Um filho para o Rei Alfa
Um filho para o Rei Alfa
Por: Flávia Saldanha
1- A escrava do rei

Marry

Minha pele gritava devido as últimas agressões que havia sofrido. Ser escrava significa que qualquer erro, por mínimo que pudesse ser, ele era descontado em seu corpo: dias sem comer; escassez de água e o mais comum: as chicotadas. Ontem derramei água por estar fraca demais e minha recompensa foram vinte chibatadas.

Minhas costas estavam queimando, os cortes recentes ainda se fechando e nada podia encostar na pele dolorida, por isso estava deitada de bruços sem nada na parte de cima do corpo. Sobre minha pele ferida, minha mãe havia colocado ervas para ajudar na cura e evitar a infecção.

Preocupada, minha mãe disse:

— Precisa se curar, minha filha, em três dias é a visita do rei. Ele não gosta de ver nenhum de seus escravos deitados, doentes... tudo ele julga como fraqueza e manda matar.

Eu respondi:

— Aquele rei desgraçado, eu queria muito arrancar a face dele com as unhas.

— Fala baixo, filha, se alguém te ouvir podem levar suas palavras ao rei e então estará perdida.

Gemo baixinho quando minha mãe torna a aplicar as ervas e seus sumos em minha pele ferida.

No dia da visita do rei a nossa aldeia, meus ferimentos já estavam bons o suficiente para vestir uma blusa larga, mas se alguém encostasse eu ainda uivava de dor.

Estávamos todos enfileirados, mulheres de um lado e homens de outro. Parecíamos animais que o dono decidia se matava ou se deixava viver mais um pouco.

— Atenção, escravos, o rei Yan está se aproximando e um de vocês terá a honra de servi-lo pessoalmente — fala um dos servos do palácio do rei.

Todos ficam em silêncio e a expectativa só cresce. Ninguém quer ser um escravo pessoal de um rei cruel e sádico. Ele se alegra com a dor e o sofrimento dos outros e ser o “brinquedinho” dele está fora de questão para qualquer um.

O rei se aproxima, imponente. Bonito o homem é, não há como negar. Seus olhos verdes são atrativos, qualquer mulher se derreteria por ele se não soubesse quanta maldade há em seu coração.

Ele analisa a fileira de homens, mas em seguida dá a ordem:

— Todos os homens estão dispensados.

Alívio era visível na face dos homens ali presente. Porém, meu coração se aperta. Ele quer uma mulher.

Quando o rei vem em busca de mulheres, sabemos o que ele quer. Não apenas uma escrava qualquer, uma empregada que receberá ordens do rei o dia inteiro, mas ele está a procura de uma escrava sexual. Ele quer um brinquedo novo e isso significa que o anterior está quebrado.

Todas as mulheres presentes sabem disso e o desespero transborda de seus olhos, mas todas se mantêm em silêncio.

Ele se aproxima e analisa uma a uma. Se ele for escolher por beleza com certeza não será eu a escolhida. Meus cabelos castanhos são indomáveis, minha pele muito pálida e meus olhos estranhamente escuro. Mas algo dentro de mim se parte quando ele dá a próxima ordem:

— Somente mulheres virgens, as outras estão dispensadas.

Mais da metade das mulheres se afastam e eu cogito em me afastar também. Como vão saber se é verdade ou não? O alívio é crescente na face das mulheres que se dizem não virgens, enquanto o desespero só aumenta na face das outras.

— Todas que dizem não ser virgem, passarão por inspeção para averiguar a verdade. Caso esteja mentindo o castigo será a morte. — O servo declara e eu impeço meu passo.

Já estava pronta para me enfiar entre as outras e me livrar do olhar do rei, mas ele não é idiota.

Quando todas as mulheres que não cumprem a exigência do rei se afastam, ele volta seu olhar para as escravas restantes. Havia lágrimas no olhar de quase todas.

Não é possível dizer o que exatamente ele está a procura. Seus olhos passeiam por todas nós e uma a uma, seguindo sabe-se lá que critério, ele começa a dispensar.

Quando chegou perto de mim, pude ver de perto toda a sua imponência. O homem deveria ter quase dois metros de altura e um corpo muito forte. Mesmo debaixo dos tecidos de sua camisa e calça, era possível notar os músculos do rei Yan.

Ele pegou a face da garota ao meu lado e ergueu, girou para um lado e para outro, analisando não sei o quê. Mas ele se dá por insatisfeito e dispensa a jovem. Ela quase cai no chão de alívio e sai correndo. Agora ele vem na minha direção.

Seus olhos verdes fitam os meus olhos escuros e dentro de mim há um desejo voraz de não ser dispensada, algo como um orgulho. Pode ser loucura, mas ser selecionada como alguém que não serve é algo que não almejo. Um orgulho insano toma conta de mim e encaro o rei de volta. Não abaixo a cabeça; lágrimas não rolam de meus olhos; minhas mãos não tremem e minhas pernas se mantêm firme.

