Capítulo-1- Vôo

Pov-Bruna.

Bruna- Hoje é o dia em que eu e Natália vamos para Winchester na Inglaterra , olhei para o céu azul do Brasil antes de me despedir de Guaratinguetá , minha cidade onde moro atualmente . Embora eu tenha recebido com louvor uma bolsa de estudos em um país renomado , tenho que admitir que sentirei falta deste lugar.

Natália- Vamos Bruna - acenou trazendo minha mala para fora de casa - ainda temos chão pela frente até chegarmos no aeroporto - abriu o porta malas e me ajudou a colocar as malas dentro - tome - me entregou um comprimido - tome , vai ajudar durante a viagem para que não tenha nenhuma crise e fique nervosa - tomei o comprimido e abri a porta do passageiro , olhei uma última vez para o chão quando uma leve chuva começou a cair e vi um pequeno arco-íris se formando por causa da chuva e do sol , suspirei e entrei no carro .

Bruna- Saudade - falei para Natália quando entrou no carro .

Natália- Também sentirei saudades - falou ao meu lado enquanto ligava o carro - mais não vamos ter medo do novo - sorriu - é uma aventura nova e devemos vivê-la com coragem - a olhei sorrindo alegremente e logo em seguida desviei meu olhar para a estrada - Vai encontrar um propósito quando chegar pois Deus sempre está nos guiando - saiu com o carro pelas ruas enquanto falava - se Ariel não tivesse te inscrito no programa das bolsas eu tenho certeza de que você não faria - tinha razão , eu sou extremamente tímida e minha inteligência as vezes me cansava , eu não costumo falar muito pois essa doença me impede de ter contato com muitas pessoas , por enquanto eu só falo mesmo com Natália e Ariel que já mora na Inglaterra - Ariel já se formou em medicina e vai abrir seu próprio consultório em Winchester , com o dinheiro dos nossos pais poderemos comprar uma casa perto da dele , assim você poderá caminhar até ele - Natália e eu somos órfãs , os pais dela me adotaram quando me encontraram jogada em uma lixeira , disseram que eu ainda estava com o cordão umbilical , mais infelizmente eles morreram em um acidente na fábrica onde trabalhavam e ela acabou desmoronando em cima deles , eu não tinha o que reclamar dos meus pais , pois mesmo depois que souberam da minha síndrome eles cuidaram de mim com carinho e amor , eu ainda sinto a dor pela morte repentina deles - está cansada? - perguntou depois de duas horas na estrada - se quiser pode dormir , eu te acordo assim que chegarmos no aeroporto .

Bruna- Estou bem - falei olhando pela janela , Natália parou em uma lanchonete e saiu do carro , fiquei esperando até que voltasse , abri o vidro e respirei aliviada por finalmente ter parado um pouquinho .

Olhei para os lados vendo as montanhas e o sol que estava no pico .

Natália- Voltei - trouxe uma bolsa enorme - comprei alguns lanches naturais para comermos antes de seguir viajem - me entregou um sanduíche e uma garrafa de suco de uva - coma - abriu o dela e começamos a comer , meu lanche estava bom e bem leve então não pesava meu estômago e eu não passaria mal no caminho.

Bruna- Vamos - falei assim que ela terminou de comer , ela então ligou o carro e seguimos viagem , pegamos um temporal na serra antes de chegar em São Paulo , para as pessoas que não sabem , Guaratinguetá fica no vale do Paraíba , interior de São Paulo e demoraríamos cerca de duas horas e meia se não pegarmos trânsito .

Uma hora depois chegamos em São Paulo , Natália parou o carro na entrada de embarque e entregou a chave do carro para o moço que trabalha no aeroporto - check in - falei apontando para a recepção , puxei minha mala até a recepcionista junto com Natália e fiquei um pouco mais atrás dela enquanto resolvia sobre nossas passagens .

Natália voltou sorridente e me entregou meu passaporte .

Natália- Ele já vai sair - falou - vamos vem - puxamos as malas até a entrada da rasteira e lhes colocamos , a esteira iria levar a bagagem até o avião .

