Ivy Calleya No momento em que minha mão tocou seu rosto, sua máscara, senti minha pele arrepiar, e no mesmo instante, ele a segurou, mas diferente do que imaginei, seu toque não era bruto, nem exagerado, era gentil. — Não deveria brincar com estranhos — Foi tudo que ele disse, ainda com sua enorme mão sobre a minha, e eu sorri. — Está com medo de mostrar seu rosto? — Perguntei, na tentativa de provocá-lo, e ouvi uma risada abafada sair daquela máscara que era quase completamente fechada. — Medo?! — ele perguntou, apertando minha mão de forma delicada, a tirando de seu rosto. — Eu desconheço essa palavra. — Ele terminou, me puxando pelo braço, me fazendo ficar confusa com seu movimento repentino. — Se quer tanto ver meu rosto assim, irei lhe mostrar — ele falou, me guiando para dentro do palácio novamente, mas dessa vez, entramos pelo corredor lateral, indo em direção às escadas que levavam aos quartos de hóspedes, (onde os visitantes de reinos distantes ficavam quando faziam visit
Sebastian Jaeger Eu estava na guerra há meses, preso em um cerco, esperando mais uma vez a ordem do imperador para que as tropas avançassem, mas isso não aconteceu. Quando finalmente recebi uma carta de Adiel, esperava tudo menos o verdadeiro conteúdo que ela continha. Ele não falava sobre a guerra, sobre os sacrifícios dos soldados e cavaleiros e das vidas inocentes perdidas, mas sim sobre um baile real, um que minha presença era necessária, — como se nada mais em todo o universo pudesse ser mais importante que toda aquela droga. “Desgraçado…” Eu pensei, apertando a carta em minhas mãos, sujando com o sangue ainda fresco em minhas mãos, o papel branco e perfumado, — e com um rosnado, gritei por meu escudeiro para passar as informações adiante e avisar a todas as tropas que estaríamos recuando. Adiel queria uma breve trégua na guerra, tudo para acalmar os ânimos dos nobres que iriam até sua “festinha” na capital de Lyra, uma cerimônia idiota feita apenas para amaciar o ego da nobr
Camille LarsenAinda consigo me lembrar vividamente do dia em que tudo começou, do momento em que pisei naquele palacete, no início da minha ruína.As mãos delicadas de Helen Wills apertavam as minhas, e eu sentia o medo pulsando em minhas veias. Helen, a irmã mais velha de minha falecida mãe, era uma das últimas pessoas vivas de minha família, de nossa linhagem.— Eu estou com medo, tia Helen… — sussurrei, a voz trêmula. E ela me lançou um olhar severo.— Deixe de frescuras, Camille — retrucou ela, com firmeza. — Não temos escolhas. Não há mais lugar para você em nossa casa. Seus pais morreram, e você sabe qual é o seu dever como ômega, como a última herdeira dos Larsen.Eu era apenas uma criança, mas compreendia as palavras que saíam da boca de Helen, era como se fossem um feitiço, ela as repetia todas as noites, antes de eu dormir, como se quisesse gravá-las em minha mente. A sobrevivência de nossa linhagem dependia de procriação, mas não com qualquer pessoa. Apenas com aquele que
Ivy CalleyaA dor havia cessado, assim como as vozes das pessoas à minha volta, e tudo que me restava eram as memórias, elas iam e vinham como ondas, me fazendo lembrar de cada acontecimento, de cada erro que eu havia cometido.Estava frio, meu corpo parecia ter sido abraçado pela neve do inverno, pelo gelo… Era como se eu estivesse adormecida por muito tempo, presa em um pesadelo.— Pela Deusa!… Chame o sacerdote… a princesa está despertando!.. — Pude ouvir uma voz rouca e grave falar, o som estava distante, mas mesmo assim era audível o suficiente para chamar minha atenção.Meus olhos se abriram de repente, e toda aquela escuridão que me cercava, resplandeceu, era como se eu olhasse diretamente para o sol, como se fosse a primeira vez que eu enxergasse a luz.— Princesa!? Você está bem? Consegue me ouvir?! Virei assustada, ainda confusa, até que aquele borrão a minha frente ficou nítido, e eu pude enxergar um velho de cabelos grisalhos, que usava uma túnica esverdeada, à minha fren
