Sentada na sala da casa de Yuri com meus pais, senti-me desconfortável pela primeira vez.
Já tinha brincado e rido com Yuri ali, e até arranjamos desculpas para nos esgueirarmos para o quarto dele e nos beijarmos às escondidas.
Mas agora...
O pai de Yuri, com um sorriso largo no rosto, disse:
— Luna, você não faz ideia do quanto o Yuri se esforçou para conquistar o coração da Lucia.
— Ele poderia tê-la cortejado diretamente, mas fez questão de obter nossa permissão para namorar e se casar com ela. Ainda pediu que eu visitasse o pai dela antes, só com tudo pronto é que ele aceitaria encontrá-la oficialmente.
Olhei ao redor da sala meticulosamente arrumada, repleta de rosas vibrantes.
Sobre a mesa, estavam dispostos alimentos sofisticados para os convidados, até mesmo o cachorrinho de estimação estava arrumado, usando uma gravatinha.
Yuri, diante do espelho, ajeitava o colarinho e arrumava o cabelo repetidas vezes, sem permitir a menor imperfeição em sua aparência.
Era irônico: ontem mesmo estávamos na cama, tocando um ao outro com paixão, ele beijava com fervor a pequena pinta na minha cintura.
Até mesmo a cueca que ele usava agora fora presente minha.
Luna suspirou e, segurando a mão da minha mãe, lamentou:
— Que pena o que aconteceu entre Yuri e Ofina. Chegamos até a arranjar o casamento deles quando eram crianças! Eles sempre foram tão próximos, eu realmente pensei... Ofina é tão bonita, gentil e doce, eu gostava tanto dela, mas parece que não era para ser, não vamos nos tornar uma família, afinal.
Baixei a cabeça e permaneci em silêncio.
Temia que, se minhas emoções escapassem, as lágrimas rolassem diante de todos.
— Mãe! — Yuri franziu a testa, insatisfeito. — Eu sempre vi a Ofina como amiga, não invente coisas. Além disso, esse noivado foi só uma brincadeira de infância, não vale nada. Não deixe a Lucia saber disso, e se ela entender errado e ficar chateada?
Yuri não se preocupou nem um pouco com a autoridade dos mais velhos.
Seu olhar recaiu sobre mim, como se eu tivesse pedido à Luna que gostasse mais de mim, e disse friamente:
— Ofina, onde está aquela pulseira de família que minha mãe te deu?
Diante do meu silêncio, ele se aproximou e agarrou meu braço com força:
— Aquela pulseira foi dada a você como símbolo do nosso noivado, devolva...
Antes que terminasse a frase, os rostos de todos mudaram de expressão.
Num instante, o clima ficou tenso.
Minha mãe tentou se levantar para impedir Yuri, mas Luna a conteve, avançou rapidamente até mim e empurrou Yuri com força:
— Yuri, como você pode fazer isso? Você nem está com a Lucia ainda! E não se esqueça, aquela pulseira só foi parar com a Ofina porque você fez um escândalo aos dezessete anos, insistindo até convencê-la a usá-la!
Yuri ficou imóvel.
Por um momento, uma lembrança antiga lhe veio à mente.
Quando ele tinha dezoito anos, alguém começou a me cortejar com insistência.
Ao saber disso, ele bebeu bastante naquela noite.
Naquela noite, ele furtou de casa a pulseira de família que originalmente era da Luna e, cambaleando, veio até minha porta, chamando meu nome de modo confuso.
— Coloque isso. — Ele disse em voz baixa, quase chorando. — Por favor. Você só pode ser minha.
Voltando ao presente, ele respirou fundo, afrouxou a gravata e sorriu:
— Deixa pra lá, é só uma pulseira. Nunca tomo de volta aquilo que dou de presente. Ofina, fique com ela.
— Não precisa. — Levantei-me, interrompendo-o calmamente. — Eu vou devolver, assim que chegar em casa. Não vai demorar.
Antes que alguém pudesse me impedir, já havia saído apressada.
Antes que meus lábios trêmulos revelassem o que eu sentia.