Capítulo 2: Autoconfiança

Centro de Seul, 4:50 A.M

Todas às manhãs quando todos ainda dormem, é o momento a qual início meu treino diário. Por mais que hoje seja minha folga, não consigo estar totalmente parado, por isso levantei cedo para uma corrida no centro da cidade, deixando meu noivo dormindo. 

O silêncio e a brisa fresca neste horário é uma das coisas as quais considero relaxante, praticamente sozinho nas ruas ao som de Kanye West nos fones de ouvido, me sinto em paz. 

Meu sangue quente por debaixo de meu moletom Adidas emana suor por meus poros, devido ao calor em minha pele causado pelas passadas rápidas pela calçada. 

A madrugada do fim de semana é isenta de barulhos altos, aglomeração de pessoas, carros e caminhões pesados, vendedores ambulantes entre outras coisas, tudo emite paz. 

A sensação de correr me distrai do que ocorre em meu corpo, em cada passada meu coração acelera e sinto o suor escorrendo à medida que a minha temperatura corporal aumenta, sentir o vento no rosto traz sensação de liberdade.

Especialmente hoje acordei um pouco mais cedo, já que geralmente me levanto às 04:30 da manhã. A fim de voltar para casa antes Jongun despertar e me torrar a paciência, com aquele papo de que sou humano e preciso que descansar mais.

Posso descansar enquanto corro, tenho necessidade de adrenalina e além do mais temos o dia todo para não fazer nada. Por outro lado, meu plano parece ter ido água abaixo. Parei apenas para conferir o horário, me deparando com uma mensagem de Jung dizendo: 

"Jihoon, será que eu poderia acordar ao lado do amor da minha vida. Uma única vez?". 

Nego com a cabeça sorrindo diante do drama de meu querido amado, parando na calçada para respondê-lo: "Para de ser dramático, já estou voltando para casa. Está carente?". 

"Estou, venha logo, quero colo! 😒", respondeu. 

"Não vai me perguntar onde estou? Olha, eu posso estar te traindo", provoquei assistindo um único carro passar. 

"Não, vem logo!". 

Eu sou completamente apaixonado por este homem, já passamos por tantas coisas juntos e ele ainda continua agindo como se fossemos um casal de adolescentes no colegial. Jung faz de tudo para que nossa vida seja o mais normal possível, fora da academia e dos ringues. 

Sua maturidade me impressiona pois está sempre muito determinado a separar nossa relação do profissional, evitando desgastes mentais fortalecendo nossos laços como marido e marido. 

Nós ainda não nos casamos oficialmente, no nosso país não é permitido. Por isso, pretendemos oficializar talvez nos Estados Unidos ou na Europa, futuramente entre algum campeonato. De qualquer forma nos consideramos casados.

Portanto somos casados, ele é meu e eu sou dele. 

Em geral temos um bom relacionamento apesar de sua rigidez em relação a "meu excesso de treino", às vezes ele age como se nunca tivesse feito o mesmo antes, o que gera algumas discussões mas enfim nada grave. 

Mesmo assim, discutir não é algo que eu quero, por isso vou voltar para casa para curtir o final de semana ao lado de meu príncipe. 

                                 [...]

— O que você quer fazer hoje? — Jongun questionou se sentando na outra ponta da mesa para tomar café comigo. — Eu estava pensando em algo como pipoca e cinema, sexo na varanda, restaurante e talvez sexo na piscina. 

— Tudo o que planejou tem a ver com comida ou sexo? — assentiu levando uma torrada até a boca. — você sabe que não podemos transar na varanda nem na piscina, moramos em um condomínio e temos vizinhos, certo? — concordou novamente. — Eu também não posso quebrar minha dieta-...

— Ai que saco, Jihoon! Entra na vibe, diga que só vamos fazer sexo ou sei lá, comer em um restaurante. Que homem chato, me deixa vai... Fica aí tomando seu café chato, igual a você sem graça — exclamou apontando com desdenho meus dois biscoitos de gergelim e meu café sem açúcar. 

— Amor, não haja como se não entendesse minha dieta, meus treinos e afins — digo me debruçando na mesa para tocar seu maxilar. 

— Jihoon me escute durante anos, estive nos ringues de competição em competição, dietas e todas as loucuras dos holofotes, treinos e mais treinos, você sabe. Depois do acidente tive que me readaptar ainda estou aqui, tem a acadêmia meus lutadores e você — suspira e inclina o rosto em direção a minha mão para sentir melhor meu carinho. — você sabe disso, estava comigo o tempo todo. Agora sou seu treinador e sei de todas as pressões inclusive às que você mesmo se impõe, sei mais que ninguém que quando as luzes se apagam, é importante ter pessoas que te amam ao seu lado. Segunda feira nossa loucura recomeça e nós mal temos tempo para conversar, custa se esforçar um pouquinho para que tenhamos 24 horas de uma vida comum? 