Ivy CalleyaEu me alimentei, descansei e tomei os diversos chás de ervas que aqueles sacerdotes do templo de Urc me deram, eram muitas xícaras por dia, e minha boca permanecia com o gosto amargo quase o tempo todo, mas mesmo assim continuei os tomando.Já haviam se passado algumas semanas, e eu sentia que estava ficando cada vez mais revigorada. Até que em uma daquelas manhãs frias uma das serviçais do palácio veio até mim, eles eram diferentes dos criados de Lyra, seus cabelos tinham sempre o mesmo tom claro, como se fossem realmente iguais nas histórias que me foram contadas, como se todos tivessem sido banhados pela luz da lua.— Princesa.. Vossa Majestade, Helena Calleya, chegou de viagem.. Ela deseja vê-la, e pediu para que você comparecesse ao salão para acompanhá-la no café da manhã. — Como sempre, a serviçal evitou contato visual, e após ouvir minha resposta, me auxiliou a vestir algo adequado.— Como ela é? — Perguntei despreocupada, todos estavam cientes da minha total perd
Ivy Calleya Tudo à minha volta havia ficado escuro novamente, e a única coisa que mantinha minha consciência ainda desperta, eram os gritos dos serviçais que vinham preocupados até meu corpo caído ao chão, e a voz com timbre abalado de Helena. Fui levada até meu quarto, mas diferente das outras vezes, levaram apenas 2 dias para que eu me recuperasse, e levantasse da cama sozinha, sem nenhum apoio. Eu tentei não pensar muito, não me estressar para que a saúde daquele corpo não fosse afetada, más era impossível. Toda vez que eu lembrava de Alexandre, meu pequeno filhote, nos braços da víbora que era Lindsey Ingraf, sentia minha carne tremer, e o gosto de ferro brotava em minha boca. Aquele corpo tinha pouco tempo, e eu sabia disso, e precisava de um plano, um que me desse livre acesso ao palácio de Adiel, que me fizesse ter controle sobre aqueles nobres corruptos e mentirosos, pois somente daquela forma, eu conseguiria colocar meus planos em prática. Eu precisava de poder, precisava
Ivy Calleya— Você se refere ao baile que irá acontecer em Lyra? — Helena perguntou para mim, levantando a sobrancelha de forma confusa, e os servos que estavam à nossa volta olharam um para os outros com expressões surpresas, fazendo sussurros começarem a ecoar pelo salão.Respirei fundo, apertando com apreensão o talher prateado em minha mão, e a respondi.— Sim.. Eu quero ir à cerimônia de noivado do Imperador Adiel Viegas… — Meus olhos permaneceram fixos nos de Helena, e eu pude vê-la dar um passo para trás, incrédula com o meu pedido.— Ivy.. Você sabe que aquele baile irá reunir a nobreza de todo o continente, certo? E que sua finalidade não passa de acordos políticos.. Casamentos arranjados, apenas para questões econômicas.. — Victor falou, vindo até mim, me olhando com atenção, como se me visse ainda como uma criança.Sei que Ivy nunca havia saído de seu reino, cresceu presa no castelo rodeada de curandeiros e sacerdotes, tudo para que pudesse ter sua curta vida prolongada. E
Ivy Calleya O dia da viagem havia chegado, e usando um casaco de pele que cobria quase meu corpo inteiro, eu segui até a carruagem que estava à minha espera. Enquanto caminhava sobre a neve que afundava a cada passo, minhas mãos ficaram vermelhas por conta do frio, e por um momento pensei que iriam congelar. Quando me aproximei da carruagem pude ver uma fila extensa de cavaleiros que me aguardavam para a escolta, e no fim daquele corredor formado por homens de armadura, estavam Helena e Victor Calleya. Apressei meus passos, e Victor, vendo minha dificuldade de caminhar, por conta do peso da roupa e também pela da fraqueza que ainda me causava tonturas, veio até mim, pegando em meu braço com carinho, e me ajudando a chegar até a carruagem. — Filha… Você tem certeza que quer ir a esse baile? — Ele perguntou, e pude ver em seu rosto uma expressão de preocupação, ele apertou mais meu braço e eu senti que ele tinha medo que algo de ruim acontecesse. — Sim… — Respondi de forma direta,