Liz
A noite passou muito rápido... Tive sonhos que seu eu contasse para alguém... alguém do internato iria me repudiar.
A manhã chegou bem rápido, minha barriga roncava de fome, e não sabia que horas iria aparecer alguém para me socorrer. Estava com tanto medo de morrer nesse lugar escuro e frio.
Já havia perdido o tempo, mas sei que estava perto da hora de comer, quando ouvi um barulho na porta. Eu estava no chão, enrolada na coberta torcendo para que Marta não brigasse comigo. A porta se abriu e eu juntei meu corpo, para me sentir segura, fechei meus olhos e esperei que Marta viesse me golpear com aquelas palavras terríveis. Mas ela não veio. Dessa vez, eu não vi o rosto de ninguém, apenas uma mão se estendeu para mim. Peguei lentamente e aquela mão amiga me ajudou a levantar.
Quando sai e vi a claridade, meus olhos doeram, e assim que se acomodaram com o ambiente, vi uma mulher. Ela era linda, ruiva, alta, magra. Usava um sobretudo branco por cima de um vestido preto. Seus olhos eram claros, ela me olhou sorrindo e disse:
- Está se sentindo bem? – Estava apenas com muita fome, o que me fez sentir um mal-estar.
- Estou bem! Apenas com fome...- Olhei para trás da moça e vi Marta, e ao meu lado um homem grande e forte.
- Venha...- Disse a moça me estendendo a mão. – Vou te levar para comer algo.
Ela era sorridente e me fez sentir segurança. Estendi minha mão e fui levada até o jardim. Lá tinha uma mesa posta com muita comida. O homem que estava a todo momento nos acompanhando puxou uma cadeira para a mulher se sentar, e logo em seguida veio puxar para mim. Nos ajeitamos na cadeira e ela disse, apontado para a xícara:
- Desculpe minha falta de educação... Meu nome é Jenny!
- Muito prazer Jenny, meu nome é Liz!
- Liz, estive conversando com a Marta a alguns dias e queria muito te conhecer. – Meu coração gelou, como se ela estivesse retirando o pouco do ar que ela havia acabado de me devolver. – Seu pai, é uma pessoa muito querida para minha família. E entendo os meios pelo qual ele te escondeu e o apoio por isso..., mas queria muito ter conhecido você antes.
- Que bom que conhece meu pai, não tive esse privilégio. O vi poucas vezes em toda minha vida.
- Compreendo, quero que sabia que estou aqui para te ajudar! – Disse ela me servindo chá. – Bom, mudando de assunto... Gostaria de saber o que estava fazendo naquele quarto escuro? – Fiz cara de desentendida. – Não se faça de boba. Quero ouvir sua versão da história.
- Não tem história! Tem o que Marta acredita ser verdade, e o que ela não me disse. Não sei porque ela me colocou lá.
- Verdade! Acho que nessa altura, não preciso saber de nada. Somente checar que ela seja devidamente punida. – Disse ela tomando chá com delicadeza. Olhei para o seu e pude deduzir que já estava quase na hora do almoço.
- Jenny! – Gritou uma voz aguda atras de Jenny. Olhei e vi Karoline, ela estava bem arrumada. Com um vestido justo, sem decote, um blazer por cima. Ela veio se aproximando muito sorridente. Ao ouvir seu nome, Jenny se levantou e ficou a espera dela. Me levantei e fiquei olhando para ela.
- Karoline! Que bom revela! – Disse Jenny abraçando Karoline como se fossem muito amigas. Olhei sem graça e disse:
- Eu preciso ir, não quero atrapalhar o compromisso de vocês! – Disse eu. Jenny me olhou com carinho, enquanto Karoline me olhava com desprezo.
- Antes de ir, quero te apresentar uma pessoa. – Disse ela olhando para traz. Olhei e vi um homem de terno. Ele vinha andando com passos firmes. Tinha a barba bem feita, e cabelo bem penteado, usava óculos de sol e carregava apenas um celular em suas mãos, que não parava de olhar. – Ali está ele! – Disse ela apontando e acenando para ele, enquanto ele se aproximava. Era ele... O homem que me deixou aterrorizada e que ate mesmo apareceu em meu sonho... Que com a sua voz me deixou amedrontada e agora com desejos pecaminosos... Ele chegou num piscar de olhos. Olhou apenas para Jenny. – Irmão... como está? – Disse ela o abraçando. Ele apenas olhou para ela friamente, sem responde-la. – Aqui está, Karoline! – Karoline se aproximou dele, o abraçou, e deu um beijo em seu rosto.
Será que é ele, o homem que ela estava conhecendo? Será que ele já pediu a mão dela em casamento? Ele parece um ogro... Nem cumprimentou ela direito... Credo! Que homem estranho... frio...
