Respiro fundo e olho para a lua, sendo banhada por todo seu esplendor e concentro-me no presente, dando forma a minha companheira que carrega características únicas. Somos únicas em toda a matilha, com pêlos castanhos avermelhados. Admito que estranhei inicialmente, em um bando que havia apenas lobos pretos, cinzentos, bege, a minha surgir praticamente ruiva igual a mim, me surpreendeu.
A loba surge sem nenhuma dor, após anos de prática e logo, estou correndo floresta adentro.
A lua banhava as árvores em meu entorno conforme sentia a terra úmida sob minhas patas, mesmo após todas as experiências que tive, a sensação de liberdade que me alcançava toda vez que me permitia ser apenas a loba, com instintos aflorados, era como se fosse a primeira vez. Correr sempre serviu como remédio para todas as situações, principalmente quando eu tinha que lidar com um conselho antiquado como o que a minha matilha possuía.
“Algo está diferente hoje Cassie... não consigo nomear”, Lyra aparece novamente, dessa vez deixando-me confusa com seu tom apático.
“O que quer dizer?”
“Não sei, algo me puxa para algum lugar por entre as árvores, mas, não sei onde ou por que.”
“Estamos bem Lyra, isso tudo é reflexo da pressão do Alfa”
Ouço seu resmungo frustrado, mas ela não diz mais nada, se recolhendo no fundo da nossa mente, perdida em algum pensamento que não é compartilhado comigo.
Perco totalmente a noção do tempo, de onde estou até que sons de patas se aproximando em alta velocidade atrás de mim me deixam em alerta. Apuro meus sentidos e logo seu cheiro me envolve. Pimenta preta, almíscar e um leve tom de sândalo, cheiro característico de Aaron.
“Está tentando fugir e me largar para trás?” Sua voz ressoa na minha mente e dou o que está mais próximo de uma risada lupina. Mas antes que eu possa responder, seu lobo cinzento aparece ao meu lado dando-me um leve encontrão que me faz tombar para o lado.
“Idiota”
“Vamos lobinha, que tal uma corrida?”
“Hoje, eu venço você”
Lanço um olhar divertido para o lobo grande ao meu lado, que revira os olhos e se apruma, pronto para se lançar à frente e liderar a corrida.
“Cassandra, presta atenção”, Lyra brada na minha mente usando nossa conexão, mas novamente, ignoro-a focada no desafio à minha frente.
Decidida a vencer pelo menos uma vez, saio em disparada pela floresta e ouço o uivo do meu primo retumbar pela copa das árvores, estou longos metros a frente quando ele me alcança com facilidade, solto um bufo incontido e forço-me a frente, ouvindo seu rosnado baixinho. Seguimos correndo, pulando os troncos e atravessando clareiras, quando nos aproximamos de uma cachoeira. Estava tão entretida na corrida que não me atentei para onde ia e me arrependo na mesma hora da minha falta de atenção. Não tenho tempo hábil para dar meia volta, antes de Aaron se atirar sobre mim e cairmos rolando pela grama até atingirmos a água. Uma água congelante. Atinjo o fundo e me empurro para cima na mesma hora, saindo o mais rápido que consigo de dentro do lago praticamente congelado e solto um ruivo enraivecido.
“Não acredito que fez isso de novo”
“Ora lobinha, isso que acontece quando se distrai”
Não me dou o trabalho de responder concentrando-me na minha forma humana e em poucos minutos, estou sob minhas pernas, tremendo da cabeça aos pés com a roupa encharcada no corpo.
— Argh, se eu pudesse matava você Aaron! — Grito para o lobo, que está sentado a poucos metros de mim e me encara com um sorriso lupino que me enerva. — Já cansei de falar que não é para me jogar no lago!
Revirando os olhos, ele ergue-se em suas patas e volta a forma humana, assim que me olha, explode em uma gargalhada que ecoa pelo local.
— Tinha que ver, seus olhos se arregalaram quando percebeu que estava no entorno da cachoeira e não ia conseguir fugir. — Diz entre risos, se dobrando para continuar falando. — Você é tão fácil de distrair Cassie, só precisei passar na sua frente e tomar outro rumo.
Solto um chiado do meu peito, que o faz rir ainda mais.
— Não rosne para mim lobinha, você que se distraiu.
