— Você vendeu a Pedra Lunar Abissal?

Derek entrou em casa sob a chuva, com um estojo de joias na mão. As gotas escorriam dos cabelos e deixavam marcas molhadas no tapete caro.

— Por quê? Eu comprei aquilo especialmente para você!

— Aquela pedra pode amplificar sua energia de Luna! — A voz dele transbordava incredulidade.

Olhei para ele com calma:

— Porque eu não preciso dela.

— Katherine — O tom dele carregava a autoridade de um Alfa —, por que se livrou da pedra?

— Doei todo o valor para o fundo de apoio a lobisomens renegados. — Minha voz saiu baixa. — Em anonimato.

— Aqueles que foram abandonados precisam mais do que eu.

Derek ficou parado, atônito.

Abriu o estojo. A pedra ainda estava lá, repousando sob a luz, emanando um brilho azul profundo.

— Consegui recuperar essa com o leilão. — Se aproximou, segurou minha mão. — Ela é sua. Sempre foi.

Com delicadeza, recolocou o colar em meu pescoço.

A pedra voltou a tocar minha clavícula.

Mas agora estava fria como aço. Como se queimasse de tão gélida.

— Katherine, você tem estado estranha. — Ele me encarou. — Me diga, o que está acontecendo?

Não resisti ao toque. Deixei que ele fizesse o que quisesse comigo:

— Nada demais. Só pensei que dinheiro podia servir a algo mais útil.

Nesse momento, o celular dele tocou.

Era um dos Betas auxiliares.

— Alfa, vai vir pro encontro hoje? A galera do núcleo tá toda aqui! — A voz do outro lado vinha com o som de música e conversa alta.

Derek pareceu prestes a recusar, mas fui eu quem falou:

— Você devia ir. É bom manter o contato com eles.

Ele me olhou, surpreso:

— Tem certeza?

— Tenho. — Sorri. — Faz tempo que não os vejo.

Uma hora depois, estávamos sentados na sala reservada do restaurante mais exclusivo da cidade.

Os três Betas de confiança de Derek, além de alguns membros do núcleo da alcateia, já estavam no local. A mesa transbordava de pratos sofisticados e vinhos raros.

Como em toda reunião, Derek se mostrava absurdamente atencioso comigo e naquela noite não foi diferente.

— Ninguém se transforme na frente da Katherine — Ordenou Derek, sério. — Ela não gosta desse lado selvagem.

— E nada de conversas sobre disputas de território ou sangue. Hoje o clima é leve — Acrescentou, com um sorriso.

Durante todo o jantar, ele se dedicou a me servir com uma precisão quase ritual: cortava minha carne, descascava camarões, enchia minha taça.

Cada gesto era executado com uma atenção absoluta.

— A Katherine prefere o filé ao ponto.

— Ela não come nada apimentado, mas adora doces.

— Eu sei de cada costume dela. Cada gosto. Cada detalhe.

Os Betas se entreolhavam, sempre impressionados com aquele zelo todo.

— Alfa, você trata sua Luna como uma rainha — Comentou um dos Betas. — Isso emociona qualquer um.

— É o mínimo — Respondeu Derek, com firmeza. — A Katherine é o tesouro mais precioso da minha vida. Ela merece toda minha delicadeza.

Virou-se para mim, os olhos tão doces que pareciam líquidos:

— Não é mesmo, minha lua?

Assenti levemente, exibindo um sorriso perfeito:

— Derek sempre foi maravilhoso comigo. Nunca me decepcionou.

O ambiente explodiu em exclamações.

— Alfa, você é o exemplo pra todos os lobos da alcateia!

— Agora entendo por que a Luna te ama tanto! Olha esse casal!

— Isso sim é um vínculo abençoado pela Deusa! Temos muito o que aprender!

Derek, radiante com os elogios, me puxou mais para perto e passou o braço pelos meus ombros:

— A Katherine merece tudo de melhor.

— Ser o Alfa dela é meu maior orgulho.

E então, diante de todos, declarou:

— Não existe ninguém neste mundo mais importante que Katherine.

— Ela é o meu tudo.

Aplausos e brindes preencheram o salão reservado.

As taças se ergueram em uníssono:

— Que o Alfa e a Luna sejam felizes para sempre!

— Feitos um para o outro!

— Um casal divino!

Levantei minha taça e brindei com Derek. O vinho brilhou sob a luz, como o brilho falso da devoção nos olhos dele.

Se eu ainda vivesse na ilusão, talvez me sentisse tocada por tanta dedicação.

Mas agora, só conseguia sentir nojo.