Assim que sentamos em nosso lugar vimos que não ficaríamos juntas , havia sobrado o acento do meio - quem será que vai sentar aqui ? - perguntou - só espero que não seja um velho - piscou sorrindo me fazendo rir também .

XXX-Posso me sentar? - uma voz grossa nos chamou a atenção , o olhei e notei o quanto era bonito - estou no meio - apontou para o banco livre , Natália saiu e o deixou se sentar do meu lado , se sentando na outra ponta , a do corredor - Obrigada - agradeceu , ele me olhou sorrindo e logo tratei de abaixar a cabeça .

Marlon

Natália- Eu sou Natália e ela é a Bruna - falou .

XXX- Eu sou o Marlon - se apresentou - Marlon Savani , sou médico neuro-cirurgião - falou - Fui designado a ser professor na faculdade de Winchester , e vocês?

Natália- Eu e ela ganhamos bolsas de estudos para a mesma faculdade por isso estamos indo para Winchester - sorriu .

Marlon- E você ? - o olhei com receio e vergonha , juro que não é por mal mais minha fala se perde quando alguém novo fala comigo - você está bem ?

Natália- Ela tem síndrome de Savant - explicou - por isso age assim , mais ela é uma pessoa muito boa .

Marlon- Savantismo - murmurou - tenho algo que pode te ajudar - abriu uma pequena bolsa e tirou de lá um frasco cheio de comprimidos - irá te ajudar com a fala e de quebra na sua coordenação motora - me entregou - tome , vamos pequena .

Bruna- vai me ajudar mesmo? - tomei coragem e falei - não vai me fazer mal ? - olhei para Natália que sorria.

Natália- Ela gostou de você - falou para ele enquanto eu tomava um comprimido - geralmente só fala comigo e com nosso amigo .

Marlon-Que bom ouvir isso - estendeu a mão e segurou a minha - a partir de hoje seremos amigos e vamos aproveitar que estaremos na mesma escola vou te ajudar com a fonoaudióloga , vamos te ajudar a se comunicar melhor - sorri feliz e o abracei , era a primeira vez que Alguém desconhecido não me dava medo , ele retribuiu o abraço e beijou o topo da minha cabeça .

Natália- Que bom que pode ajudá-la , agradeço de coração - falou assim que desfiz o abraço .

Marlon-Que isso , não é nada - falou sorrindo , a conversa durou cerca de uma hora antes que uma vontade de dormir me pegou , olhei para a janela do meu lado vendo as nuvens e o por do sol que se punha no Brasil , o último que veria em anos , peço para Deus que Natália estivesse certa em ir para Winchester , pois eu sempre tinha a impressão de que algo ruim iria acontecer .

Assim que olhei para fora acabei bocejando com sono , fechei meus olhos e acabei dormindo .

Sonho on:

XXX- Socorro - ouvi alguém gritar - por favor me ajudem - comecei a correr em direção a voz porém senti uma dor horrível nos pés .

Olhei para o chão e o vi coberto de espinhos , me virei e vi o caminho que segui marcado com uma trilha de sangue - alguém! - olhei para frente e continuei a correr , doía demais porém a pessoa precisava de ajuda .

Ao longe havia uma mulher caída no chão coberta de sangue , em seus braços um bebê recém nascido - o salve - falou quando me abaixei - salve-se ! - gritou segurando meu pulso .

Sonho off:

Natália- Bruna acorde - a olhei ofegante ainda me lembrando do pesadelo que acabei de ter , Marlon dormia tranquilo do meu lado - precisa comer alguma coisa - Me entregou um prato de comida abrindo minha banqueta - coma - abri a garrafa de água e bebi um pouco - o que está sentindo? - perguntou - Marlon me disse que o medicamento seria uma espécie de calmante que impediria você de ficar nervosa .

Bruna-Estou bem Natália - comecei a comer - só estou tendo pesadelos , ainda.

Natália- Com a desconhecida e a criança ? - confirmei com a cabeça - o que ela disse desta vez?