— Aaron... — Digo séria e seu semblante muda na mesma hora. — Não quero me casar com o Andrei... ele é legal, prestativo, zeloso e um excelente lutador..., mas ele não é para mim.
— Sabe que se fosse possível me casava com você para que parassem de te encher o saco, mas não posso. — Ele diz sério, me olhando com seus olhos preocupados.— Jamais permitiria tal coisa... Eu sei Aaron, sinto em meu âmago, que meu parceiro existe, ele está em algum lugar desse mundo, só não o encontrei ainda.— Eu não...— Você não acredita nessa possibilidade, te entendo, não existe nenhum casal que seja destinado em nossa matilha para provar que isso é real... mas eu sinto! Juro que sinto!— Acredito em você!— Mesmo?— Claro lobinha e acho que temos pouco tempo para encontrá-lo, antes que seu pai te force ao matrimônio com o Andrei.Bufo e olho para a lua, inconformada em como o destino pode ser tão ordinário dessa forma. Meus pais puniram a xamã de nossa aldeia por ter me contado histórias antigas, sobre os destinados e como eram raros os que conseguiam de encontrar nesse mundo enorme. Que em Lunaris não havia histórico de nenhum até o presente momento e foi nessa hora, que eu d
Com o novo pensamento veio um sentimento de plenitude.Vou acabar de uma vez por todas com essa rixa sem cabimento, escolher um parceiro é pessoal de cada um. Amar e não ser correspondido também é, e eu entendo o Alfa. Mas já durou gerações demais e sinto que está chegando o momento de finalmente ser aniquilada do nosso meio. Algo em meu íntimo me avisa de que vamos precisar juntar forças para algo muito poderoso e que pode nos destruir se lutarmos em frentes diferentes.Depende unicamente de nós.Amber e eu. — Aaron, o que acha de ... — Percebo que meu primo está petrificado ao meu lado, encarando um ponto do outro lado, no território dos Black. Ergo a mão e dou um leve cutucão em seu ombro, mas ele não reage e fico preocupada. Procurando qualquer ameaça nos arredores, sigo seu olhar e me deparo com duas formas vívidas encostadas no tronco das árvores. Os cabelos negros da mulher estão esvoaçantes, mas por algum motivo seu cheiro não chega até mim. Seus olhos são de um azul cristal
Seus olhos absorvem a imagem à sua frente e um sorriso deslumbrante nasce em seus lábios, fazendo com que Lyra, minha loba teimosa que tomou conta de tudo, se erice completamente. Meus olhos não o abandonam um segundo sequer e como se estivesse respondendo ao chamado invisível do meu animal, seu lobo toma a frente. Fico congelada no tempo, observando seus longos pelos brancos aparecerem, seu focinho se arrebitar e seu olhar cravar em mim com mais intensidade. Sentando-se sobre as patas, o grande lobo branco ergue a cabeça e uiva alto, forte e sou tomada pela necessidade de respondê-lo. Nossos uivos ressoam pela margem, o rio está como testemunha de algo que não consigo compreender e preenchida com uma força diferente, consigo recuperar o controle do meu corpo, enlouquecendo Lyra no processo e decidida, começo me movimentar levemente para trás. O lobo rosna enfurecido quando percebe que estou me afastando cada vez mais do nosso ponto de conexão, dá alguns passos para frente sendo imp
Ser filha do alfa da Matilha Black é carregar um nome que nunca me pertenceu de verdade. Desde pequena, fui moldada para liderar, representar e proteger. Mas ninguém nunca me perguntou se eu queria isso. Ninguém nunca me perguntou se eu queria... ser ela.Amber Black. Futura alfa. Loba de cento e cinquenta anos presa em um mundo onde cada escolha já foi feita por mim.A sala de reuniões da Casa Black era fria e silenciosa. Paredes de vidro escuro revelavam a floresta densa do lado de fora, enquanto dentro tudo era moderno e impecável: a longa mesa retangular, as cadeiras de couro alinhadas, a tecnologia de última geração. Nenhum símbolo antigo. Nenhum resquício de mitos. Apenas estratégias, ordens e decisões.Estavam todos ali.Meu pai, sentado à cabeceira, com sua postura firme de comandante e o olhar calculista de quem carrega o peso de gerações. Minha mãe, sentada ao lado dele, elegante e silenciosa como sempre. Meu tio Dorian, o braço direito do meu pai e conselheiro da matilha. E