— Eu sei meu bem me desculpe, o que eu quero fazer hoje é ficar abraçadinho com meu bebê o dia todo, pode ser? — respondi compreensivo, afastando minhas mãos para me levantar e sentar mais perto dele.

— Não se esqueça, dentro dessa casa só existe Park Jihoon e Jung Jongun. Stronger e o GB ficam do lado de fora, você vai ser o próximo campeão mundial pela WBO e todas federações possíveis, sabe disso também. Então, me deixe curtir meu homem enquanto há tempo — conclui e então se levanta pegando seu copo de cima da mesa para levar até a pia. 

— Você falou como se eu fosse morrer, credo! — comentei enquanto provo meu café, que a essa altura está quase frio. 

Jongun vira de costas para a pia com um sorriso sarcástico, e diz: — Você não está sabendo conciliar sua rotina de treinos com nosso casamento, quanto mais isso somado a viagens internacionais e fama. 

O olhei indignado por seu deboche, sei que tudo que quer é um dia sem correria, mas confesso que às vezes é difícil entender o que se passa por sua cabeça. Ele chegou no topo dessa mesma forma, o apoiei a todo tempo mesmo quando tinha que ficar só, por que ele age como se não me desejasse o mesmo? 

— Amor, o que é tudo isso? Faça uma análise de tudo que falamos desde que se sentou aqui comigo, acha que realmente foi necessário esses comentários inflamados? Só brinquei com o lance da minha dieta, cara. Sei como se sente ou se esqueceu que quando ainda lutava eu ficava sozinho, quando viajava sem mim? — questionei deixando meu café de lado, para apoiar os cotovelos na mesa e meu queixo nas mãos. — Eu estou aqui não estou? E não vou a lugar nenhum.

— Olha me desculpe... é só que eu te amo demais — sussurrei um "eu também". — quero ficar contigo pelo resto da minha vida, tenho tanto medo de te perder. Por que você iria continuar com um ex-lutador inválido? — abaixou a cabeça e voltou a ficar de frente a pia e de costas para mim. 

Para ser um lutador de sucesso, é importante que se tenha uma boa auto-estima, para que mesmo com as derrotas saiba que não é um perdedor. A confiança ou melhor a autoconfiança em si, são elementos essenciais.

A carreira de um atleta de alta performance é quase sempre curta, desgasta corpo e mente e é preciso muita resiliência para continuar seguindo em frente. No caso de Jung, seu acidente o fez parar. 

O caminho entre a descoberta e o prazer da prática esportiva, conquista de medalhas, cinturões e troféus é para poucos e exige uma rotina exaustiva de treinamentos, lesões e tratamentos, que nem sempre garantem recompensa para quem se aventura. Jongun alcançou todos seus objetivos, mas teve que deixar o que amava muito cedo. 

Não é preciso nem falar o quanto isso afetou sua auto estima, minha grande inspiração se mostra muito sensível quando estamos sozinhos entre quatro paredes. Ele não mede esforços para que eu tenha confiança no meu trabalho, mas se afunda em pensamentos de insuficiência.

Seu trabalho comigo de fato deu muito certo, sei que sou bom e que chegarei tão longe quanto ele chegou. Gostaria de poder ajudá-lo tanto quanto o mesmo me ajuda nesse quesito, mas como um pugilista entendo toda sua frustração. 

Ter a carreira interrompida no auge dela foi um baque muito grande, para todos nós. Por mais de um ano, Jung quis ficar longe desse mundo, até que eu resolvesse investir na minha e o convencê-lo a assumir a liderança da nossa academia e treinar-me. 

A princípio ele relutou bastante, mas depois abraçou a oportunidade, como uma maneira de não abandonar aquilo que ele tanto ama.

Jongun ama o pugilismo. 

— Porque eu te amo, Jongun! — digo com convicção, essa foi minha deixa para levantar da cadeira ir até ele e o abraçar com carinho por trás. 

Nessa posição continuo a dizer o quanto sou apaixonado e o quero para todo o sempre, seu fungar me faz perceber que está chorando. Meu coração se aperta em meu peito, toda essa instabilidade emocional foi motivada por sua aposentadoria. 

Com delicadeza me afasto um pouco apenas para tocar em seus ombros e virá-lo para mim, devido a diferença de altura ele abaixou o rosto quando de frente para mim, para olhar em meus olhos. Sorri com todo meu amor e sequei suas lágrimas com as pontas dos dedos.

Feito isso me apoiei nas pontas dos pés para beijar sua boca, trocamos um beijo calmo e lento com sabor salgado, arrancando suspiros baixos um do outro, aos poucos ele se solta e me toca pela cintura. 