Bruna-Pedia para que eu salva-se seu bebê e depois gritou para que eu me salvasse também , não tive tempo para perguntar de quem eu precisaria me salvar- de vez em quando eu sonhava com o mesmo pesadelo , só que cada vez mais com frases diferentes , ela me dizia coisas irracionais - não quero continuar sonhando .

Natália- Por que ?

Bruna- Sonhos são iguais a filmes , não servem para nada - falei - o cérebro cria imagens e você acaba moldando perfeitamente o que queria ou o quê já viveu e todos os chamam de sonhos .

Natália- Sonhos são legais - a olhei - quando dormimos entramos em um mundo inteiramente nosso , ele pode ser belo como o dia - passou a mão no ar como se um arco-íris saísse de suas mãos - ou pode ser obscuros .

Bruna - Só acredito no que vejo - comi toda a comida com Natália me observando - algum compromido para tomar ? - perguntei já sabendo que teria que tomar o dramim para que eu não soltasse tudo o que havia comido .

Me entregou o comprimido e o tomei , abri minha mochila e tirei dela meu Nintendo 2DS , provavelmente teria mais cinco ou seis horas de viagem então usaria esse tempo para jogar e distrair minha mente .

Natália- E no amor ? - pausei o jogo e a encarei - acredita nele ?

Bruna- Eu acredito no que posso ver ou tocar - expliquei - se eu não posso ver ou tocar , ou se ele não tiver uma conta ou números então para mim ele não existe.

Natália- E o que você sente em relação aos nossos pais ?

Bruna- Dor - revelei - dor pura - me virei para ela - não sei mais o que eu sentia - coloquei a mão no peito e abaixei a cabeça fechando meus olhos - não posso te dizer o que é o amor se nem mesmo eu sei o que estou sentindo.

Natália- Vamos descobrir juntas - segurou minha mão e sorriu me tranquilizando - fique tranquila - sorri de lado e voltei para o jogo , assim que comecei uma Quest a aeromoça avisou para colocarmos o sinto de segurança pois passaríamos por uma turbulência muito forte , olhei para Marlon que ainda dormia e o toquei na bochecha com o indicador , era meu jeitinho sabe , eu falava com Natália e Ariel e agora podia falar com Marlon também .

Bruna-Marlon- chamei baixo , era outro dos meus problemas , eu não conseguia gritar ou falar alto então para me ouvir você tinha que estar bem perto de mim e por isso eu não conseguia fazer muitas amizades - Marlon - murmurei outra vez - Natália ele não está acordando - avisei.

Natália- Coloque o sinto nele - abri meu sinto e sem acordá-lo e puxei seu sinto prendendo-o a poltrona - isso aí - ela fez sinal positivo sorrindo , voltei a me sentar e a prender o meu sinto , eu queria chegar logo pois ainda faltava uma semana para o começo das aulas , arrumaria um emprego de meio período apenas para me distrair e poder andar pela cidade sem ter medo de me roubarem como acontecia com frequência no Brasil , eu sempre agradeci por nenhum assaltante ter me agredido tanto fisicamente como sexualmente .

Natália- Assim que chegarmos vamos para casa descansar e ver a sequência de big bang a teoria , sei que você ama - sorri alegre , eu simplesmente adorava passar tempo com o Dr Sheldon Cooper .

Bruna sorrindo.

Marlon- Perdi alguma coisa ? - perguntou assim que acordou - estão alegres .

Bruna- Big Bang - falei apenas , estava muito feliz .

Natália- Vamos maratonar a série assim que chegarmos em casa .

Marlon-Que bom em - falou sorrindo - quem colocou o sinto em mim ? - apontei o dedo para mim mesma ainda sorrindo , ele abriu o sorriso e tocou em minha cabeça - Obrigada pequena .

Bruna- Não sou pequena - falei - 1,60 metros de altura é em média a altura da mulher brasileira então eu estou na média , o que me faz crer que você está acima já que é grande demais - ele riu com gosto quando murmurei .

Marlon- Você está certa - falou tocando minha cabeça - completamente certa , sou mais alto que o normal - ele ainda ria , olhei para Natália que ria me olhando , seus olhos brilhando em minha direção e eu realmente não sabia o que estava acontecendo com eles .

