8

A tarde estava nublada, e a a brisa gelada que fez com que Emma ajeitasse o mantelete azul de veludo sobre o bonito vestido amarelo-claro. Os cabelos negros estavam presos na parte de cima envolvidos por uma trança enquanto os cachos caiam em cascata pelas costas. A avó sorriu em aprovação quando a viu deixando-a intrigada, achava que a Sra. Clarke estava lhe escondendo algo e enquanto a carruagem parava em frente a mansão Dorffwest decidiu que o que quer que fosse agora não era sua prioridade. Intimamente, torcia para que Jamie não estivesse ali, mesmo sabendo que isso seria improvável, como aquele convite, sua avó havia lhe dito, não era do tipo que se recusava, pensou que o melhor a fazer era aceitar sem reclamar que iria vê-lo mais uma vez.

Pensava no que Claire havia lhe dito, sobre Jamie e a Sra. Lawson, e até considerava que era melhor mesmo que houvesse essa história mal contada sobre os dois pairando sobre seu encanto inicial com o Duque. Ele era, em sua opinião, encantador, e sem dúvida nenhuma extremamente bonito, mas havia visto o suficiente para saber que dificilmente um homem como aquele desiste do que quer, e para Emma havia ficado muito claro que apesar do passar dos anos ele ainda queria Kathrine. Emma olhou pela janela e viu que passavam pelos portões de Dorffwest Rise, revendo mentalmente seu plano de dessa vez manter-se cordial, e bem longe dos lábios do Jamie Bennet. “Homem impossível!”, pensou enquanto descia da carruagem.

Foi Lady Lyanna que as recebeu, e Emma não havia reparado em como ela tinha os olhos da mesma cor do irmão, e naquela tarde ela parecia especialmente bela, com o rosto mais corado como se a doçura e timidez tivessem sido substituídas por uma alegria radiante. Claro, ficava feliz por ver a menina que lhe parecera até melancólica quando haviam se encontrado anteriormente radiante, mas perguntava-se por que ela parecia o sol em uma tarde cinza como aquela. Seguiram com ela até a sala confortável, onde a Duquesa ria de algum gracejo que Lorde Elington lhe fazia, enquanto Jamie olhava para a lareira, ainda que também estivesse rindo.

Quando Isabel as viu chegar, levantou-se para recebê-las, muito amável, e Emma novamente percebeu como ela se dirigia com respeito à sua avó, o Duque aproximou-se e também Lorde Elington, e logo os dois voltaram para seu assunto em poltronas mais afastadas de onde estavam com a Duquesa. Enquanto ouvia a estimulante conversa entre Isabel e sua avó sobre um ou outro acontecimento, ou comentário sobre algum evento, percebia que Jamie olhava em sua direção, e ainda que estivesse sorrindo em seu íntimo perguntava-se porque ele permanecia ali, pois duvidava muito que o assunto entre elas os interessasse e afinal aquela casa era enorme, certamente teria algum outro lugar para estar que não fosse ali.

Sra. Clarke, deve lembrar-se que o tradicional baile que minha cunhada oferece todo ano se aproxima, a senhora certamente irá, não é mesmo? — perguntou a Duquesa, aceitando seu elegante xale que dava a Emma a impressão de ser quente e macio.

Ah! Claro, senhora — a Sra. Clarke concordou, com um breve sorriso — se me lembro bem, o primeiro baile oferecido por ela foi logo que milady e o Duque voltaram da França, assim que se casaram! Uma bela homenagem ao casal!

Minha cunhada sempre foi muito generosa ao demonstrar sentimentos — a Duquesa sorriu ternamente — ela é sem dúvida, uma irmã para mim.

É uma mulher admirável — concordou a avó de Emma.

