CAPÍTULO 3

Devo ser honesta e dizer que fui com a cara de Bia desde o começo. Com certeza teria nela uma aliada, principalmente para descobrir tudo sobre o tal do Nick e sobre a mulher misteriosa que estava atrás de sua herança. Quem sabe não acabaria descobrindo algo sobre a noiva que o abandonara?

Não que estivesse interessada nele, mas informação é sempre informação, principalmente na minha área. Saímos da recepção e Bia me levou para uma construção de dois andares, pequena, porém charmosa.

— Que casa linda, Bia! Vocês recebem hóspedes aqui no haras? — Perguntei curiosa.

— Às vezes, quando é realmente necessário. Essa é a casa do Nick.

— Eu vou ficar aqui? — Arregalei os olhos, horrorizada.

— Hum-hum.

— Mas, Bia, não há outro lugar?

— Só se quiser ficar nos estábulos — disse, dando de ombros — Mas acho que não vai querer, não é mesmo? — Deu-me uma piscadinha matreira, enquanto sorria.

— Não mesmo. Se não há outro remédio, então, fazer o quê? — respondi ressentida — Tem certeza de que ele não vai se importar se eu ficar aqui? Eu não o conheço, quer dizer, essa cidade é pequena...

— Ah, não se preocupa, doutora! A cidade é pequena, mas o povo não liga mais pra isso.

— Por favor, Bia, me chame de Bárbara, ou Babi, se preferir.

— Babi? Gostei!

— Você mora aqui na fazenda? — Perguntei, com uma pontinha de curiosidade. Bia era uma mulher bonita. Teria ela consolado o brutamonte, enquanto fragilizado? Embora não parecesse nada fragilizado.

— Ah, não! Moro na cidade — sorriu acanhada — Aqui fica a sala.

Mostrou-me um espaço não muito grande. Havia dois sofás, uma TV de tela plana grande, almofadas combinando com as cortinas nas janelas, tapete indiano no chão e quadros com motivos indianos e tribais nas paredes. O que achei estranho para um tipo como o Nick. Esperava por quadros com cavalos, e algo do gênero.

— A sala é linda. Não pensei que ele apreciasse esse tipo de decoração.

— Na verdade, esse era o estilo da noiva dele. — Lá fica a cozinha — indicou uma porta à nossa frente, mudando de assunto — Sabe cozinhar?

— Eu me viro, mas vou ter que cozinhar? — Perguntei espantada.

— Se tiver fome, vai sim.

— Ele não tem empregada?

— Tem sim, mas hoje é feriado e todos estão ajudando no casamento.

— Todos? – Questionei curiosa.

— Sim, Babi. Os casamentos aqui são muito divertidos e todo mundo participa. Uns ajudam na cozinha, outros na decoração e outros vêm com seus instrumentos musicais para alegrar os convidados. Um tablado é montado e a dança corre solta até altas horas da madrugada.

— Parece realmente divertido. E você, vai ajudar em quê?

— Vou ser garçonete, dentre outras coisas.

— E o casamento será aqui no haras?

— Hum-hum. Tem uma igrejinha logo ali embaixo, mas devido à quantidade de pessoas, faremos a cerimônia e a festa no galpão de ferramentas, que deverá ser limpo ainda hoje.

— Bem pitoresco. E quem são os noivos? Algum parente do Nick? — Perguntei, chamando-o pelo apelido.

— Ah, não! Venha Babi, vou te mostrar o quarto. Fica lá em cima.

Subimos a escada em silêncio. O fato de ela não me dizer quem eram os noivos me deixou curiosa. Tentei interpelá-la novamente, porém, antes que o fizesse, ela abriu a segunda porta do corredor, à direita do hall da escada, e entrou ali.

— Você vai ficar aqui, Babi. Gostou? — Perguntou orgulhosa, com os olhos brilhando.

— É lindo! – Admirei, sentindo uma ligeira inquietação.

O quarto era realmente lindo, para um lugar como aquele. Todo em tons rosa pálido e creme, com cortina florida na janela, combinando com a colcha da cama enfeitada de almofadas de cor creme.

