Um pequeno grande detalhe

As duas eram amigas desde a infância, se conheceram em uma tarde ensolarada de primavera que pintava o parquinho com tons quentes. Ali, em meio ao riso das crianças e ao rangido dos balanços, Ana, com seus cachos cor de mel e um vestido florido, tentava, sem muito sucesso, equilibrar-se em uma corda bamba imaginária. De repente, um tropeço. Ela fechou os olhos, esperando o impacto, mas em vez disso sentiu um par de mãozinhas firmes a segurando. Era Jéssica, com seus olhos curiosos e um sorriso travesso, os joelhos ralados de alguma aventura anterior. "Você precisa de ajuda?", perguntou, estendendo a mão. Ana, um pouco envergonhada, mas aliviada, aceitou. Dali em diante, a corda bamba imaginária virou um palco para as mais diversas brincadeiras.

Nos anos que se seguiram, a praça se tornou o quartel-general das duas. Escalavam o escorregador como se fosse uma montanha a ser conquistada, giravam no carrossel até ficarem tontas e inventavam histórias mirabolantes sentadas no banco da praça, trocando segredos e sonhos. A timidez inicial de Ana se dissolveu diante da espontaneidade de Jéssica, e a energia contagiante de Jéssica encontrou em Ana uma ouvinte atenta e uma parceira leal.

As duas mantiveram a amizade e logo começaram a passar fins de semana na casa uma da outra, noites do pijama recheadas de fofocas e risadas abafadas, e o compartilhamento de lanches secretos que suas mães nem imaginavam. As diferenças de personalidade, longe de afastá-las, pareciam complementar-se, criando um laço inquebrável.

Quando adultas continuaram a se apoiar, sendo o socorro e apoio uma da outra.

_ Eu tô tão magoada, tão cansada. Eu só queria sumir, sabe? Ou sei lá, beber alguma coisa e esquecer por umas horas.

_ É exatamente isso que a gente vai fazer! Eu não vou deixar você aí remoendo essa tristeza sozinha. Onde você está? Vamos ao lugar de sempre, me encontra lá!

Ana dirigiu até o local do Bar, era um lugar conhecido, já que as duas amigas sempre se reuniam lá, em diferentes momentos da vida, fosse para comemorar, desabafar ou lamentar alguma coisa. Era sempre nesse lugar.

Assim que entrou, Jéssica a envolveu em um abraço quente e apertado, era exatamente o que precisava, Sua amiga sempre sabia o que fazer para animar o seu dia

_Vem Ana! A gente vai afogar as mágoas, chorar o que tiver que chorar, rir do que der pra rir e, se bobear, até arrumar um crush pra você esquecer esse embuste do Pedro por uma noite!

Tomando a sua mão, Jéssica a levou até uma mesa na lateral, mas privativa, onde poderíam conversar com privacidade e relaxar.

_ Mas falando sério, eu não vou deixar você se afundar sozinha.

Um leve sorriso surge nos lábios de Ana.

_ Você sabe como me convencer.

_ Eu sei o que é bom pra você, meu amor.

Jéssica respondeu empurrando uma taça de vinho branco na direção de Ana. Ela amava vinho branco, mas só bebia fora de casa porque Pedro não gostava, esse era só mais um dos gostos que abriu mão por causa dele.

_ Obrigada, amiga. De verdade eu precisava disso hoje.

_ Não precisa agradecer, boba. Pra isso que servem as amigas, prepare-se, porque hoje a gente vai beber por conta da mágoa e da alegria de ter uma à outra.

Nesse momento o celular toca, o nome 'Marido' aparece na tela, que boba! Foi no dia em que pegaram a certidão de casamento, Ana segurava a pasta com as certidões de casamento como se fosse um tesouro inestimável com um sorriso largo que iluminava o rosto, nem tentava disfarçar a emoção.

_ Não consigo acreditar que finalmente conseguimos, meu amor!

Ana exclamou, virando-se para ele com os olhos marejados.

_ É um sonho realizado, Pedro!

O sorriso de Pedro vacilou por um milésimo de segundo. Ele piscou, depois soltou uma risada suave, puxando Ana para um abraço apertado.

_Se você está feliz é o que importa.

Pedro disse, inclinando-se para beijar a testa dela. Ele pegou a pasta das mãos dela, o papel timbrado do cartório em evidência.

_ Vamos, minha mãe está nos esperando para celebrar.

Ao chegar ao carro, ainda embalada pela euforia do dia do casamento, Ana radiante, com um sorriso que não cabe no rosto pega o celular, os dedos tremendo levemente de emoção. Para si mesma, com um suspiro apaixonado, ela abre a lista de contatos, deslizando o dedo até encontrar o nome de Pedro, uma ideia surge em seus olhos, e um sorriso ainda maior se abre. Murmurando, quase cantarolando.

_ Agora é oficial...

Ela toca no nome de Pedro, abre a opção de editar contato e, com um ar de quem está fazendo a coisa mais importante do mundo, apaga "Pedro" e digita "Marido". Ela olha para o resultado, os olhos marejados, um pequeno detalhe, mas grande demais. Ainda no seu êxtase particular, vira-se para ele, o celular estendido para que ele veja a mudança.

Com a voz suave, quase em transe:

_ Pedro... olha!

Pedro, sem tirar os olhos da estrada, dá uma rápida olhada para o celular dela. Ele vê o nome "Marido" piscando na tela e o olhar apaixonado de Ana. Dando de ombros, voltando a atenção para o caminho

_ Ah, sim. Legal. Fico melhor assim, né? Mais prático.

Ana pisca, a bolha de emoção começando a murchar um pouco. A expectativa de uma reação mais efusiva se desfaz. Com um pequeno nó na garganta pensou "Legal"? "Mais prático"? É o nosso... é o nosso primeiro dia de casados! Como ele pode dizer isso! Soltou um suspiro audível.

Pedro, finalmente, vira a cabeça para ela, um tanto confuso com o tom de voz dela. Com a testa franzida:

_ Ué, A gente já morava junto, já era praticamente casado. Só mudou o papel, e o nome no celular. É uma bobagem.

Ana recolhe o celular, a decepção pintando seu rosto. Ela olha para o marido ao lado dela, que já está absorto dirigindo.

Ana diz resignada mais para si mesma do que para ele, com um leve desapontamento:

_ É uma bobagem... claro. Para alguns.

Trazendo de volta ao presente, Jéssica retira o aparelho das suas mãos e desliga a chamada.

_ Não! Não vamos deixar ele estragar nossa comemoração, ele que fique com a sua Sofi!

Sim, pensou Ana, não vou estragar a sua comemoração.

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