando por entender que queria mais, que queria estar comigo. Ele deu uma piscadinha  e eu sorri. Não sei como vai ser o dia de amanhã, mas hoje, só por hoje eu fui dele. Eu me senti desejada e enaltecida por uma pequena vaidade de ter seus lábios nos meus. Se o destino vai me dar mais um empurrãozinho, eu não sei. Só sei que meus sonhos essa noite tem nome e bons motivos para se perpetuarem como um doce encanto.

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