Capítulo 5

Arthur chegou em casa e foi direto procurar o pai na biblioteca. Estava curioso para saber sobre as terras do outro lado do rio, mais especificamente sobre a moça que havia conhecido.

Fazia pouco mais de uma semana que ele havia retornado da Europa, onde havia ido estudar. Ainda não tinha frequentado nenhum baile e nem conhecido nenhuma dama no seu retorno. Mas não se enganem ao pensarem que ele era casto, pois aproveitou muito sua estadia na Europa, se divertindo com amigos.

O fato era que conhecer Eloise mexeu com ele e nem o próprio sabia explicar porquê. Queria saber mais sobre ela, conversar, a conhecer melhor, saber sua comida e sua cor preferida, céus o que estava acontecendo com ele?

A família de Arthur era muito rica, seu pai era um renomado fazendeiro de café. Após a libertação dos escravos, eles conseguiram manter todos que desejassem trabalhando para eles recebendo um salário justo, eles também tinham suas moradias e sempre que alguém adoecia, o médico da família era chamado. Apenas alguns não ficaram na fazenda, pois estavam em busca de familiares perdidos.

Arthur compartilhava as ideias do pai e sempre que possível ajudava aqueles que necessitavam. Sempre foi muito humano e queria seguir os passos do pai um dia.

A casa deles era grande, composta por seis quartos, cozinha, sala de jantar, sala de visitas, banheiros (eles possuíam água encanada que contava com água quente), a biblioteca, um salão de bailes, uma sala de leituras. Ao lado de fora, um belo jardim cercava a casa, além de um lindo bosque próximo e mais as casas dos trabalhadores.

Arthur atravessou um corredor cheio de quadros de seus antepassados e parou em frente a grande porta da biblioteca, então bateu e esperou. Não demorou e uma voz lá de dentro pediu que entrasse.

Seu pai estava sentado atrás de uma grande mesa, cheia de papéis para todo lado, que para quem visse de fora parecia desorganizado, mas para seu pai estava tudo organizado. Ele fumava um charuto enquanto respondia algumas cartas. Então levantou a cabeça e indicou ao filho uma das cadeiras de couro à sua frente:

— Sente-se. Estou terminando de responder alguns convites. Gostaria de ir a um baile no sábado?

Arthur o olhou curioso:

— Baile?

— Sim filho, agora que voltou, imagino que vá frequentar bailes, se integrar à sociedade, conhecer uma boa moça e casar.

— Pai, tem uma semana que voltei. Mas se o senhor achar apropriado, irei ao baile.

O pai o olhou satisfeito. Eles sempre se deram muito bem e Gregorio respeitava e admirava muito o filho.

— Ótimo, vou confirmar sua presença. Depois passo as informações mais detalhadas. Agora me diga o que te incomoda?

O rapaz olhou para o pai e levantou uma sobrancelha. Ao que este respondeu:

— Suponho que algo o incomoda, para vir ao meu escritório com a roupa toda molhada...

Só então Arthur se deu conta que não havia se secado:

— Eu ajudei uma criança que estava se afogando no rio e é sobre isso que queria falar.

Esse fato chamou a atenção do pai, que se rencostou na cadeira, cruzando as pernas e prestando atenção no filho:

— Espero que a criança esteja bem. O que posso fazer por você?

— Sim, ele está a salvo. Ele mora no outro lado do rio com a família. Eu até ofereci emprego a eles… o senhor sabe de quem são aquelas terras?

Gregorio sentia muito orgulho do filho e tinha certeza que um dia ele ia administrar muito bem a fazenda. Ele era um dos filhos do meio, os dois mais velhos já estavam casados e as duas meninas mais novas estavam estudando em uma escola preparatória para moças.

— Fico feliz em ouvir. Aquelas terras são do Queiroz, eu soube que após a absolvição ele deixou, a pedido da filha, os trabalhadores que não pôde empregar morarem lá até encontrarem um emprego.

Arthur ficou pensando no nome. Então provavelmente a moça que conheceu naquela tarde era a filha do Queiroz. Algo se acendeu dentro dele. Agora tinha um nome por quem procurar e ele não ia descansar até encontrar ela de novo, mal sabia ele que estava mais próximo do que imaginava.

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Eloise não viu mais Estevam no transcorrer daquela semana, o que a fez pensar que ele não seria como os demais rapazes que quando cortejam as moças, estão sempre por perto. Melhor para ela, pensou. Ela também não foi mais à aldeia por receio de encontrar Arthur.

Aquele dia foi a costureira provar um vestido novo para o baile no próximo sábado. Era a última prova. Embora não achasse necessário ficar gastando dinheiro com vestidos, em quanto a fazenda não ia bem, seu pai fez questão. Para ele as aparências eram muito importantes e ele queria a filha linda, como sempre.

O vestido escolhido era um tom de vermelho mais escuro, com costura logo abaixo do busto e um decote que favorecia este. As mangas eram curtas e bufantes, com rendas brancas. Um par de luvas brancas até acima do cotovelo faria parte do traje, além de uma pashimina sob os ombros.

Eloise já tinha ido a muitos bailes e para ela eram sempre a mesma coisa. As músicas geralmente eram as mesmas, apenas trocavam os músicos. Às vezes acontecia alguma apresentação de alguma peça, mas era difícil. Havia muitas comidas que geralmente eram muito boas, especialmente os doces. Sem falar nas conversas triviais com outras moças que estavam à procura de bons maridos, suas mães que corriam atrás de bons pretendentes para as filhas e os mesmos cavalheiros de sempre.

A costureira terminou os últimos ajustes e prometeu entregar na casa de Eloise até sexta-feira. O baile seria no sábado. Se seu pai não tivesse confirmado presença, certamente ela não iria. Preferia ficar em casa lendo.

Firmina a estava acompanhando naquela tarde de quarta-feira. O dia estava muito bonito, com um lindo sol. Elas saíram da loja e estavam caminhando pela calçada em direção a carruagem que as aguardava a uma quadra da loja. Eloise usava um vestido lilás de mangas longas, num estilo gótico romântico. Elas andavam distraídas, quando um menino passou correndo por entre as duas, empurrando Eloise em direção a rua.

Antes que pudesse cair e ser atropelada por uma carruagem, um cavalheiro a segurou em seus braços. Muito assustada e tremendo, ela levantou os olhos para encarar seu benfeitor e qual foi a sua surpresa ao ver aqueles olhos pretos e cintilantes a encarando.

— Arthur!!! Digo, senhor Fonseca!

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