Jace não esperou outra palavra. Tocou levemente meu ombro e me guiou para fora da sala de reuniões. O ar frio da floresta nos envolveu assim que cruzamos a porta de vidro. A noite estava silenciosa, mas o peso da conversa ainda pulsava entre nós.Caminhamos lado a lado até o deque de madeira que se estendia sobre o penhasco. Lá de cima, dava para ver a floresta escura se estendendo até onde a vista alcançava, e o som distante de um rio cortava o silêncio como um sussurro antigo."Não importa o que eles digam lá dentro," Nyx murmurou, "só se lembre: Você é feita para liderar, sim... mas nos seus próprios termos.”Jace se recostou na grade e me olhou.— Você está bem?— Não — respondi, finalmente deixando o controle escorregar da minha voz. — Eu tô cansada de sentir que sou uma peça num tabuleiro, Jace. Como se tudo já estivesse escrito, como se eu fosse só... uma ferramenta.Ele me olhou com calma, sem pressa de responder. Como só ele sabia fazer.— Você é mais do que isso, Amber. Semp
Revirei os olhos — ou ao menos, fiz o equivalente canino disso — e me levantei. Eu sabia que ele estava certo. A paz tinha prazo. E já havia acabado.Corríamos lado a lado quando Jace parou abruptamente, o corpo tenso, orelhas erguidas.“Você ouviu isso?” ele perguntou por pensamento.“Ouvi... caiu na água. Perto da cachoeira.”A tensão tomou conta de mim imediatamente. A cachoeira era a fronteira natural entre os nossos territórios — o último limite da matilha Black. Cruzá-la era mais do que imprudente: era violação. A paz frágil entre as alcateias dependia de cada centímetro respeitado."Alerta, Amber." A voz de Nyx soou dentro de mim, firme, mas serena. "Isso pode ser só uma distração... ou o começo de algo maior."“Vamos ver o que é”, disse ele. “Mas com cuidado.”Nos aproximamos silenciosamente, as patas afundando suavemente na vegetação molhada, até os primeiros respingos da queda d’água atingirem nossos pelos. Ali, protegidos entre as árvores, nos olhamos.“Vamos mudar”, sussur
Mas ele apenas sorriu de canto, como se soubesse de algo que eu não sabia.E então… virou-se e desapareceu entre as árvores, sumindo pela floresta como se nunca tivesse estado ali.Foi como se alguém tivesse arrancado o chão debaixo das minhas patas. O elo que me puxava com tanta força se rompeu subitamente, e o vazio que ficou foi quase doloroso. Minhas pernas fraquejaram. Dei um passo para trás, arfando alto.Voltei a mim como quem desperta de um sonho intenso demais. O mundo voltou com violência. O cheiro da floresta, o som da água da cachoeira, a presença de Jace logo atrás de mim.Fiquei ali, parada, olhando para o ponto onde ele sumiu, sentindo o eco de algo que não fazia sentido..., mas que me marcaria para sempre.“Quem... quem era ele?” perguntei, mais para mim do que para Jace.Fiquei parada ali por longos segundos, observando o ponto exato onde ele desapareceu entre as árvores. O coração ainda batia como tambores antigos, e meu lobo rosnava baixinho dentro de mim, frustrado
Alfa: É o desígnio do filho primogênito do atual alfa, podendo ser menino ou menina.Conselho Alpha: Grupo dos lobos líderes, que participa de reuniões importantes para melhorar o futuro da matilha.Beta: Braço direito da futura Alfa Ômegas: Membros da família real da matilha, como irmãos do alfa, primos e demais participantes. Gamas: Membros da matilha, podendo ser machos ou fêmeas. Guardiões: Guardas da Matilha e das fronteiras.Vareth: O elo que uni as almas destinadas a ficarem juntas. Lua de Sangue: Acontece apenas quando um novo alfa está pronto para se tornar líder.Monte Lunar: Zona neutra onde é realizada coroações e casamentos de todas matilhas de Lunaris. Acasalamento: Quando dois parceiros finalmente se aceitam de corpo e alma, marcando um ao outro para sempre. Ciclo de Calor: Período intenso que acomete as fêmeas que só passa quando se relacionam com seus parceiros. Caso não ocorra, torna-se insuportável, causando muito sofrimento para ambos. Podem durar até 7 dias.