— Vou pedir para o Junior pegar sua mala no carro e trazer aqui. — Disse, enquanto eu espiava pela janela do quarto, onde a vista se perdia em meio a tanto verde, terminando no sopé de uma montanha. Lá os cavalos andavam e corriam brincando, com suas crinas dançando ao vento. Suspirei emocionada.

— Eu nunca pensei que um lugar assim existisse — suspirei admirada — Parece coisa de novela!

— O Nick deu duro pra construir tudo isso. — Bia me encarou, enquanto um pensamento passou ligeiro em minha mente: Será que Bia era apaixonada por ele?

— Eu pensei que ele tivesse herdado o Haras do pai. — Indaguei, não deixando transparecer o quanto esse pensamento me deixou irritada.

— E herdou, porém não era nem sombra do que é hoje.

— Entendo.

— Bem, vou deixar você descansando e quando quiser descer, já sabe onde fica a cozinha.

— Você vai embora? — Fiquei apreensiva, por ficar sozinha naquele lugar.

— Sim. Sabe, marquei teste para o cabelo e unhas. — Mostrou-as para mim, com um sorriso gigante no rosto.

— Tá legal, então. A gente se vê mais tarde, certo? — Perguntei, enquanto caminhávamos à porta do quarto.

— Acho que sim. Só uma coisa, Babi. O quarto ao lado do seu é do Nick. Esse aqui — indicou a porta da frente — era da noiva dele. Não entre aí, entendeu?

— Não pretendia entrar — respondi assustada, diante de seu olhar — Mas por que não se pode entrar?

— Ele não deixa ninguém entrar aí. Desde que ela foi embora, ele passou a chave e não abre nem mesmo pra Maria limpar.

— Que estranho! Por que ela o deixou?

— Ninguém sabe e é melhor não comentar nada com ele. Ele fica uma fera com o assunto.

— Ok.

- Vou indo então, Babi.

— Ah, Bia? — Chamei-a enquanto ela descia a escada.

— Sim?

— Se eu puder ajudar em alguma coisa...

— Com certeza você terá que ajudar, sim. São muitas pessoas...

— Você não me disse quem são os noivos...

— A filha do prefeito. — Respondeu de um jeito esquisito, quase como se não gostasse da moça; mas então, acabou por sorrir, e se virou descendo a escada.

Meu Deus! Onde eu tinha ido me meter? O lugar era lindo, mas as pessoas um tanto esquisitas, diferentes das que estava acostumada a lidar. Um homem sedutor e grosso, abandonado pela noiva, que não deixava ninguém entrar em seu quarto. Por quê? Eu também havia sido abandonada, e nem por isso, fechei o meu quarto depois que Artur se foi. Isso seria impossível, já que não me mudaria do apartamento por usa causa. Tudo o que fiz foi pegar suas camisas preferidas - que acabaram se rasgando “acidentalmente” – fazendo-as voar pela janela quando ele foi buscá-las; quanto as calças, ops!, acabaram queimando bem no cavalo; porém não tive culpa uma vez que o telefone resolver tocar no momento em que estava com o ferro ligado. Tudo bem que ele ficou louco da vida. O vento estava muito forte naquele dia, propenso para chuva de roupas e, por isso, jamais poderia me processar! Eu acabaria deixando-o sem nada, sou muito boa nisso, e ele também sabe.

Conforme combinado, o rapaz trouxe minha mala para o quarto, e enquanto colocava as roupas no guarda-roupa, ouvi um barulho no corredor. Pensando que fosse Bia que havia voltado, saí do quarto para falar com ela. Espiei o corredor e não vi ninguém. Caminhei até o hall da escada e a sala continuava vazia. Ao retornar para o quarto, pensei ter visto, com a visão periférica, alguém passando por uma das portas. Corri até lá e, mais uma vez, não havia ninguém ali. Que estranho! Jurava ter visto algo se movimentando pelo corredor. Chamei por Bia e não recebi nenhuma resposta. Intrigada, voltei ao quarto, e terminei de arrumar as coisas, dando de ombros. Hora de preparar algo para comer! Estava faminta.

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