Narrado por LaraOlhei meu reflexo no espelho pela terceira vez em menos de dez minutos. O vestido dourado de seda fluía pelo meu corpo como uma segunda pele. O decote era elegante, mas ainda assim ousado o suficiente para fazer minhas bochechas corarem. Meus cabelos estavam soltos, com ondas suaves caindo sobre os ombros. A maquiagem leve deixava meus olhos mais marcantes. Eu estava bonita. Muito bonita.Mas também estava nervosa.Era estranho. Eu tinha convivido com Khaled tempo suficiente para saber que ele era um homem perigoso. Mas também... um homem de camadas. E desde a noite do hospital, ele tinha sido diferente comigo. Cuidadoso. Atento. Como se estivesse tentando me proteger de tudo, até mesmo dele.Hoje, ele tinha dito que queria me levar para jantar. Nada grandioso, só nós dois. Um momento a sós. Só que desde que ouvi a conversa dele com o pai, algo vinha martelando na minha cabeça: o bendito herdeiro.Ouvi uma batida lev
Narrado por LaraO restaurante escolhido por Khaled era elegante, mas discreto. Nada daquela ostentação exagerada que eu costumava ver nas redes sociais quando pesquisava sobre Dubai. Era um lugar com luzes baixas, velas nas mesas e uma vista ampla para a marina. A música ambiente era suave, instrumental, e o som das águas batendo nos iates ao longe dava a sensação de que o tempo havia parado ali.Ele puxou minha cadeira com a gentileza que poucas vezes demonstrava em público e se sentou à minha frente, vestindo aquele terno escuro que contrastava com o brilho das velas. Por um momento, tentei imaginar como alguém tão... intenso podia parecer tão calmo naquela noite.— Você gostou daqui? — ele perguntou, enquanto servia água na minha taça.— Gostei muito. É diferente do que eu imaginava.— Eu sei. Por isso escolhi esse lugar. Você precisava respirar. Precisava sentir que, apesar de tudo, ainda pode ter paz.A comida veio ráp
LaraO silêncio entre nós era denso, mas não desconfortável. A brisa morna do deserto, as lanternas balançando levemente, o cheiro doce do chá e o som sutil do vento acariciando a areia… tudo parecia conspirar contra a minha sanidade.Khaled se aproximou devagar. As mãos dele tocaram meu rosto com delicadeza, como se ele estivesse com medo de me quebrar.— Posso? — ele sussurrou, a voz rouca, controlada.Assenti. E foi o suficiente.O beijo veio calmo no começo. Terno. Mas com ele... nada ficava calmo por muito tempo.Ele deslizou a mão pela minha nuca, intensificando o beijo até me deitar entre as almofadas. O vestido subiu um pouco com o movimento. A respiração dele já quente contra minha pele.Khaled: Eu sonhei com você assim. Nesse deserto. Debaixo de mim.Minha pele queimava, mas não era por causa do calor do deserto.Ele levantou meu vestido até a cintura e tirou minha calcinha com lentidão.