Ele passa por mim em silêncio, não me dispensa e vai para a próxima. Então é isso que ele quer. Quer uma mulher corajosa e que o enfrente. O que há na mente deste rei sádico?

Yan passa para a próxima e depois outra, e outra, até chegar ao fim da fila de mulheres. Quando ele termina me dou conta de que há apenas cinco mulheres, todas as outras foram tidas como inadequadas ao rei.

Agora sua seleção muda de caminho, realmente é indecifrável o tipo de escrava que ele quer.

— Qual o seu poder? — Ele questiona à mulher que está na ponta da fila.

Todos nós usamos uma coleira que inibe nossos poderes e ele quer usar o poder que mais lhe agradar, será isso que ele deseja de nós? Uma escrava pessoal que lhe sirva com seu poder?

— Água, majestade — A garota responde. Ele segue para a próxima que lhe responde ar, a seguinte lhe responde água novamente e então chega a minha vez. Encaro-o.

Ele me pergunta:

— Qual o seu poder, mulher?

— Marry — Eu falo corrigindo-o. Ele me chamou de mulher e este não é meu nome.

— O quê? Está me desafiando? — Seus olhos injetados de um ódio sem motivos aproximam de mim.

— Não senhor, apenas respondendo que meu nome é Marry e não mulher. Meu poder é fogo, majestade. — Respondo e ele me analisa.

Não preciso explicar que tipo de fogo. Meu fogo não é flamejante, vermelho, laranja e amarelo, meu fogo é negro com uma base azul. Mas ele não perguntou que tipo de fogo e passou para a próxima que lhe respondeu natureza.

Ele se afasta e nos analisa, deve estar pensando o que mais lhe agrada ou o que é mais útil para ele.

Não sei qual critério usa. Gostaria de dizer a ele que não servirei para nada por algum tempo, pois estou ferida e nossos poderes não funcionam quando estamos feridos. É uma forma de defesa do nosso corpo, para concentrar a magia totalmente na recuperação. Mas de alguma forma eu quero ser a escolhida. Por orgulho, por algo que não entendo, mas sinto que tenho que ser a escolhida, tem que ser eu.

Seus olhos percorrem nossos corpos enquanto ele passeia na nossa frente, nos analisando. O rei vai até o fim da fila e volta, parando bem na minha frente.

— Você — Ele aponta para mim e acho que vai me dispensar. — Escolho você.

Um arrepio feroz percorre meu corpo dos pés a cabeça, mas não abaixo a cabeça, afinal, fui a escolhida. Não fui rejeitada. Meu orgulho está intacto, porém nada mais que isso estará em algumas horas. Esse homem sádico me fará em pedaços, eu sei disso.

Dou um paço a frente com o queixo erguido. O rei se aproxima mais me analisando, anda ao meu redor e eu me mantenho séria e de queixo erguido. Seja lá o que for que passarei nas mãos deste louco será desta forma, até o dia em que ele me matar ou me descartar.

— Demonstre seu poder. — Ordena o rei.

Encaro o rei. Ele deve estar louco.

— Não posso. — Respondo friamente.

— Retire o colar dela. — Ele ordena ao servo, acreditando que é por este motivo. Nem se estivesse sem o colar de contenção, eu não poderia usar meu poder devido a minha condição física.

— Mesmo que retire o colar, não poderei usar meu poder — falo ainda com meu orgulho intacto.

Ele me olho furioso.

— Mentiu para mim? — Aproxima-se, deixando seu nariz encostar no meu.

— Não senhor, se não sabe, uma bruxa ferida não é mais que uma humana, e eu estou ferida.

Seus olhos percorrerem meu corpo novamente, provavelmente procurando as feridas e não as encontrando.

— Mostre-me — ele ordena.

Viro-me de costas e afasto a manga da camisa, mostrando o lado superior das minhas costas onde já é possível ver a marca do chicote em minha pele.

Ele se aproxima e rasga o tecido, arrancando um som de espanto das pessoas que observavam e me fazendo arregalar os olhos em espanto e vergonha, mas me mantive inabalável.

— Levem-na aos meus aposentos, coloquem uma roupa digna de minha companhia. — Ele ordena ao servo que vem ao meu encontro e cobre minhas costas com um manto.

O rei caminha na frente sem nem mesmo olhar para mim mais uma vez, após ver o estrago que seus servos fazem conosco. Sou acompanhada até o castelo do rei alfa, onde algumas mulheres me aguardavam e me vestiram com uma roupa branca e transparente.

— Hoje você servirá ao rei e dará a ele um filho — a serva explica, me fazendo estremecer. Há algo sobre mim que ele não sabe, e quando souber, o que será de mim?

Não usava mais nada em baixo da roupa, estava completamente nua, mas se ele acha que eu entraria encolhida naquele quarto, ele está muito enganado. De queixo erguido entrei aqui, e assim permanecerei.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >
capítulo anteriorpróximo capítulo

Capítulos relacionados

Último capítulo