Capítulo 50
Miguel Fonseca
Eu a vi
Seus longos cabelos escuros, com os olhos azuis intensos, chamaram minha atenção em meio do caos, dos gritos, do sangue no asfalto, foram os olhos dela que prenderam os meus. Não havia grito mais alto do que o pavor estampado naquele rosto.
Ela viu o que não devia. Mas não correu.
Ficou parada, olhos arregalados, mãos tremendo junto ao corpo, e mesmo assim... bela. De um jeito que incomoda, que provoca meus mais proibidos desejos.
Aquele tipo de beleza que não pede permissão. Ela simplesmente acontece até mesmo no terror.
Atravesso a rua, os sapatos ecoando contra o paralelepípedo molhado da Covilhã, a garoa suave caia leve sobre mim. A arma já está escondida. Minha expressão, contida. Mas por dentro, há um calor estranho, como se algo tivesse acendido dentro do peito, algo que ouso dizer, nunca senti antes, e isso me irrita. Não sou homem de perder o foco.
Nunca fui.
O sino acima da porta da cafeteria toca quando entro. Ela está no fundo, tremendo c