Capítulo 2
Sentada na sala da casa de Yuri com meus pais, senti-me desconfortável pela primeira vez.

Já tinha brincado e rido com Yuri ali, e até arranjamos desculpas para nos esgueirarmos para o quarto dele e nos beijarmos às escondidas.

Mas agora...

O pai de Yuri, com um sorriso largo no rosto, disse:

— Luna, você não faz ideia do quanto o Yuri se esforçou para conquistar o coração da Lucia.

— Ele poderia tê-la cortejado diretamente, mas fez questão de obter nossa permissão para namorar e se casar com ela. Ainda pediu que eu visitasse o pai dela antes, só com tudo pronto é que ele aceitaria encontrá-la oficialmente.

Olhei ao redor da sala meticulosamente arrumada, repleta de rosas vibrantes.

Sobre a mesa, estavam dispostos alimentos sofisticados para os convidados, até mesmo o cachorrinho de estimação estava arrumado, usando uma gravatinha.

Yuri, diante do espelho, ajeitava o colarinho e arrumava o cabelo repetidas vezes, sem permitir a menor imperfeição em sua aparência.

Era irônico: ontem mesmo estávamos na cama, tocando um ao outro com paixão, ele beijava com fervor a pequena pinta na minha cintura.

Até mesmo a cueca que ele usava agora fora presente minha.

Luna suspirou e, segurando a mão da minha mãe, lamentou:

— Que pena o que aconteceu entre Yuri e Ofina. Chegamos até a arranjar o casamento deles quando eram crianças! Eles sempre foram tão próximos, eu realmente pensei... Ofina é tão bonita, gentil e doce, eu gostava tanto dela, mas parece que não era para ser, não vamos nos tornar uma família, afinal.

Baixei a cabeça e permaneci em silêncio.

Temia que, se minhas emoções escapassem, as lágrimas rolassem diante de todos.

— Mãe! — Yuri franziu a testa, insatisfeito. — Eu sempre vi a Ofina como amiga, não invente coisas. Além disso, esse noivado foi só uma brincadeira de infância, não vale nada. Não deixe a Lucia saber disso, e se ela entender errado e ficar chateada?

Yuri não se preocupou nem um pouco com a autoridade dos mais velhos.

Seu olhar recaiu sobre mim, como se eu tivesse pedido à Luna que gostasse mais de mim, e disse friamente:

— Ofina, onde está aquela pulseira de família que minha mãe te deu?

Diante do meu silêncio, ele se aproximou e agarrou meu braço com força:

— Aquela pulseira foi dada a você como símbolo do nosso noivado, devolva...

Antes que terminasse a frase, os rostos de todos mudaram de expressão.

Num instante, o clima ficou tenso.

Minha mãe tentou se levantar para impedir Yuri, mas Luna a conteve, avançou rapidamente até mim e empurrou Yuri com força:

— Yuri, como você pode fazer isso? Você nem está com a Lucia ainda! E não se esqueça, aquela pulseira só foi parar com a Ofina porque você fez um escândalo aos dezessete anos, insistindo até convencê-la a usá-la!

Yuri ficou imóvel.

Por um momento, uma lembrança antiga lhe veio à mente.

Quando ele tinha dezoito anos, alguém começou a me cortejar com insistência.

Ao saber disso, ele bebeu bastante naquela noite.

Naquela noite, ele furtou de casa a pulseira de família que originalmente era da Luna e, cambaleando, veio até minha porta, chamando meu nome de modo confuso.

— Coloque isso. — Ele disse em voz baixa, quase chorando. — Por favor. Você só pode ser minha.

Voltando ao presente, ele respirou fundo, afrouxou a gravata e sorriu:

— Deixa pra lá, é só uma pulseira. Nunca tomo de volta aquilo que dou de presente. Ofina, fique com ela.

— Não precisa. — Levantei-me, interrompendo-o calmamente. — Eu vou devolver, assim que chegar em casa. Não vai demorar.

Antes que alguém pudesse me impedir, já havia saído apressada.

Antes que meus lábios trêmulos revelassem o que eu sentia.
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