Ponto de vista de Arthur
Quando Mara começou a descrever a mulher dos olhos diferentes — o verde quase selvagem e o azul límpido — algo dentro de mim deu um salto frio. Foi um reconhecimento que não passou pela garganta: eu e Apolo trocamos um olhar curto, cheio de cenhas franzidas, e soubemos, ao mesmo tempo, sem que a boca precisasse dizer, quem ela era.
Annabelle.
Dizer o nome em voz alta teria sido traição e bênção ao mesmo tempo. Annabelle, a Rainha que apareceu no meio do caos anos atrás, a mulher que empunhou um arco de luz e virou o destino de nossa família de cabeça para baixo. Annabelle, que salvou nossas vidas — e que, por isso mesmo, mudou o rumo de tudo. Aquele nome trouxe de volta imagens que eu preferia enterrar: flechas de claridade rasgando a noite, sombras dispersas como fumaça, e o som metálico do aço se calando. Trouxe também o gosto amargo da culpa: o sangue do nosso pai ainda manchava as memórias.
Mara falou e descreveu cada detalhe do sonho com uma honestidade