Lara O cheiro de incenso suave ainda pairava no ar quando abri os olhos. A luz do sol invadia a tenda, filtrada pelos tecidos brancos que balançavam levemente com a brisa. Estava nua sob as almofadas, coberta apenas por um lençol leve e pelas marcas da noite anterior. Minha pele ainda ardia nos pontos em que ele me mordeu. Entre as coxas, a memória do corpo dele em mim ainda latejava. Khaled dormia com um dos braços jogado sobre a minha cintura, o peito nu subindo e descendo devagar. Mas era só aparência. Eu sabia que ele estava acordado — seu toque firme demais pra alguém adormecido. Passei a mão com delicadeza por seu peito, desenhando os contornos dos músculos, as linhas do abdômen. Ele continuava quieto. Mas a respiração dele mudou. A pele arrepiou. E a coisa toda entre nós começou de novo. Khaled (voz rouca): Acha que pode me acordar assim e sair impune? Lara: Eu só estava te ad
Narrado por Lara O caminho de volta foi silencioso, mas não desconfortável. Eu estava recostada no banco do carro, sentindo ainda o perfume das dunas no meu cabelo, a memória das estrelas gravada na pele. Olhava de canto para Khaled enquanto ele dirigia. Ele parecia relaxado, com uma mão no volante e a outra entrelaçada à minha, como se não fosse permitir que o mundo nos separasse nem por um segundo. Chegamos na mansão e tudo parecia calmo demais. A entrada estava iluminada suavemente, os empregados já recolhidos, as janelas fechadas como se o mundo inteiro tivesse parado para nos esperar. Subimos sem pressa, lado a lado. Quando ele abriu a porta do nosso quarto, a primeira coisa que fez foi caminhar até o banheiro. Ouvi o som do chuveiro sendo ligado, o barulho da água batendo forte no piso de mármore. Me virei devagar, encarando minha imagem no espelho. Ainda estava com o vestido dourado que usara no jantar. Os cabelos soltos, a maquiagem intacta. Mas meus olhos... meus olhos e
Alberto VasconcellosA ruína não chega de uma vez. Ela se insinua aos poucos, como uma praga silenciosa, destruindo tudo o que construí ao longo dos anos. Eu a vi se aproximar, tentei resistir, mas era como segurar areia entre os dedos. A Vasconcellos Import & Export, a empresa que levei uma vida inteira para erguer, estava falida.Foram anos de glória. Eu dominava o mercado de commodities, transportando produtos valiosos pelo mundo inteiro. Meu nome era respeitado, meus contratos eram disputados e meu império parecia inabalável. Mas o mundo dos negócios é cruel. Com a ascensão de novas potências econômicas, a concorrência ficou impossível. Empresas chinesas e árabes começaram a dominar o setor, oferecendo preços com os quais eu simplesmente não podia competir.Os contratos começaram a cair. Clientes antigos romperam acordos que existiam há anos. Investidores se afastaram. Fiz de tudo para segurar minha posição: peguei empréstimos, cortei custos, apostei em novas estratégias. Mas foi
Alberto VasconcellosEntro em casa e, como sempre, sou recebido pelo silêncio pesado que habita este lugar. Antes, minha casa era um reflexo da minha posição: móveis importados, quadros de artistas renomados, tapetes persas. Agora, tudo perdeu o brilho. Parece um cenário prestes a desmoronar.Subo as escadas, sentindo a tensão no ar. Minhas filhas estão todas em casa. Posso ouvir as vozes delas no andar de cima. Natália e Bianca, as mais velhas, conversam animadamente sobre alguma besteira fútil. Lara, como sempre, está quieta.Abro a porta do escritório e me sirvo de uma dose de uísque antes de encará-las. Minha paciência anda curta, e eu sei que não vou gostar das reações que estão por vir.— Reúnam-se na sala — digo alto o suficiente para que todas me ouçam.Natália e Bianca descem primeiro, com ares de tédio. São exatamente o que a sociedade esperava que fossem: filhas mimadas de um empresário rico. Sempre tiveram tudo do bom e do melhor, e mesmo agora, com a falência batendo à p
Lara VasconcellosSempre soube que era diferente das minhas irmãs. Desde pequena, eu sentia isso. Enquanto Natália e Bianca eram o orgulho do meu pai, sempre ganhando presentes caros, viagens de luxo e tudo o que desejavam, eu era a sombra. A filha esquecida.Não sei exatamente quando percebi que meu lugar na família era esse. Talvez tenha sido nos aniversários, quando minhas irmãs recebiam joias caras e vestidos importados, e eu ganhava um "parabéns" dito às pressas. Ou talvez tenha sido nos natais, quando elas desembrulhavam presentes luxuosos enquanto eu, muitas vezes, sequer era lembrada.A verdade é que, por mais que eu tentasse, nunca fui suficiente para ele.E o pior de tudo? Eu nunca soube o que fiz para merecer esse tratamento.Até entender.Minha mãe morreu no meu parto.Ela morreu para que eu vivesse, e isso me transformou na inimiga do meu pai desde o momento em que nasci.Eu não lembro dela. Não sei se seu cabelo era liso ou cacheado, se sua risada era alta ou suave, se