04 - Mary Pape

Mary Pape

Gatilhos de abuso psicológico, violência doméstica e uso de drogas ilícitas.

Não suporto mais!

É tudo o que me vem a mente olhando para o Donald, que mais uma vez chega em casa e começa a usar suas porcarias na mesa do jantar, sem se importar com o Ravi que estava em seu cadeirão jantando. Não consigo ficar afastada para fazer qualquer outra coisa, já que tenho pavor de que Donald machuque nosso próprio filho.

Hoje foi um dia difícil, quando ele chegou em casa irritado com alguma coisa, descontou a sua fúria em mim, sinto dores em cada parte do meu corpo, e dessa vez tenho certeza que ele conseguiu quebrar o meu pé, não consigo apoiar no chão. Observo enquanto ele usa a última carreira de pó e se ergue da mesa.

Mas para o meu desespero, vejo a sua aproximação, tento me esquivar do seu agarro, mas o primeiro tapa forte o suficiente para me derrubar no chão, o sabor de ferrugem preenche toda a minha boca. Coloco as duas mãos na frente do corpo para implorar que ele não fizesse isso comigo.

Infelizmente Donald é maior e mais forte, não tenho força para impedir que ele me abuse, enquanto choro a dor da sua violação ele me xinga com todo tipu de palavras que tem em seu repertório, enquanto me recordo de um tempo em que ele era um bom marido.

O conheci há seis anos, em uma exposição no Louvre, estava com meu nome em ascensão, estava com dezessete anos, por um acaso uma das minhas professoras de arte gostou de meus quadros e acabei ganhando uma exposição por seis meses em Paris. Em um jantar com jovens artistas o conheci, ele é o filho de um empresário parisiense, não nego que o charme que Donald tem me fez ficar interessada nele, minha professora não gostou de me ver ao lado de Donald, mas por algum motivo ela parou de interferir.

Quando a minha exposição acabou, já havia completado a maioridade e Donald insistiu em vir para Dallas para pedir a minha mão para meus pais, que não se opuseram assim que descobriram que o francês que veio comigo era filho de um empresário. Meus pais foram gananciosos e acabaram praticamente me vendendo ao Donald.

Os primeiros anos vivemos entre Dallas e Paris, a cada ano conseguia ter uma exposição, mas quando engravidei do Ravi as coisas mudaram. Ele ficava, mas tempo em Paris do que comigo em Dallas e sempre que vinha para casa algo acontecia.

As agressões começaram com pequenos insultos, dizendo como estava ficando feia gravida, o quanto estava engordando, que a gravidez estava me deixando preguiçosa e não cuidava da casa como deveria.

Donald ficava uma semana em casa e depois retornava para Paris, sei que existe algo que o faz correr para lá a cada visita, estou decidida a terminar esse casamento assim que Ravi nascer. Mas infelizmente quando nosso filho nasceu as coisas pioram de tal forma que na primeira agressão parei no hospital desacordada, ele provavelmente pagou alguma quantia e nada aconteceu.

Dias depois estava novamente em casa, com um bebê pequeno que precisava proteger da loucura que a minha vida se tornou.

As últimas vezes que ele veio para casa comecei a desconfiar que ele estava casado em Paris e que me tornei o seu fardo, por isso ele enche a mente com cocaína, porque não existe justificativa para o que estava acontecendo nos últimos anos. Ele não era assim, Donald era um homem amoroso e sua forma agressiva, fez com que todo o amor que existia por ele chegasse ao fim.

Mas não queria terminar o meu relacionamento em meio alguma polêmica de agressão, até porque somos pessoas públicas e sempre temos algo referente ao nosso trabalho sendo disseminado na mídia.

Quando acordo vejo que o Ravi acabou cochilando no seu cadeirão, sentia que as dores haviam piorado muito desde a tarde, com esforço consegui me erguer do chão, olhei para a sala e vi que Donald estava apagado no sofá, o que me daria tempo suficiente para sair de casa.

Uns dias antes já havia deixando a bolsa do Ravi arrumada com várias coisas para poder usar enquanto encontro um lugar seguro para fugir do Donald.

No meu carro no porta-malas já tinha uma mala com as roupas minhas e meu documentos, todas as minhas telas que já estavam prontas para a próxima exposição e algumas em branco, vou sim fugir dele, mas não da minha vocação.

Com uma dificuldade enorme, consegui ir para o carro com o meu bebê. Não voltei para a casa, apenas entrei no carro e agradeci mentalmente por ter um carro de câmbio automático, porque não conseguiria passar a marcha. Meu pé sem dúvida estava quebrado e com toda certeza algumas costelas também deveriam estar de alguma forma com alguma luxação.

  Minha respiração estava falhando, minha visão estava ficando nublada e via pontinhos pretos sempre que fechava os olhos. Levanto meus olhos e vejo a placa de um hospital, talvez seja isso preciso.

Estávamos parados em um semáforo fechado, havia acabado de dar meia-noite e uma pomba pousou sobre a placa do hospital e vi isso como um sinal da intervenção divina.

— Apenas cuide do meu menino, Senhor misericordioso, ele é inocente. — Digo olhando para espelho retrovisor.

Com dificuldade mudo o caminho que estávamos indo, quando me aproximo do prédio do hospital sinto minhas forças se perdendo e apago no volante acelerando o carro.

O solavanco do carro ao atravessar a entrada do hospital, me faz acordar.

Meu olhar vai em direção um homem com um jaleco, com os cabelos grisalhos e com um rosto preocupado olhando para a merda que havia acabado de fazer. Olho pelo retrovisor e meu bebê carente e que as únicas palavras que sabe dizer é mamãe e papai estava acordado.

Pena que o homem que é o pai do meu filho não merece o título que meu menino tão inocente deseja dar a ele.

— Mamãe… — Ele diz melindroso.

Me viro em sua direção e estico a mão para poder acalentá-lo.

— Ravi… — Mas não tenho forças suficientes

Quando acordo novamente, estava em uma maca com diversas pessoas ao redor de mim, não consigo respirar bem, mesmo tendo uma máscara de oxigênio no rosto, ainda não me sentia bem!

Sinto uma pressão ao lado da minha costela e como um milagre minha respiração fica um pouco mais fácil, fecho os olhos por alguns instantes e ouço o choro do Ravi, procuro por sua voz e não consigo virar para nenhum lugar.

Acabo desligando novamente, acordo e vejo que o homem que estava ajudando as pessoas quando entrei no hospital, estava sentado ao meu lado com um sorriso no rosto. Ele olhou por cima dos óculos com um sorriso encantador e por um milagre sentia um sono maravilhoso se aproximando.

Como uma amante deixei que aquela nevoa me levasse para onde quer que fosse, apenas para fugir da dor e desespero que estava sentindo, estava até mesmo feliz caso a morte ceifasse a minha vida.

Mas…

A voz que mais amo na vida me trouxe de volta.

— Papai…

O choro do meu filho estava ali, precisava acorda, precisa dar colo para ele e dizer que ficaremos bem, onde quer que fosse.

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