Eu voltei segurando a pulseira e, assim que empurrei a porta da sala de estar, ouvi um grito alegre de boas-vindas.

— Bem-vinda...

O sorriso caloroso de Yuri congelou no instante em que me viu:

— Você? Como assim é você?

Parecia que ele nunca esperou que eu realmente fosse devolver a pulseira para ele.

Quando entreguei a pulseira, ele ficou momentaneamente surpreso, mas acabou aceitando.

Logo depois, ele se inclinou e sussurrou no meu ouvido:

— Ofina, já que eu sempre fui tão bom para você, por favor, não estrague nada hoje. A Lucia é uma garota que precisa ser cuidada e protegida. Não faça nada errado que possa magoá-la.

Eu não quis responder.

Lucia era uma garota, mas será que eu não era também?

Olhei para aquele homem à minha frente, por quem eu estava apaixonada havia mais de dez anos, e a dor no meu coração era tão intensa que quase me faltou o ar.

Dez minutos depois, Lucia entrou acompanhada pelo mordomo.

Os mais velhos começaram a conversar cordialmente.

Com o desenrolar da conversa, logo chegaram a falar dos detalhes do casamento, mesmo sendo o primeiro encontro.

Enquanto isso, Yuri se sentou ao lado de Lucia, atencioso em tudo que ela precisava.

Já não havia traço algum do orgulho de um herdeiro Alfa nele, parecia um lobo que escondeu as garras.

Eles conversavam animadamente, claramente não precisavam de mim ali. Eu não queria perder tempo e comecei a pensar em uma oportunidade para sair discretamente.

Mas, de repente, Lucia olhou para mim com doçura:

— Você é a Ofina, não é? Eu me lembro de você. Naquela época, você era a rainha da dança da escola.

Fui pega de surpresa e balancei as mãos rapidamente:

— Obrigada, mas esse título é um pouco exagerado. Os colegas só estavam brincando.

Achei que eles mudariam de assunto, mas Lucia não parecia disposta a me deixar de lado:

— Não exagerei nada. Muitos meninos do time diziam que você era a deusa deles, todos disputavam para se declarar para você naquela época.

Antes que eu pudesse responder, ela cutucou o braço de Yuri, brincalhona:

— Vocês dois cresceram juntos e nunca tiveram um romance? Lembro que na escola vocês estavam sempre juntos, todo mundo dizia que vocês iam formar um vínculo de companheiros.

Todos os olhares se voltaram para mim.

Senti o clima estranho. Não sabia se era impressão minha, mas parecia que a gentil e doce Lucia tinha uma hostilidade inexplicável em relação a mim.

Yuri balançou a cabeça e cortou um pedaço de bolo mousse para Lucia:

— Acho que todo mundo entendeu errado. Apesar de a Ofina ser uma garota, para mim ela sempre foi uma grande amiga. Quem formaria um vínculo de companheiros com uma amiga? Isso seria muito estranho.

De repente, ele se lembrou de alguma coisa e não conseguiu segurar o riso:

— Você não viu quando ela era pequena e subiu numa árvore, caiu e ficou com o rosto todo sujo de lágrimas, ranho e lama. Que cena engraçada.

— E quando ela bebia demais, começava a falar bobagens para todo mundo, balançando os braços como se estivesse lançando feitiço... Era hilário...

Não aguentei mais.

Senti meu rosto arder, sem saber se era de vergonha ou de raiva, ou talvez os dois.

— Tenho um compromisso, preciso ir! — Interrompi-o bruscamente, com a voz tensa, forçando um sorriso educado para os mais velhos. — Me desculpem.

Lucia olhou para Yuri um pouco magoada:

— Falei alguma coisa errada e deixei a Ofina chateada?

Yuri me encarou com raiva, num olhar de repreensão, como se eu fosse a que ultrapassou os limites.

Antes que ele dissesse qualquer coisa, fui mais rápida:

— É só que eu tenho um encontro romântico com meu namorado hoje, se eu não sair agora vou chegar atrasada.

Yuri ficou paralisado.

O sorriso sumiu do seu rosto, como se nunca tivesse existido.