A Jesus e a mim faltava um prêmio de atuação para cada um, simulando normalidade entre tantos abutres. Justo em um dos meus passeios vejo um abutre menor, Julián, e imediatamente dou as costas para que não me capture.— Sara? É você? — pergunta-me ele.Amaldiçoo em minha cabeça e sou obrigada a encará-lo. Estou com minha máscara colocada, ainda que ela caia com facilidade. Julián estava com os olhos vermelhos e a aparência péssima. Dos gêmeos eu só tenho lembranças de assédio, esses moleques como costumavam acabar com a minha paciência, mas hoje é diferente. Seu terrível pai morreu.— Meus... pêsames... Julián — consigo dizer.Ele tenta sorrir com sua típica indiferença, uma que não lhe sai bem.— Por que você não procura dar os pêsames ao Lorenzo? É ele quem você deve estar procurando.Minha mão vai sem controle até sua bochecha. Belisco com força seu rosto, esse em que não sobra quase nada de gordura como quando era um garotinho.— Menino insolente... — aperto com mais força e sussur
É só dizer que, se Victoria tivesse uma espingarda, eu estaria morta. Ela não parava de me lançar mil olhares mortais enquanto eu estava ao lado de Lorenzo. Apenas ao lado dele, sem contato, nem nada que pudesse considerar inapropriado.Depois de algumas palavras de despedida do padre, o caixão está descendo à terra e, com isso, percebo como o peito de Loren vai se esvaziando. Como se um peso estivesse sendo enterrado. As pessoas começam a partir e a se despedir dos principais enlutados.Aproveito para me afastar um pouco de Loren, para ligar para Jesus, que não me atende de jeito nenhum. É muito estranho. Mais estranho ainda é que também não vi Emma por aqui.— Será que eles ainda estão juntos? Isso quer dizer que foi muito bem... ou muito mal? — a sensação de triunfo e medo é impressionante.— Seu segurança não entrou em contato com você? — me pergunta Lorenzo.Decido não ser pessimista, tem que estar dando certo para eles. Com essa história de que Emma está doente, não grávida, meu
Narrado por Emma BianchiNão escuto as orações vazias da minha mãe enquanto ela massageia meu cabelo. Meu corpo está muito cansado para me preocupar com isso, em vez disso quer ficar nesta banheira por horas e horas. Meu casamento com Lorenzo era praticamente um fato, e minhas correntes muito pesadas para arrastar.— Senhora! Senhora! — grita uma das nossas empregadas, entrando no banheiro.— Acalme-se, Maye. Também não corra desse jeito, você pode cair — recomenda minha mãe.— Desculpe, senhora, mas isso é muito importante — exclama ela.Para mim, é mais importante ver como meu cabelo cai na água. Estou perdendo muito cabelo, a ponto de preocupar minha estilista e minha mãe. O que quer que ela esteja passando na minha cabeça é para isso, para evitar a queda.— O que é tão importante? — suspira exausta minha mãe.— Ele morreu! O senhor Lorenzo finalmente faleceu! — informa agitada.As mãos da minha mãe param, sinto-as tremer, sua boca também.— Chame imediatamente Elena e Joaquín — min
— Fale — Mauro move a mão, dão-lhe um copo com uísque.— Seria de péssimo gosto celebrar um casamento tão pouco tempo depois da morte do pai do noivo. Estive discutindo isso com os organizadores e eles concordam que seria prudente voltar à data original de...Minha mãe não consegue terminar de falar. Mauro atira contra a parede atrás de nós o copo de vidro do qual estava bebendo. O barulho que faz e a proximidade com que passa ao nosso lado faz com que soltemos uma exclamação de pavor. Não só nós, os empregados por perto vão se retirando discretamente.Era o que foram instruídos a fazer quando meu pai ficava assim.— Estou pouco me lixando para o péssimo gosto! Esse casamento deve acontecer na data estipulada! — exclama furioso.Ele está caminhando em direção à minha mãe de maneira ameaçadora. Ela continua tremendo, embora não recue. Tenho que intervir.— Mas pai... — gaguejo — Se Lorenzo não quiser se casar comigo nessa data, que culpa temos nós? O pai dele acabou de morrer... não é l