Bruna- Estão bem ? - perguntei , Marlon me olhou e acenou que sim então olhei para Natália- Bem? - ela confirmou.

Natália- Estou sim - me deu uma garrafa de água e Marlon me deu um saquinho de amendoim japonês .

Marlon- Coisas de sal é bom para você - falou - ajuda o organismo e o melhor é que você não fica com fome - riu com gosto , logo em seguida ficamos conversando até que a aeromoça avisou que havíamos chegado , colocamos os sintos e nos preparamos para pousar , olhei para o aeroporto pequeno lá embaixo , o meu primeiro vôo eu já havia dado , agora meu desafio era manter as asas nas minhas costas como dizia a minha mãe .

Todo anjo pertence ao céu e uma hora todos teremos que voltar , não entendi na época mais agora eu sei que toda pessoa deve se lançar na vida em busca dos seus sonhos e quando estiverem realizados teríamos para onde voltar , eu teria uma casa para onde voltar .

E agora me sinto sozinha assim como sei que Natália sente a mesma coisa , o vazio no peito , o vazio na alma .

Olhei para ela que sorria fechando seus olhos pois estava eufórica com a nossa chegada e vi Marlon fechar os olhos apertados , parece que ele tem medo de altura .

Olhei novamente para o aeroporto quando o avião tocou o chão e deixei uma lágrima escorrer por meus olhos , eu não sei o que será de mim nesse lugar , porém farei de tudo para que eu tenha uma boa vida , assim como mamãe e papai queriam .

Assim que o avião pousou Marlon soltou meu sinto e o seu , Natália saiu para o corredor assim como Marlon , esse último não esquecendo de me levar com ele , minha coordenação motora é horrível , por exemplo: se eu for correr , provavelmente vou cair depois de dez passos , se eu vou andar , provavelmente vou esbarrar em alguém ou em alguma coisa e cair , o que eu compensava em inteligência , perdia em coordenação motora.

Desci com cuidado as escadas do avião sendo ajudada por Natália já que Marlon desceu primeiro , ao entrarmos dentro do aeroporto Marlon acenou para uma mulher que logo correu para ele .

Marlon- Essa é minha irmã Brocke Savani - ela nos olhou alegre e logo veio nos abraçar , fiquei um pouco assustada e acabei me escondendo atrás de Marlon.

Brocke Savani irmã de Marlon.

Brocke - Desculpe - falou - assustei você ?

Natália- Ela não está acostumada com muitos abraços e a conhecer pessoas também - explicou .

Brocke- sinto muito - depois de alguns minutos eu já conseguia respondê-la , porém ainda me sentia envergonhada .

Natália- Está na nossa hora gente - falou - vamos ? - me estendeu a mão já que dois ajudantes puxavam nossas malas , Marlon me abraçou junto com Brocke e então partimos para nossa casa - Não é lindo aqui ? - olhava fascinada pela janela .

Bruna- Bonito mesmo - o carro que ela alugou demorou dês minutos para chegar em nosso endereço , a cada ficava a um quarteirão da casa de Ariel - olha - apontei sorrindo - bonita .

Natália - Muito bonita - concordou - achei que ia gostar .

Saí correndo do carro , porém como disse , tropecei e cai de cara no chão .

Natália correu até mim e me ajudou a levantar , juntas entramos na casa , subi as escadas a procura dos quartos .

Entrei no primeiro que vi , eu já me joguei na cama e por lá fiquei , estava muito cansada .

Quarto da Bruna .

Banheiro da Bruna.

Quarto da Natália .

Banheiro da Natália.

Cozinha.

Natália - Tome banho e desça para vermos seus horários e os meus , nem todas as aulas faremos juntas então vamos ver o que podemos fazer - confirmei com a cabeça e entrei no banheiro , tirei minhas roupas e entrei debaixo do jorro quente , espero que na próxima semana não aconteça nada de ruim pois aquele pressentimento de que algo ruim pudesse acontecer ainda predominava .

Bruna- Espero que seja coisa da minha cabeça ...

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