Seu toque firme me faz gemer baixinho contra sua boca, então abre os lábios devagar, como um convite para que eu me aprofunde mais. Levo minhas mãos até sua nuca e massageio seu lábio inferior com a ponta da língua. 

Impaciente, Jung me aperta mais em seus braços e me beija com mais força, como se descontasse toda sua frustração em minha boca. Retribuo na mesma medida, transmitindo a mesma intensidade. 

Quando nos afastamos para respirar faço uma análise minuciosa por cada detalhe de sua expressão. Em seus olhos a tristeza e desejo, suas bochechas estão coradas e seus lábios finos mais rosas que o comum, depositei uma leve mordida. 

— Você é tão lindo! — confesso tocando seus cabelos longos com carinho. — sabe a quanto tempo sou afim de você? Desde de que o Prince estava afim da Apollonia — ele sorri com os olhos embargados. 

— Não é como se você nunca tivesse dito isso — respondeu com o que já sabia vir a seguir. — Jihoon? 

— Sim?

— Faz amor comigo?

— Para você, todas minhas respostas são sim. 

                                   [...]

De corpos nus cobertos apenas por um lençol fino, somos obrigados a nos levantar quando tudo que queremos é ficar coladinhos o dia inteiro. O motivo? Uma ligação da minha mãe, dizendo que minhas sobrinhas precisam de leite e fraldas. 

— Jihoon, você sabe que não me importo com o que faz ou deixa de fazer com seu dinheiro,sim? Mas não é estranho, sua mãe falar com você apenas quando quer alguma coisa? — questionou rolando na cama como uma criança preguiçosa. 

— É sim meu amor, mas você sabe o quanto os amo. A única forma de estar próximo é assim, já que para sempre serei condenado por eles por minha sexualidade. Além disso, minhas sobrinhas são como filhas para mim e meu cunhado é um vagabundo. No que depender de mim, para elas nunca vai faltar nada — argumentei saindo da cama em direção ao banheiro para tomar banho. 

— Ei, que bunda linda! Está de parabéns — ouvi Jung dizer quando eu iria fechar a porta. 

— Cala a boca, você não vem? 

— A gente vai transar de novo? — neguei. — Então, eu não vou — apesar da negação se levantou da cama.  

— Fique aí então, seu fedido! — digo pronto para fechar a porta. 

— Espera caralho, estou indo. 

                                   [...]

Menos de duas horas depois estamos em frente ao casebre que minha mãe chama de lar, com tudo o que julgo ser o necessário para minhas sobrinhas. Mamãe vive com minha irmã, netas e genro em uma casa simples em um bairro pacato. 

Pelo simples motivo de que tem medo de perder a pensão, que recebe desde a morte de meu pai. Todos vivem com essa mixaria e o pouco que tenho a oferecer. Quando ficar rico, a primeira coisa que vou fazer é comprar uma casa melhor para eles. 

Eu e Minji, minha irmã gêmea, não nos damos muito bem desde que me assumi gay. Éramos melhores amigos e a meu ver, ela seria a primeira pessoa a me apoiar, mas não foi o que aconteceu. 

Ela se afastou e tudo piorou quando começou a se relacionar com meu melhor amigo, este que também se foi. Nossa amizade ficou guardada em um lugar especial de minha memória, é como se ele fosse apenas alguém que eu deveria ter conhecido. 

Não sei quando foi que se tornou alguém tão diferente. Eu sempre fui apaixonado por crianças, quando Minji engravidou das gêmeas Hayun e Bora meu coração se encheu de felicidade.

Por isso não meço esforços para auxiliar no que for preciso, a mim não interessa o que Minji e Yejun pensam a meu respeito, apenas o amor de minhas sobrinhas é o suficiente. 

— Você vem comigo ou vai ficar no carro? — perguntei a Jongun antes de descer. 

— Vou com você. Que espécie de homem seria eu se te deixasse em um ninho de cobras sozinho? — disse em tom de deboche abrindo a porta do carro para descer, mas foi impedido por mim que segurei seu braço.

— Obrigado por ter vindo! — fui sincero recebendo um sorriso doce em resposta. 

Agora sim, juntos descemos do carro carregando as sacolas de supermercado, provavelmente o barulho dos cachorros latindo chamou a atenção por isso não foi necessário chamar, já que a porta é aberta e minhas meninas vem correndo em minha direção. 

— Tio Jihoon! — gritaram em uníssono antes de me abraçarem pelas pernas, desajeitado por estar com as mãos cheias, me agarrei para depositar um beijinho na testa de cada uma.

— Ah, eu senti tanta saudade — digo as minhas pequenas de apenas quatro aninhos. 

— Minji! Seu irmão e o amigo dele chegaram — só então notei a presença do pai das meninas. 

— Marido Yejun, marido! 

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