Uma Cinderela para o Príncipe
Uma Cinderela para o Príncipe
Por: Ela Ferreira
A Cinderela.

Suas botas de segunda faziam barulho, enquanto ela corria. A cada curva em um novo corredor da empresa o barulho fino e alto das solas dos calçados era ouvido. Ela estava atrasada para a peça primordial, aquela que a levaria ao seu tão sonhado sucesso, caso não a fizesse, estaria fadada ao fracasso para todo o sempre, era assim que se sentia diante da situação, pois havia sido avisada que aquela seria a última peça do ano, aquela onde haveria a seleção final.

Ser atriz era o sonho de Emmy desde a infância. Durante anos estudou tudo que podia para ser boa nos palcos e por trás das câmeras, por isso ela não mediria esforços para continuar com a carreira, por hora era atriz de teatro. 

Quase deslizando pelos corredores de forma nada elegante com suas botas, Emmy correu ao camarim torcendo para ainda ter tempo para vestir o figurino que havia sobrado, como estava atrasada não tinha mais direito de escolha, era pegar o que estivesse disponível.

Passou pela porta do camarim que compartilhava com as outras colegas, o espaço compartilhava a parede com o camarim dos outros atores. O prédio não era pequeno, pois disponibiliza uma lanchonete, uma área para os atores, outra para os ajudantes de palco, para o CEO, a área fechada do palco, onde eram feitas as apresentações, dentre outros.

Emmy largou suas coisas na bancada perto do espelho e correu para o fundo do camarim, onde encontrou apenas um lindo vestido azul-claro, ele era cheio de detalhes pequeninos que ela não podia se dá ao luxo de admirar agora, com o traje havia uma tiara, que mais parecia uma pequena coroa de brilhantes, e um salto médio semelhante ao de cristal da própria Cinderela. 

Esta foi sua vez de suspirar enquanto recolhia tudo para vestir na frente do espelho, pois, haviam cordões da mesma cor do tecido do vestido fazendo x nas costas dele, ela teria que encontrar um meio de entrar nele sem desmanchar aquilo, já não tinha ninguém para lhe ajudar a vestir, afinal, estava sozinha, todos estavam no palco apresentando suas peças separadamente.

 — Eu preferia a pequena sereia… Cinderela é o conto que eu menos vi! — suspirou frustrada. 

Emmy não gostava muito do conto da Cinderela, pensava que romantizar a realidade que é difícil em algo fantástico para alegrar as crianças e fazê-las sonhar com o príncipe encantado, não era a melhor forma de motivação. No entanto, não negava que em uma época de sua vida pensara sobre o conto como um sonho distante.

 — Que seja! Este será o meu papel hoje à noite, ser a melhor Cinderela. — disse a si mesma. Seus olhos brilharam em determinação, mas logo se apagou.

 — A mais atrapalhada, isso sim! 

Balançou a cabeça em negação. Deixando suas coisas sobre a poltrona enquanto tirava sua jaqueta de couro, da cor bege, com as demais roupas.

 — Não, eu vou dar o meu melhor! — comentou, tentando ser confiante, repetindo aquilo em sua mente, como um eco.

Tirou sua bota de couro branca, jogando perto da poltrona, retirou a calça colada, também branca, jogando a mesma no braço do móvel, ficando apenas com suas peças íntimas, que também eram brancas.

 Rapidamente calçou os sapatos de falso cristal, desmanchou o coque bem feito que tinha na cabeça, deixando seus cabelos castanhos claros e lisos caíam pelas costas, logo em seguida passou o vestido por cima da cabeça com todo cuidado, se apertou para não forçar demais as costuras do vestido. 

Com muito cuidado e paciência conseguiu pôr os braços no lugar das mangas curtas e ajustou o vestido ao seu corpo. Retirou os cabelos de dentro do vestido e vestiu rapidamente as luvas nas mãos, luvas estas que iam até os cotovelos, acabando depois das suas dobras, elas também eram da mesma cor do vestido, um azul leve.

Passou as mãos enluvadas rapidamente pela extensão da barra volumosa do vestido, pela segunda vez, e apressou o passo para arrumar seus cabelos e maquiagem. Fez outro coque agora um pouco mais baixo, este ficou quase na sua nuca e um pouco mais frouxo também. Emmy colocou a tiara na frente do coque a ajustando a ele, ela coube perfeitamente.

 — Pelo menos isso está dando certo! — Emmy quase sorriu, pegando a maquiagem em cima da bancada de mármore branco.

Fez uma maquiagem simples. Apenas base, um pouco de pó, blush, batom vermelho opaco, lápis de olho e rímel. Assim que terminou, se olhou por dois segundos no espelho e constatou que seu brinco de falsa pérola combinava com o figurino. Segurou a barra do vestido o levantando na altura dos tornozelos, correu para fora do camarim.

Assim que chegou perto dos colegas que faltavam se apresentar, ela soltou a barra do vestido, respirando ofegante pela corrida nos corredores do lugar para chegar ali.

 — Quem… é agora? — Emmy perguntou para seus colegas de trabalho, que estavam assistindo à peça da bela e a fera por trás das grandes cortinas vermelhas.

Todos se voltaram para ela, olhando-a rapidamente, ela não ligava por estar sendo analisada, já que gostava daquele trabalho onde ganhava bastante atenção, além de está acostumada com os colegas.

 — A Cinderela apareceu! — um dos seus colegas ao seu lado, falou em alto tom, olhando para trás, onde estava o dono do projeto. O diretor e também CEO.

Emmy olhou para trás vendo o diretor a olhar surpreso. Ela pensou que aquela surpresa fosse por ela estar ali, mas a realidade era por aparecer uma Cinderela naquela noite.

 Carlos Bayrec não acreditava que iria ganhar a aposta, estava desanimado há alguns minutos, mas agora o sorriso iluminava seu rosto como se ele estivesse olhando para uma montanha de ouro a sua frente, e talvez realmente fosse. Ele se apressou a escolher os príncipes para a Cinderela sem ao menos olhar. Emmy estranhou sua empolgação enquanto a mirava sem parar, com o maior sorriso que ela jamais vira em seu rosto antes.

 — Não posso ser o príncipe. — disse o jovem que ele escolheu.

 — Então você! Seja o príncipe! — ainda mantinha os olhos presos em Emmy.

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