Havia conhecido Lady Georgina Bennett, claro, uma senhora de olhos atentos castanhos esverdeados, e cabelos que mostravam as mechas brancas em meio aos fios castanhos. Era tão elegante quanto Isabel, mas Emma pensava que ao contrário da Duquesa, sutileza não era exatamente o seu forte. Ela tentou dar início à um furtivo interrogatório assim que a viu acompanhando Jamie, como se tentasse decidir se ela era ou não digna de estar com as mãos ao redor do braço atlético do sobrinho, à quem ela ao que tudo indicava adulava sempre que possível. Por mais que a companhia da jovem lady fosse agradável, e gostasse realmente de ouvi-la, não deixava de pensar se teria que ir àquele baile também. Sorriu para Lyanna que lhe falava algo sobre cavalos e depois voltar à prestar atenção a menina, entendeu que ela estava lhe contando sobre não montar com tanta frequência, e que Jamie não permitia que fosse sozinha.

Creio que seja porque Lorde Bennett é um irmão muito atencioso e protetor, milady — disse Emma, pensando que entendia que ela quisesse, e talvez até se sentisse no direito de cavalgar sozinha pela propriedade, afinal crescera ali. Mas, também achava que o Duque tinha razão em querer que ela estivesse segura. Então, percebeu que ele aproximou-se da irmã e tomou sua mão.

Minha querida, porque não leva a Srta. Lowell para ver os cavalos? — ele olhou da irmã para Emma — tenho certeza que ela, como excelente amazona que é, gostará de vê-los, e talvez possa lhe fazer companhia quando o tempo melhorar.

Claro — a menina pareceu animada com a ideia — vai nos acompanhar?

Sim, nós iremos — adiantou-se Lorde Elington — assim posso desfrutar da companhia de senhoritas tão belas! — fez uma galante mesura, e diante do olhar de canto do Duque, ofereceu o braço a Lady Lyanna, o que faz Emma pensar que diante do risinho alegre dela, parecia ter muita afeição por ele.

Levantou-se, enquanto o Visconde pedia permissão à Isabel e à Sra. Clarke, dizendo que não deveriam se demorar, afinal o tempo estava brusco apesar de estar próxima a primavera.

Jamie seguia ao lado de Emma, que riu discretamente quando ele disse que era um cavaleiro melhor do que Richard, e esse respondeu que não se importava, pois continuava sendo mais bonito do que o Duque. Ela olhou com mais atenção e viu que ele realmente não mentia no que dizia respeito a ser bonito. Richard tinha cabelos loiros ligeiramente desalinhado, e olhos verdes, uma covinha no queixo e um porte de príncipe. Notou que Jamie a observava enquanto desciam as escadas que os levavam para o átrio principal, e desatenta sentiu por um instante como se pisasse em falso.

Cuidado, Srta. Lowell — ela ouviu a voz do Duque baixa próxima ao seu ouvido enquanto tentava ter certeza que seu pé estava de fato no degrau — parece-me que não só beijos acontecem cada vez que nos encontramos, já que sempre tenho que salvá-la de um tombo eminente — ele a segurava pela cintura bem junto dele.

Ora, isso não é de todo verdade — ela disse erguendo o queixo desafiadora como sempre — e o senhor já pode me soltar, milorde.

Tem certeza? — ele falava sério, olhando-a nos olhos — porque a senhorita ainda está tremendo.

Muito provavelmente porque minha distração quase levou-me a um tombo que seria no mínimo desastroso — ela empertigou-se, cheia de si — mas, agora estou bem, e o senhor já pode me soltar.

Estou apenas preocupado com sua segurança, Srta. Lowell — ele ainda mantinha Emma perto de si e viu que as bochechas dela coraram, então esboçou um sorriso — e ainda não ouvi nem sequer um agradecimento pelo meu ato de heroísmo — Jamie ignorou que ela lhe enviou um olhar ameaçador.

Obrigada — ela falou e logo que ele a soltou, desceu os últimos degraus já sem ouvir as vozes de Lyanna e Richard.

Eles já devem estar a caminho — disse Jamie lhe oferecendo o braço — segure firme sim, não quero ser motivo para sua distração novamente.

