— Como você pôde mexer nas minhas coisas sem permissão? — Olívia ficou aflita, evitando responder diretamente à pergunta do tio e desviando o assunto: — Já tenho dezoito anos, você não pode entrar no meu quarto e mexer nas minhas coisas sem permissão.
Sérgio, tomado pela raiva, atirou o cinzeiro da mesa no chão: — Isso é o que importa agora?!
— Paf! — O cinzeiro estilhaçou no chão, emitindo um som surdo que fez Olívia estremecer.
— Olívia, você entendeu mal o seu tio. — Beatriz interveio, tentando acalmar a situação com falsa simpatia: — Ele não entrou no seu quarto, fui eu que precisei de roupas limpas, já que as de ontem estavam sujas por causa dele...
Ela corou, demonstrando alguma timidez, e depois de uma pausa continuou: — Eu realmente não tinha roupa para vestir e entrei no seu quarto procurando alguma peça antiga sua, mas acabei encontrando o diagnóstico de câncer na sua escrivaninha.
Ela claramente estava mentindo.
Porque no primeiro dia em que recebeu o laudo, Olívia o trancou cuidadosamente.
E na descrição de Beatriz, parecia que Olívia havia deixado o laudo propositalmente à vista, esperando que eles o descobrissem...
— Olívia, você é tão jovem, como pode ter câncer? — Beatriz colocou a mão no peito, com uma expressão triste e bela: — Diga a verdade para sua tia, esse laudo é verdadeiro ou é uma brincadeira sua?
Olívia virou-se para Sérgio e só então percebeu que nos olhos do tio, a raiva superava a preocupação.
Certamente, antes de ela voltar para casa, Beatriz já havia falado muito, então o tio não acreditava que ela estava doente, mas sim que estava fingindo para chamar a atenção dele.
Olívia pensou que isso era bom, pelo menos seu segredo não seria descoberto.
— É uma brincadeira. — Ela disse suavemente: — Eu estava brincando com uma amiga, não esperava que vocês fossem descobr...
Antes que Olívia pudesse terminar, Sérgio, que estava sentado no sofá com uma expressão sombria, levantou-se de repente: — Vamos ao hospital fazer um exame agora mesmo.
Se era uma brincadeira, o hospital confirmaria.
— Tio... — Olívia não queria ir, resistindo debilmente.
O olhar frio de Sérgio a atingiu, e apenas um olhar foi suficiente para Olívia desistir.
Ela conhecia Sérgio, então sabia que, hoje, o exame era inevitável.
Quando chegaram ao hospital, já passava da meia-noite; normalmente, neste horário, apenas a emergência estaria funcionando. Mas Sérgio havia ligado para o diretor do hospital antes de chegar, e o diretor, temendo desagradá-lo, convocou um médico para realizar um exame completo em Olívia.
O exame de câncer levaria pelo menos duas horas para sair o resultado.
Essas duas horas, cada minuto e segundo, foram um tormento para Olívia.
Ela não conseguia parar de pensar: se o tio soubesse que ela estava prestes a morrer, ele ficaria triste por ela?
Ou talvez, para ele, ela fosse apenas um fardo, com seu temperamento difícil e inveja, do qual ele já queria se livrar há muito tempo.
Não sabia quanto tempo havia passado quando, finalmente, o tormento chegou ao fim e o médico apareceu com o laudo nas mãos.
— Sr. Neves, os resultados dos exames saíram, e a Srta. Soares está em perfeita saúde, sem qualquer sinal de câncer.
Olívia nunca poderia imaginar que, após tanto sofrimento, receberia um resultado assim.
Ela virou-se bruscamente para Beatriz, sabendo bem que aquilo era obra de suas intrigas.
— Que bom. — Beatriz soltou um longo suspiro, aparentando alívio: — Foi apenas uma brincadeira, Olívia está bem... finalmente podemos ficar tranquilos, eu e Sérgio.
Sérgio permaneceu em silêncio, olhando profundamente para Olívia, e de repente percebeu que seu rosto estava assustadoramente pálido, quase sem cor.
A rosa que ele havia cuidado com tanto carinho parecia estar lentamente murchando.