O vaso se quebra, corto meu braço e minha mãe vem correndo até mim, assim como os empregados que saem de seus esconderijos para nos ajudar. Mauro foi embora pelas escadas sem olhar uma única vez para trás.……Como o corte no meu braço precisou de uma atenção especial em casa, não pude chegar com Mauro ao funeral dos Lewis. Cheguei mais tarde com minha mãe, e este lugar está lotado de pessoas. Vejo até um diretor muito famoso e o governador de outro estado. Eu que ingenuamente pensava que Mauro tinha fortuna familiar, percebo que existem até níveis entre os ricos.Não tinha pensado nisso, nunca passei por necessidade econômica, e é estranho que Mauro esteja preocupado com dinheiro. Vendo esta imponente mansão, considero que esta família nunca estará preocupada com isso.Minha mãe ficou comigo nos primeiros minutos, depois fomos nos separando entre as pessoas. Pediu-me que procurasse Lorenzo, eu menti dizendo que o procuraria. Não o procurei ativamente, apenas esperei vê-lo por ali. Niss
Narrado por Emma BianchiEstou com o coração na boca desde que entrei neste carro com Jesus. Estar com ele era um desafio absoluto a Mauro, e eu só esperava que isso não desse errado. Não apenas tinha me esgueirado escondida do funeral do sócio dele, como também não tinha conseguido cumprimentar meu noivo. Meu consolo é que Jesus foi cuidadoso com nossa saída.Ele descobriu como tirar o carro do estacionamento de modo que eu pudesse entrar sem ser vista. Parou na beira da estrada e pôde vir me buscar entre os arbustos. Também tenho olhado para trás constantemente e ninguém parece estar nos seguindo, além disso desliguei meu celular, e vi que ele desligou o dele.Depois de dirigir alguns minutos, ele fez uma parada em uma farmácia, comprou algumas coisas para meu braço e nossa próxima parada não ajuda no ritmo do meu coração. É um... motel afastado de tudo. Aperto nervosamente a borda do meu vestido.— Desculpe por este ser o lugar para onde te trago, mas... é o único em que consigo pen
Deixo de me importar com os medos que tinha em relação a ele e seus sentimentos por outras mulheres. Se cheguei até este ponto, que assim seja, arriscar minha vida por um beijo. Eu o faço, me inclino para ele e uno nossos lábios.Movo meus lábios para que os de Jesus reajam, após alguns segundos eles o fazem. Ele me envolve com sua suavidade e firmeza. Me puxa mais para perto dele, e temo que os anos não fizeram murchar este amor. Se sente como a primeira vez e, ao mesmo tempo, como um belo costume.— Emma... — ele tenta afastar seu rosto do meu, mas não deixo, continuo beijando-o.— Só encontro consolo em seus lábios... não os negue a mim...Apesar do meu pedido, ele consegue virar um pouco o rosto.— Se os rumores forem verdadeiros, não faça isso com você mesma... — pede culpado.— Quais rumores? Tantos já disseram sobre mim que é complicado decifrar o que é real e o que não é...— Dizem... que... você está esperando um filho desse homem, seu noivo — questiona ele completamente devas
Estou em uma nuvem de conforto da qual não quero sair, mas meu corpo dá um pulo involuntário de susto que me obriga a acabar de despertar. Ao abrir os olhos, percebo que meu apartamento está mergulhado nas sombras da noite. Tudo está apagado e escuro, eu havia ficado completamente adormecida.Confirmo que Loren ainda está no meu colo, ele ficou ainda mais nocauteado do que eu. Está descansando como se fosse um bebê, por isso não quero imaginar o quão cansado ele devia estar. Nem sei que horas são, pisco muito para poder focar minha visão, então estendo meu braço para tatear e pegar meu celular que havia deixado por ali.Pego-o e me surpreendo com a hora que indica, já passa das 12:00 AM. Também verifico que tenho muitas mensagens não lidas desde cedo, muitas, incluindo uma de Jesus. Ele tinha me escrito há cerca de uma hora, pedindo desculpas, mas surgiu uma emergência, que amanhã me devolveria o carro.Ergo minha sobrancelha e sorrio porque já imaginava qual era a "emergência", deixo