Eu não disse nada, apenas me deixei levar pelas lembranças do passado.
Quando chegou a notícia da morte de Alex, fiquei tão devastada pela tristeza que adoeci gravemente, nem o corpo dele eu vi, tampouco consegui comparecer ao funeral.
Quando tive alta do hospital, tudo o que restava era o túmulo de Alex.
Mas, confiando nos cinco anos de sentimentos que tive com Alex, nunca me passou pela cabeça que aquilo pudesse ser mentira.
Alice, porém, não parecia se importar. Aproximou-se da cama, olhando para mim de cima:
— Aurora, você ainda não percebeu que Alex sempre te fez de boba?
Cerrei os punhos, lutando para controlar minha raiva.
Mas Alice parecia cada vez mais satisfeita consigo mesma. Aproximou-se do meu ouvido e sussurrou suavemente:
— Sabe de uma coisa? Alex sempre foi muito gentil comigo, nem deixava que eu mesma pegasse um copo d’água.
— Ele me acompanha em passeios e viagens, já me deu a pele de raposa branca mais cara da alcateia, todo mundo sabe que eu sou a companheira dele, enquanto você não passa de uma Ômega inútil, que nunca vai poder estar ao lado dele de forma digna!
Cada palavra dela era como uma lâmina afiada, cravando-se fundo no meu coração.
Meu corpo inteiro tremia, as lágrimas quase transbordando dos meus olhos.
Mas Alice não se deu por satisfeita e continuou:
— Aurora, quem você pensa que é? No fim das contas, só é uma mulher tola. Alex nunca te amou, a pessoa mais importante para ele sempre fui eu!
Cheguei ao meu limite e quis sair dali.
Mas Alice se jogou contra mim, fingindo que eu a tinha empurrado, e caiu no chão.
Ela cobriu o rosto com as mãos, arregalando os olhos para mim, com um ar de quem sofria imensamente, enquanto as lágrimas corriam em profusão.
Nesse momento, Alex apareceu, atraído pelo barulho.
Ele viu Alice caída no chão.
Alex se virou para mim, os olhos cheios de raiva e decepção: — Aurora, como você pôde fazer isso? Alice é sua cunhada, como pôde agredi-la?
Cunhada?
Alice, aconchegada nos braços dele, chorava com ar inocente: — Aurora. Eu só quis te consolar pela morte do seu marido, como você pôde me empurrar?
Alex virou-se novamente, lançando-me um olhar inflamado de ódio:
— Aurora, peça desculpas à sua cunhada!
Sorri, mas foi um sorriso desolado, sentindo meu coração se despedaçar.
Olhei diretamente nos olhos de Alex e perguntei, palavra por palavra: — Heitor, me diga, você é mesmo meu cunhado?
Alex ficou paralisado, abriu a boca como se fosse responder, mas parecia que algo lhe apertava a garganta, incapaz de dizer uma palavra.
Vendo isso, Alice fingiu estar indisposta e se aninhou ainda mais frágil nos braços de Alex: — Heitor, estou passando mal, me leva para o quarto descansar, por favor?
Alex a pegou no colo e, antes de sair, olhou para mim profundamente: — Desculpe, Aurora, volte para o seu quarto. Alice precisa de mim agora.
— Quanto à pergunta que você fez, vou responder em outra oportunidade.
O olhar que ele me lançou misturava pesar, piedade e arrependimento, mas no fim, ele deixou o local levando Alice, enquanto eu permanecia ali, sozinha.
Olhei para as costas deles se afastando, sentindo meu coração ser dilacerado.
Peguei o celular e vi a mensagem do meu irmão: — O carro já está esperando.
Respirei fundo, tentando recompor meus sentimentos.
Fui até a escrivaninha, peguei papel e caneta, e escrevi uma carta.
Coloquei-a na gaveta do criado-mudo.
Depois, fui ao guarda-roupa, escolhi meu vestido branco favorito e vesti-o.
Olhei para mim no espelho: o rosto pálido, o olhar vazio.
Forcei um sorriso amargo e saí do quarto.
Assim que abri a porta, vi Alex parado ali, não muito longe.
Ao me ver, seus olhos revelaram uma emoção difícil de decifrar.
— Aurora, me desculpe pelo que aconteceu agora há pouco, mas você não deveria tratar Alice daquele jeito, ela só queria te ajudar...
Interrompi suas palavras, sorrindo: — Heitor, está tudo bem.
— Afinal, ela é sua companheira, é natural que você cuide dela.
— Quero sair um pouco para caminhar, fique em casa com Alice.
Alex hesitou, mostrando-se indeciso: — Aurora, na verdade eu e ela…
Eu esperava que ele me explicasse toda a verdade, se ele explicasse, eu o perdoaria.
Mas…
Logo a luz em seus olhos se apagou: — Não, tudo bem, esquece. Saia um pouco, relaxe, tome cuidado, está bem?
— Transfiro cinquenta mil dólares para sua conta, compre algumas joias e vestidos bonitos, se anime. Você ainda está esperando o filhote, precisa manter o ânimo.
Assenti, passei por ele suavemente e caminhei até a porta.
Alex olhou para minhas costas, com uma expressão de dúvida.
Mas não percebeu nada de estranho, apenas me chamou:
— Aurora, volte cedo. Vou pedir para a cozinheira preparar seus pratos favoritos.
Dei-lhe um leve sorriso: — Está bem.
Ao virar-me, o sorriso desapareceu do meu rosto.
"Adeus, Alex."
"Vou desaparecer da sua vida, para que você e Alice possam ficar juntos para sempre."
Saí de casa e entrei no carro enviado pelo meu irmão.
Olhei pela janela e lancei um último olhar para aquela alcateia cheia de mentiras e traições.
O carro deu partida lentamente, fechei os olhos e deixei as lágrimas rolarem.
Enquanto isso, em casa.
Alice se enroscava em Alex, manhosa: — Heitor, hoje você tem que ficar comigo, fiquei muito assustada com Aurora agora há pouco.
Alex estava distraído, com a cabeça cheia da imagem da minha partida.
Por alguma razão, a cena da nossa despedida lhe parecia estranha, mas ele não conseguia explicar o porquê.
Quando estava prestes a vir atrás de mim, o mordomo entrou correndo:
— Heitor, aconteceu uma tragédia! Acabaram de informar que a Srta. Aurora e seu irmão foram atacados por Renegado e, durante a fuga, caíram de um penhasco!