- Benjamin, está é Liz, filha de August! – Disse ela apontando para mim. Ele me olhou, tirou os óculos. Vi seus olhos, e eram mais frios que suas atitudes. Me deixou petrificada... – Consegui conhece-la hoje, mas foi uma longa história... – Ele ficou me olhando, como se eu fosse um bicho que precisasse ser exterminado. Olhei para ele seria, sem medo... Estendi minha mão e disse:
- Muito prazer! – Tentei não tremer minha voz. Ele estendeu a mão e disse:
- Prazer Liz! – Sua voz era rouca e grossa... Parecia que iria invadir minha alma e me possuir ali mesmo.
- Liz, você não disse que precisava ir para dentro, para não atrapalhar?! – Disse Karoline, sorrindo.
- Sim, claro! Tem toda razão...
- Não! Quero que fique Liz, você é como se fosse da família. – Disse Jenny me interrompendo. – Faço questão de que fique... Já está na hora do almoço, e você ainda não comeu nada. Então fique e almoce conosco. – Ela disse seria me olhando. Apenas concordei com a cabeça e me sentei.
Nos sentamos para comer. Karoline não parava de falar sobre si mesma, sua família. Ela até falou sobre a união deles ser algo muito importante para a sociedade e para a máfia. Eu comi um pouco de salada, e acabei perdendo a fome com o tanto que Karoline falava.
De repente Benjamin olhou para mim e disse:
- Seu pai é um grande amigo de minha família.
- Jenny me disse!
- Liz, quando perdemos nosso pai, seu pai se tornou um pai para nós. - disse Jenny.
- Que bom que o tiveram presente.
- Ficou a vida toda no internato ??- Disse Karoline.
- Sim! Não tinha autorização para sair de lá.
- Que vida triste! -disse Karoline. - Você não deve saber como o mundo é…- ela respirou fundo- Aii Benjamin! Essa pobre coitada esteve presa a vida toda!
- Não preciso da sua pena… aprendi muito onde estava. Sobre o mundo… e sei bem como as pessoas são más.
- Você não tem nada melhor para fazer? - disse Karoline, com tom de soberba e deboche.
- Ela é minha convidada! -disse Jenny. Ela me olhou furiosa. Benjamin me olhou sério, seus olhos me devoravam, como se eu fosse uma coisa, em vez de alguém a sua frente.
Karoline, ficava alisando o braço de Benjamin que tentava afasta-la.
- Tem algum lugar que tenha vontade de ir, Liz? -disse Benjamin afastando o braço de Karoline.
- Tenho vários lugares…
- Você não deve saber se quer saber chegar na esquina. -disse Karoline.
- Tem razão! Vivi sem meus pais, pois estavam sendo pais do chefe da máfia. E presa em um internato com freiras… e agora com um bando de garotas mimadas, que parecem estar no cio, loucas pra casar com o primeiro homem que aparece. No seu caso, nem sei quantos homens já passou por aqui…- Karoline me olhou brava, se levantou e disse:
-Vai deixar sua convidada me insultar ?? - disse Karoline olhando para Jenny. Ela olhou e pegou uma taça com água e tomou.
-Liz, com quantos anos está? - perguntou Jenny. Karoline bateu na mesa e disse:
- Jamais imaginei que os chefes da máfia iriam me desrespeitar a tal ponto. Meus pais saberão disso.
- Tenho certeza de que saberão, pois eu mesmo irei falar com eles. – Disse Benjamin, sem se mexer. Ela se virou e foi embora apressada.
- Liz, tem tantas coisas que gostaria de saber... – Disse Jenny- Seu pai teve que viajar e quase não pude falar com ele.
- Mesmo que ele estivesse aqui, acredito que não saberia dizer muito sobre mim. Convivi muito pouco com ele, Jenny.
- Eu imagino seu ressentimento, e sinto muito tocar no nome dele novamente.
- Não se preocupe com isso. Não sinto dor ou ressentimento, pois amos nunca me faltou. Agora, esta casa é uma péssima ideia. As pessoas deveriam ser livres para saber qual melhor caminho para si própria.
- E o que gostaria de fazer? – Perguntou Jenny.
- Eu pretendia ir para a faculdade, mas não pude. Então comecei a fazer faculdade a distância. Falta dois anos para que eu termine.
- Você faz faculdade? E do que? – Disse Jenny.
- Eu faço, ou fazia pedagogia... Eu adoro ensinar. Essa parte da alfabetização infantil me deixa apaixonada.
- Já tem algum pretendente? Digo, conheceu alguém, desde que chegou? – Perguntou Benjamin, sério.
- Na verdade não... Tive alguns contratempos.
- Pretendentes não lhe faltará... És muito bela. – Disse Jenny.
- Na verdade não queria me casar...- O telefone de Benjamin tocou, ele olhou e abaixou. – Se quiser pode atender...
- Não, eu retorno mais tarde. – Disse ele sério e sem graça.
- Acho que já tomei muito o tempo de vocês hoje... – Disse eu, me levantando. – Preciso de um banho e...
- Eu vou falar com Benjamin e explico tudo. Assim que ele se posicionar sobre o que iremos fazer com Marta venho te avisar. – Disse Jenny, enquanto Benjamin se levantava e ficava me olhando sem entender o que havia acontecido. Jenny me abraçou e eu sai, apenas acenando a cabeça para Benjamin.