Luna Narrando

A primeira coisa que senti foi um cheiro. Um cheiro suave de álcool, misturado com aquele perfume que a Flora sempre usou desde adolescente. Depois veio a luz. Fraca. Quase apagada. Uma claridade tímida atravessava minhas pálpebras, como se pedisse permissão pra me despertar. O som veio logo depois. Bipes ritmados, suaves, constantes, como uma batida de coração eletrônica. Eu não sabia onde estava. Meu corpo parecia pesado demais, os braços fracos, a boca seca.

Abri os olhos devagar, como se estivesse com medo da realidade. Tudo embaçado. Pisquei algumas vezes, tentando fazer o mundo voltar ao foco. O teto branco. Uma parede bege. Uma cadeira no canto. Sentada ao meu lado, com os olhos inchados e o cabelo bagunçado, estava minha irmã.

— Flora? — minha voz saiu baixa, rouca, quase um sussurro.

Ela levantou num pulo, como se tivesse ouvido um trovão.

— Luna! Luna, meu Deus! Você acordou.

Vi o rosto dela se transformar. O choro veio antes do sorriso. Ela pegou minha mão co