Narrado por Lara
Depois que minha família embarcou de volta pro Brasil, o silêncio dentro da casa ficou diferente.
Não era mais o silêncio do desprezo. Era um silêncio de paz. Um tipo de vazio que não doía — pelo contrário, acalmava.
As empregadas se movimentavam em passos leves, como se até elas sentissem que algo tinha mudado. Os corredores pareciam mais largos. O ar, mais leve. Pela primeira vez desde que eu pisei em Dubai, eu sentia que esse lugar era meu. E não apenas um castelo de vidro onde eu vivia vigiada por todos.
Khaled ficou mais presente do que nunca. Ele passou a dormir comigo todas as noites. Me acordava com café da manhã na varanda. Mandava flores para o meu quarto.
E eu escolhi mesmo.
Escolhi ele.
Escolhi a nossa vida. E o nosso filho.
Hoje era o dia do ultrassom morfológico. Já tínhamos passado da metade da gestação. O bebê mexia muito, principalmente de madrugada, e toda vez que Khaled colocava a mão na minha barriga, parecia que o nosso filho — ou filha, até entã