Emma preferiu não respondê-lo, pois já estavam do lado de fora da mansão e se não estava enganada seriam alguns metros pelo jardim do lado esquerdo, passando pela por um caminho feito de pedras marmóreas que culminavam em uma pequena ponte, para então chegarem ao estábulo. Era também uma construção grande, e aos olhos dela até mesmo luxuosa se comparada a outros que já havia visto, parecia tudo muito mais limpo e um cheiro de capim recém cortado, e terra molhada faziam com que ela pensasse que até mesmo os animais de Dorffwest deviam ser tão bem tratados que o lugar não tinha nem sequer o odor que lhe era característico. O responsável pelo local logo foi ao encontro de Jamie, dirigindo um sorriso amigável à Emma enquanto Jamie perguntava se Lyanna e Richard já haviam voltado para a casa, pois não ouvia os dois.

Ouvi Lady Lyanna queixar-se de frio, então acho que Lorde Richard achou por bem, levá-la de volta para que não se resfriasse — explicou o homem, enquanto Jamie acarinhava um animal que passava com um cavalariço em direção as baias.

Não pode deixar de notar os olhos brilhando de Emma diante da imponência do animal, e ela encantou-se com cada um deles, que seu chefe de estábulo parecia satisfeito em compartilhar dos feitos, provas que haviam vencido e até mesmo particularidades sobre sua origem.

Acha que podemos mostrar Edge para a Srta. Lowell, Sr. Barker? — perguntou Jamie, deixando-a curiosa.

Podemos sim, senhor — assentiu o homem — colocamos Edge numa das baias do fundo, Lady Lyanna mandou colocar até uma placa com o nome dele.

Lyanna está apaixonada por ele — disse ele olhando para uma Emma curiosa.

Quando chegaram à baia, que realmente tinha uma placa dourada fosca, como o nome do cavalo luxuosamente gravado, Emma colocou as mãos sobre a boca e conteve um gritinho entusiasmado. Edge, um potro negro como a noite que hesitou em chegar perto do Duque quando percebeu a presença de Emma.

Ele ainda é meio arredio, pertence a Lyanna, ela simplesmente o adora! — Jamie fez carinho na crina do animal que ergueu o pescoço parecendo feliz.

Não posso julgá-la por mimá-lo e adorá-lo, ele é encantador — ela manteve-se onde estava, para que o animal se acostumasse a sua presença.

Ficaram ainda por mais alguns minutos com Edge, mas ao notar que a chuva se aproximava, Jamie sugeriu que voltassem para casa, mas quando se aproximavam da porta, começou a chover muito forte. Emma preocupou-se, pois a chuva poderia durar horas, e mesmo que o lugar estivesse impecável, a temperatura deveria cair. E além de tudo, havia Jamie. Ele estava encostado próximo a porta principal, e as cores sombrias daquela tarde pareciam deixá-lo com uma aura misteriosa.

Não deve demorar — disse ele, e Emma esperava que como conhecia a região melhor do que ela, saberia do que estava falando.

Espero que não demore...

Se demorar, teremos duas opções. Ou podemos sair, para ficarmos encharcados assim que colocarmos os pés para fora do estábulo e ir o mais rápido possível para casa — pensava que se estivesse sozinho, esperaria alguns minutos, e depois se arriscaria a congelar até os ossos — ou podemos passar a noite aqui — ele falou sério, mesmo sabendo que as chances disso acontecer eram mínimas.

A-aqui? — Emma perguntou, incrédula.

Sim, e acredite, é muito frio à noite, principalmente depois da chuva.

Meus Deus, vamos congelar...

Bem... sempre temos o feno — ele se segurou para não rir da expressão desanimada de Emma — e calor humano, claro, é uma combinação que pode funcionar bem para que ambos não congelemos durante a noite.

Não tem graça, Jamie — ela ralhou, quando percebeu o sorriso perverso dele.

Tem razão, perdoe-me. Mas, devo confessar que queria mesmo ficar a sós com a senhorita — ele foi até Emma, que havia se sentado sobre um fardo de feno — preciso lhe pedir um favor.

Um favor? — ela perguntou, desconfiada.

Gostaria que me acompanhasse ao baile da Família Bennett — Jamie disse, pensando que teria que convencê-la, mas sem contar exatamente o porque sua presença seria até mesmo aguardada.

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